Bate-boca de Bernardo Ortiz com Roberto Peixoto ao vivo pela Band revela que as vaidades podem estar acima dos interesses e necessidades dos munícipes. De um lado, o ex-prefeito que não consegue digerir seu sucessor, eleito graças ao seu apoio. Do outro, um vaidoso e deslumbrado prefeito que não sabe o que fazer para rejuvenescer: peruca, botox e até cirurgia para lipoaspiração.

Por Paulo de Tarso Venceslau

CONTATO perdeu o furo por fração de minuto. Assim que a edição anterior foi fechada chegou a grande notícia: o bate-boca ao vivo protagonizado pelo ex-prefeito Bernardo Ortiz com o prefeito Roberto Peixoto, na sala de espera da TV Band, no Taubaté Shopping.
O episódio deu o que falar. Foi o assunto obrigatório de todas as rodas com mais de duas pessoas. O pequeno trecho exibido pela Band, porém, não continha todos os elementos que envolveram aquele affair político. Mesmo assim, foi suficiente para que a senhora Cristiana Mercadante Esper Berthoud, esposa do diretor de Segurança Pública Municipal de Taubaté, enviasse uma carta que foi publicada pelo Valeparaibano, no sábado, 27.
A prefeitura não respondeu a nossas ligações. Mesmo assim conseguimos apurar o que ocorreu nos bastidores daquela inesquecível visita do candidato tucano ao governo do estado. Curiosamente, todos os envolvidos possuem carteirinha do PSDB.

A visita

Desde que foi anunciada a disposição de Serra de se lançar no corpo-a-corpo político em Taubaté, começaram as manobras para ver quem assumiria o comando local. Traduzindo. Quem apareceria mais como papagaio de pirata ao lado do, hoje, líder inconteste nas pesquisas feitas por todos os institutos que trabalham nessa área. Na verdade, diferentemente do PT, o PSDB em Taubaté possui apenas duas correntes. Uma, alinhada com ex-prefeito, controla o diretório municipal do partido e mantém vínculos estreitos com as direções tucanas estadual e nacional. Outra, formada por assessores diretos do prefeito Roberto Peixoto, não tem espaço e nem história partidária e se apóia em um outro tucano sem bico: Lúcio Varejão, ex-prefeito de Tremembé.
O motivo da visita seria o contato mais direto de Serra com lideranças políticas locais e regionais. O candidato tucano, porém, exigiu que Bernardo Ortiz, presidente da estatal CODASP, não só estivesse presente, mas que também participasse diretamente da organização das diversas partes do evento. Peixoto estava com seu lugar garantido nos eventos mas não necessariamente para sugerir o que fazer. Pelo menos foi isso que nossa reportagem apurou junto às mais diferentes lideranças tucanas.

O bate-boca

Um pouco antes do início da entrevista ao vivo, José Serra reuniu-se com as principais lideranças que o acompanhavam: Bernardo Ortiz, Ortiz Júnior, Evandro Lossacco (secretário geral), Sidney Beraldo (presidente), Marco Aurélio Bertaiolli (vice-prefeito de Mogi das Cruzes e candidato a deputado estadual pelo PFL) e Roberto Peixoto. Este último, um verdadeiro estranho no ninho tucano (ver edição 271). A Band registrava a conversa para introduzir pequenas chamadas durante o programa que estava no ar.
Lá pelas tantas, Serra pergunta a Bernardo Ortiz qual seria o tema mais importante a ser abordado em Taubaté. Ortiz conta que a saúde não estava na ordem do dia desde que começaram a aparecer os primeiros resultados depois da regionalização do HOSIC. Para Ortiz, o próximo passo seria cuidar do Hospital Universitário. Serra pergunta como estava a segurança pública. O ex-prefeito inicia, então, a relatar suas realizações: informatização do 190, doação de viaturas etc.
Roberto Peixoto aproveita a oportunidade para entrar na conversa e relata que acabara de entregar 2 companhias para a Polícia Militar que ele, Peixoto havia construído. A reação de Ortriz foi imediata. Levanta-se e de dedo em riste apontado para Peixoto chama o prefeito de mentiroso, acusa-o de chupim e sanguessuga por ter encontrado o prédio já construído e de ter apenas mobiliado as instalações. “É verdade isso que estou dizendo. Deixa de ser sanguessuga”, conclui Bernardo nas cenas exibidas pela Band.
A turma do deixa-disso entra em cena e acalma a situação devidamente documentada e editada pela Band. Ao descer para a entrevista ao vivo, José Serra faz questão de convidar o ex-prefeito, juntamente com o deputado Ricardo Trípoli, líder do PSDB na Assembléia Legislativa e candidato a deputado federal com o apoio ostensivo da direção partidária. O boletim do diretório municipal tucano, recentemente distribuído em Taubaté, exibe esse apoio com fotos da dobradinha Fabiano Vanone e Trípoli.

As vaidades

Esse episódio teve desdobramentos menores na praça Dom Epaminondas. Porém, ficaram restritos ao prefeito Roberto Peixoto e a Fabiano Vanone, candidato a deputado estadual com apoio do clã Ortiz. Peixoto chegou a ameaçar o jovem Vanone afirmando que não seria eleito porque ele, Peixoto não deixaria.
Baixarias à parte, a visita de Serra contribuiu para que as faces menos visíveis das duas lideranças mais visíveis em Taubaté aflorassem de forma cristalina.
Bernardo Ortiz, três vezes eleito prefeito, ficou famoso por não admitir que os seus sucessores, indicados por ele mesmo, fizessem a menor sombra à sua liderança. Rompeu com todos eles. E a palavra Iscariotes foi escolhida pelo criador para carimbar suas criaturas: Salvador Khuriyeh, Antônio Mário e agora Roberto Peixoto. Nem é preciso apelar a Freud para explicar esses rompantes de vaidades que muitos taubateanos entendem tratar-se de virtude.
Roberto Peixoto é um caso mais emblemático. Sua vaidade explícita antecede sua ascensão ao Palácio Bom Conselho. Bastou nossos repórteres cotejarem duas fotos para constatar que o poder rejuvenesce, o que o coloca na contra-mão da história recente de duas importantes lideranças nacionais: FHC e Lula que envelheceram a olhos vistos.

 

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Jornal CONTATO 2006