Prefeito Roberto Peixoto (PSDB) foi colocado de escanteio pelos próprios correligionários tucanos. A visita de José Serra a Taubaté mostrou que os ânimos estão bem exacerbados. Até quando Peixoto resistirá às bicadas companheiras?

Por Jorge Fernandes

A crise interna envolvendo a cúpula do PSDB municipal e o prefeito tucano Roberto Peixoto saiu do armário. Semana passada, o diretório municipal do PSDB distribuiu um boletim sobre “as pessoas em quem confiamos” e não fez qualquer referência ao atual chefe do Executivo local, Roberto Peixoto. Em quatro páginas, a publicação ignorou o governo Peixoto jogando mais combustível ao processo de expulsão do prefeito do partido tucano.
“Existe um racha natural entre Peixoto e Ortiz”, comentou o vereador Carlos Peixoto (PSC). Líder do governo na Câmara Municipal e sobrinho do prefeito, o vereador falou o que todos sabem, mas só comentam pelos cantos. O parlamentar, embora sendo de outro partido, afirmou ser eleitor do PSDB. Para ele, o fruto da discórdia entre o ex-prefeito e o atual é eleição municipal de 2008. “Tanto Bernardo Ortiz quanto Ortiz Júnior serão adversários políticos de Peixoto na próxima eleição”. Resta saber se o vereador Carlos Peixoto manterá o voto tucano em 2008, caso Roberto Peixoto seja afastado da legenda.
O boletim não causou maiores estragos entre os vereadores tucanos que estão afinados ao partido dirigido por Ortiz Júnior. Para Orestes Vanone, ex-presidente da Câmara, que admite o “processo litigioso” entre Bernardo Ortiz e Roberto Peixoto, a publicação enfraqueceu “um pouco o partido”. Para o vereador Ângelo Filippini, a imagem da legenda não saiu arranhada. A vereadora neo-tucana Maria Gorete, tal qual Peixoto, não foi sequer citada no boletim. Nesse caso existe uma explicação. Segundo a parlamentar, no momento em que o material foi confeccionado, ela estava sem partido.
Ortiz Júnior, presidente do diretório municipal, fez outra avaliação. A intenção do boletim foi ressaltar e valorizar as realizações de membros importantes “que sempre foram do partido”. Segundo ele, o prefeito Roberto Peixoto está no PSDB, mas “não é PSDB”. “Ele [Peixoto] já passou por cerca de seis legendas”, completou. Questão semântica ao largo, o boletim foi um prato cheio ao vereador petista Jeferson Campos. “Fogo amigo não é só no PT. Mostrou que o PSDB [também] está dividido”.


Serra é conhecido como político de esquerda. As posições do atual e do ex-prefeito, na foto, seriam ou não apenas coincidências?

Outro lado

O prefeito Roberto Peixoto, até o fechamento desta edição, na quinta-feira, 25, não respondeu às perguntas que exigiu que fossem enviadas por email. Sua assessoria apenas informou que o prefeito Roberto Peixoto foi convidado pelo diretório estadual do PSDB para participar da visita de José Serra, candidato tucano ao governo de São Paulo, a Taubaté.

Visita do candidato a governador

Na quinta-feira, 25, José Serra fez o chamado corpo-a-corpo em Taubaté para medir de perto o termômetro político local. Na Praça Dom Epaminondas, região central da cidade, Serra conversou com munícipes, beijou crianças, abraçou quem passou por perto, tomou cafezinho com correligionários e não recusou pastelzinho.
Segundo o Diretório Municipal, o objetivo da viagem foi para estreitar o relacionamento com lideranças locais. Portanto, Roberto Peixoto, Antônio Mário e Bernardo Ortiz, Lúcio Varejão, por exemplo, presentes no evento, representavam essas lideranças.
Cotoveladas à parte, foi visível a preferência de Serra pela companhia de Bernardo Ortiz. Em todas as fotos posadas, o candidato a governador fez questão da companhia do ex-prefeito. Nem a presença das autoridades municipais que fizeram questão de acompanhar o chefe Roberto Peixoto alterou a postura de Serra. Não houve nocaute. Mas que esse round foi vencido por pontos por Bernardo, isso foi. Uma indicação explícita de como será a campanha para reeleição ou sucessão de Roberto Peixoto, iniciada precocemente em 2005.

