Espelhos (clique)

Por: José Carlos Sebe Bom Meihy


Sebe fala sobre o livro “Augusto & Lea: um caso de (des)amor em tempos modernos”, que ele lançará pela Editora Contexto. O livro trata de um drama real em uma sociedade que registra que 71% das mulheres infectadas pelo HIV (Aids) contraíram o vírus dos seus maridos, noivos ou namorados. O autor aborda a tragédia ocorrida no seio de uma mesma família da elite paulistana cujos membros narram sua experiência em um drama que, embora mais comum do que pareça, é sempre silenciado.

Assim como o reconhecimento da maternidade não demanda ser mãe, nem o da paternidade ser pai; assim como para avaliar o peso do suicídio não precisamos nos matar e nem sequer queimar a mão para saber o que é o calor do fogo, acho que também é possível imaginar o significado de um livro para seus autores.
Um livro é um filho acalentado, gerado e gestado em significados que se multiplicam progressivamente e se perdem em explicações sempre provisórias. Mas sempre é conseqüência de amores fertilizados em utopias e necessidades de comunicação com o mundo. Mesmo sabendo que nada ou pouco vai mudar, ninguém escreve um livro pensando que o mundo continuará sendo o mesmo. Bendito fruto de menetes que se ascendem, os livros têm personalidade próprias que, rebeldes uns, fogem do projeto paterno e fazem caminhos próprios. E vale pensar em suas características desde as sementes.
Nelida Piñon não escreve sem estar arrumada como para uma festa e sequer dispensa perfume; Ignácio de Loyola Brandão só escreve completamente nu; Vinícius de Moraes não largava um “inspirador” copo de whisky; Vila Lobos só compunha com um havana “perfumando” e se inspirava na fumaça esvaída. Hemingway, em Key West, gostava de escrever com um gato no colo; Cecília Meireles preferia fazer seus poemas em casa, mas com a janela aberta; Mário de Andrade gostava de ouvir valsinhas e chorinhos brasileiros, principalmente de Ernesto Nazareth quando podia escrever na Rua Lopes Chaves, em São Paulo. Baudelaire materializava seus textos nos cafés parisienses, pela madrugada, bêbado. Depois de libertado, Nelson Mandela tranca-se à chave quando quer escrever.
Enfim, cada louco com sua mania e a certeza disto, de certa forma, me liberta para dizer que eu escrevo sempre com roupa velha, clara e sem sapatos. Dentro da modéstia que me convém, como aprendiz de escritor, de minhas idiossincrasias a mais importante é a dos sapatos. Sei lá se Freud pode explicar, mas penso melhor descalço e, melhor ainda, sem meias. Não que os sapatos ou meias apertem minhas idéias que evadem do extremo oposto de meu físico, mas, com certeza, liberam minha inspiração. E eu rio muito quando escrevo algumas coisas. Choro também. Aliás, choro mais do que rio.
Sinceramente, precisei deste preâmbulo para entrar no assunto desta crônica. Vou lançar dia 26 de junho um livro novo “Augusto e Lea: um caso de (des)amor em tempos modernos”. Convidado pela Editora Contexto, resolvi colocar neste livro muito mais do que dizem as modestas 176 páginas. Tem dois alvos o texto que foi acalentado com carinho insondável: o público que gosta de histórias intensas, doloridas e polêmicas, e aqueles que se interessam por saber como acontece um processo de pesquisa de um caso. As duas partes se completam, mas não há como deixar de lado o tal caso de (des)amor.
Trata-se da história de uma família da elite paulistana. O marido, filho de nordestinos que conseguiu vencer na estrutura familiar da esposa é um homossexual que se descobre tal tardiamente. Doente, a mulher reage motivada pela ira que arrebenta os elos familiares acomodados por impulsos históricos. E tudo se desfaz desde a descoberta da dramática situação. É um livro triste, sem dúvida. Mas real e realista em sua essência.
Decorrente de um fato verídico, o livro foi constituído por oito entrevistas – feitas em várias sessões – com os envolvidos. E, é para apadrinhar este filho novo que convido a todos para o lançamento que farei na Livraria Nobel, em Taubaté, no dia 26 de junho, segunda-feira, às 19h30. Escolhi Taubaté para começar a nova trajetória que, espero, seja coerente com os sonhos que acalentei sempre na cidade que me adotou como filho. Conto com sua presença. Até lá e boa leitura.

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