Espelhos (clique)

Por: José Carlos Sebe Bom Meihy


Mestre José Carlos Sebe, um peregrino da cultura, quem diria, rendeu-se a lembranças que o tempo não consegue apagar. Depois de mais um périplo internacional, ao ver fotos de amigos e amigas que, alegres, comemoravam o aniversário de uma jovem matriarca, ele quase deixa de lado o rigor conceitual de seus trabalhos. Haja coração.

Escrever crônicas é sempre um risco. Ainda que o gênero agrade a muitos, para o autor, além da requerida originalidade, não há como desviar a atenção de detalhes reveladores da vida pessoal. Foi assim que ocorreu com esta página. De volta para casa depois de longa viagem, como de costume, restava uma montanha de coisas para fazer. O cuidado com a correspondência é uma das obrigações mais complicadas para quem vive só e, tem que separar contas, propagandas, cartas e papéis acumulados para leitura.
Tomo especial cuidado com revistas e jornais. Deixo para o final os noticiários, pois não gosto de ficar sem saber o que se passou durante minha ausência. Sou dos poucos que lêem reportagens envelhecidas. Mania insana. Foi assim que ordenei minha leitura dos números do nosso “Contato”. Aliás, como tinha sete números acumulados, foi meu derradeiro empreendimento. E o fiz com o prazer de quem aprendeu a ver do Rio de Janeiro os acontecimentos registrados pelo “jornal do Paulo de Tarso”. Confesso que desta vez tive algumas surpresas mais saborosas: uma entrevista muito interessante sobre a construção da Igreja de Santa Terezinha; a história da santista “Miss Taubaté”; a homenagem simpática do Marmo ao querido professor Cesídio Ambrogi; o caso da revista grega surrupiada pela Beti Cruz, e, claro, as querelas políticas locais salpicadas de picardia.
O número 263, de 31 de março, contudo, me pegou de jeito. A página central do jornal foi toda dedicada ao aniversário de Isa Márcia que comemorava seus 60 (inacreditáveis) anos. Viajei. As 35 fotos que ilustravam a cores o evento me transformaram em um misto de criança curiosa e detetive decifrador do tempo. Entendi melhor Proust. Foi comovente ver o rosto de figuras sem as quais minha história seria outra. Quanta saudade de todos. E como foi bom ver amigos sorrindo, em uma festa. Quisera ter ido.
Frente às fotos, analisando-as meticulosamente, com esmero e carinho, confirmei uma teoria desenvolvida e aplicada à minha geração de colegas: as mulheres ficaram muito, mas muito mesmo, mais bonitas que os homens que envelheceram sem recursos facilitadores do visual. Vendo a Miriam e a Lise, a Ruth e a Eliane, a Liginha, Beatriz e Heloisa, a Cristina, mal acreditei. O tempo não passou para elas? Olhem bem para Ana Gatti e digam se estou errado. Foi só para nós homens que o pretérito se fez presente?
Mas devo confessar que foi simpático ver o Tipiti transformado em senhor, o “goleiro Henrique” com cara de empresário, o Ivã Negrão como cidadão respeitabilíssimo. E o Gerson com cabelos brancos?! O Melin maduro ficou mais simpático e o caro Edmauro mudou tanto que se não fosse a legenda eu não o reconheceria. Nem faltou o Djalminha que sendo meu ex-aluno provou que os jovens também chegam lá. É engraçado que alguns companheiros que vejo sempre não chocaram tanto, pois a vista constante atenuou a alteração brusca, e, assim, o Paulo de Tarso, o Pedro Nelson não me causaram espécie.
Um dos lances deliciosos deste flagrante foi conferir as histórias pessoais. Os casamentos que se fizeram, os outros que se inventaram e as certezas de que todos lutam por um lugar amoroso, terno e capaz de fazer rir as trapaças do destino. E tudo reunido para a celebração da Isa Márcia... De toda forma, ainda que atrasado, deixo meu abraço a ela e desejo muitos mais anos de vida e de festas.
Tenham certeza de que se eu não for, pelo menos quero ler a notícia e ver as fotos. Esse apagar de velinhas acendeu outras em meu coração. E ouço um pouco o barulho do passado taubateano.

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