Serra não quis entrar na bola dividida entre os tucanos de Taubaté. Questionado, preferiu uma resposta política: “Eu não vou me manifestar sobre isso. Eu vim aqui fazer campanha junto com todos”. Quem gostou da resposta foi o prefeito Roberto Peixoto que sofre processo de expulsão movido pelo diretório tucano municipal. “Muito bem”, comentou o prefeito sobre a resposta de Serra. Confira os melhores momentos da entrevista com José Serra.

Acredita que seu índice de intenção de voto ficará mantido até o final?
José Serra –
Pesquisa é uma fotografia. A gente tem que batalhar para que ela seja um filme até os dias da eleição. Mas não tem campanha fácil, nem pesquisa que resolva. O que resolve é o voto na urna. O que me anima, além dos resultados bons, é a baixa rejeição também. Isso é positivo, mas funciona mais como estímulo do que como qualquer coisa.

Como resolver o problema do crime organizado em São Paulo
Serra –
A médio e longo prazos, o mais importante para São Paulo e para o Brasil é educação. Vou dar ênfase enorme à educação. Entre outras coisas, vamos fazer com que o primeiro ano do ensino fundamental tenha dois professores por sala, para reforçar a alfabetização dos alunos. E, na quarta-série, vamos ter aulas de reforço aos alunos que chegarem menos capacitados. Vamos dar ênfase também ao ensino técnico profissional e aos colégios de aplicação. No curto prazo, o importante é a saúde e a segurança. A segurança é, sem dúvida, extremamente relevante porque angustia bastante os paulistas, especialmente nas últimas semanas. Agora, é muito importante entender que a culpa dessa situação não pode ser atribuída a nenhuma entidade isoladamente. É uma responsabilidade coletiva. Temos que fazer um esforço para não jogar problemas no colo dos outros porque isso só favorece o crime organizado. Temos que juntar forças. O governo federal, por exemplo, fez muito pouco ou nada em São Paulo, inclusive em relação ao que tinha prometido na área da segurança. Mas, em vez de ficar cobrando, eu prefiro que agora ele [Lula] faça. Uma questão básica: celulares. Com uma medida provisória, o presidente da república poderia afastar a possibilidade técnica de utilização de celulares em presídios. Depende [apenas] de uma medida provisória. A OAB, por sua vez, tem que cassar a licença desses advogados bandidos com mais rapidez. A justiça tem que andar mais depressa nas questões de internações em regimes especiais de presos. Marcola estava em presídios comuns. Desde janeiro a Secretaria de Segurança queria que fosse para um regime especial e a justiça não resolvia isso. Enfim, é uma ação que tem que ser de todos.

O senhor, caso seja eleito, vai construir uma unidade em Tremembé?
Serra –
Vamos examinar. A Febem tem que ser construída em algum lugar. Infelizmente, não há, no estado de São Paulo, um território que não esteja em um município. Tem que fazer criteriosamente em algum lugar.

A crise na segurança poderia afetar sua campanha?
Serra –
A pesquisa mostra que a população atribui até uma maior responsabilidade ao [presidente] Lula. Mas eu não fico contente com isso. Não estou interessado em culpar Lula, Judiciário, governo estadual. Estou interessado em ter uma frente única contra o crime organizado.

Qual sua posição sobre a divergência do PSDB em Taubaté?
Serra –
Eu não vou me manifestar sobre isso. Eu vim aqui fazer campanha junto com todos.

Qual mensagem o senhor deixa para Taubaté?
Serra –
Uma mensagem de otimismo. Taubaté é um município que se desenvolveu bastante, com contribuição para São Paulo e para o Brasil. Estamos diante de uma catedral, há pouco o Ortiz me dizia, de 206 anos. Isso mostra o peso histórico de Taubaté, um município que não estagnou e não ficou vivendo da história. Vive do presente e a gente tem que ajudar a desenvolver. Na saúde houve um avanço grande com a estadualização do Hospital Santa Isabel das Clínicas. Mas ainda tem que se fazer mais avanços nessa área. Precisa de mais de ensino técnico e atendimento de retaguarda na saúde.

 

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Jornal CONTATO 2006