Entrevistas exclusivas com líderes do PCC feitas pela Band e Record deixam de ser manchetes para virar pauta dos cadernos policiais. Seriam as fontes elas mesmas? E se forem, estariam os jornalistas fazendo apologia ou glamourizando o crime?


Roberto Cabrini quase viveu seu melhor momento de Roberto Cabrini, na Band. Na sexta-feira, 19, durante o Jornal da Noite ele apresentou "Entrevista exclusiva com o líder do Primeiro Comando da Capital" (Veja Box - Alô, Marcola). Dos habituais 2 pontos no Ibope, Cabrini saltou aos 5. E virou notícia no dia seguinte, como manda o figurino em dia de furo. Só que nesse caso, notícia ruim.
O governador Cláudio Lembo, ao vivo, declarou: “É uma entrevista absolutamente irreal (...) eventualmente houve um equívoco na captação dessa voz (...) É claro que Marcola está incomunicável".
A reação foi imediata. Além de darem eco à entrevista de Lembo, a maioria dos portais de hardnews optou por tirar a entrevista do ar. "Nós tiramos a nota porque a Band não se pronunciou e não atestou que era verdade (...) até hoje (23 de maio)", explica Cleide Carvalho, coordenadora de conteúdo do portal Globo.com, em São Paulo. "O importante daquela entrevista não era o que o Marcola estava dizendo, mas o fato dele estar usando um celular dentro da penitenciária", completa.
A ausência da entrevista durante o "Jornal Nacional" daquela noite foi a senha para a repercussão dos jornalões no dia seguinte. "Verdade ou armação?", manchetou o caderno de polícia do Jornal da Tarde. E relembrou o caso "Gugu Liberato", condenado a pagar multa de R$ 750 mil por exibir uma falsa entrevista com supostos líderes do PCC, em 2003.
Sob suspeita e diante da hesitação da Band em partir em sua defesa, Cabrini se recolheu. Procurou evitar os jornalistas. Depois de alguma insistência, acabou falando. "Na pior das hipóteses... se não for o Marcola, é um porta voz designado por ele para falar. Não tenho a menor dúvida que é uma liderança do PCC. Isso é inquestionável", disse, para CONTATO.
Tradução? É bem possível que a "voz" em questão não seja a de Marcola. Nas redações concorrentes é praticamente um consenso que o furo não passou de uma barriga. Cabrini promete para breve uma reportagem definitiva sobre o assunto. "Pode esperar, você vai ver...". E desabafa. "O PCC tem um sofisticado sistema de comunicação. Ele (Marcola) é um dos poucos que não precisa se identificar. Tenho cinco testemunhas que reconheceram a voz dele".
As primeiras de fontes de Cabrini, no PCC, datam dos primórdios da facção criminosa, em Taubaté, anos 90. Foi durante a cobertura de uma rebelião no presídio local que o jornalista conheceu uma advogada da organização, que viria a ser assassinada anos mais tarde. Foi ela quem lhe ensinou o caminho das pedras. A versão completa você confere na próxima edição da revista IMPRENSA


Confira os melhores momentos da polêmica entrevista de Roberto Cabrini com Marcola


Roberto Cabrini – Por que o PCC decidiu fazer os ataques?
"Marcola" –
Bom, a gente decidiu porque, por meios legais, fizemos vários apelos pela Constituição e pela lei que nos ampara de ter advogados e os direitos que reza a lei para o preso. Eles tomaram a iniciativa de remover e feriram toda essa lei, numa decisão arbitrária (...) Foi aí que resolvemos chamar atenção por essa forma.

Cabrini - Os ataques começaram na sexta feira. Quando eles foram decididos?
Marcola –
Foi decidido na própria sexta feira. Tentamos resolver de forma legal, mas deram as costas. Eles sabiam que, se fizessem remoção, mexeriam na ferida. Sem os ataques não seríamos ouvidos.

Cabrini – O que pode acontecer se as autoridades subestimarem o poder do crime organizado?
Marcola -
Não sei. Só sei que estamos preparados para muito mais. Estamos procurando meios de resolver a situação , mas eles não estão querendo, estão agindo de forma virtual, declarando guerra. (...). As duas partes tem poder fogo.

Cabrini – O que fez os ataques cessarem?
Marcola –
Causou o efeito que era necessário. Usamos os ataques para chamar a atenção.

Cabrini – Houve acordo com as autoridades para parar com os ataques?
Marola –
Da minha parte não.

(Veja entrevista na íntegra no site www.portalimprensa.com.br)

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Jornal CONTATO 2006