Explicações
iniciais
Antes de mais nada, vamos esclarecer o que vem a ser cabotino
para que nosso leitor entenda as palavras do ex-prefeito Bernardo
Ortiz. Trata-se de uma expressão muito usada em política
mas que há anos caiu em desuso. Segundo Houaiss, cabotino
significa um cômico ambulante ou, pejorativamente, um ator
ou comediante de categoria inferior. No sentido figurado, é
um indivíduo presunçoso, vaidoso, que se comporta
afetadamente ou tenta atrair sobre si as atenções,
e alardeia as qualidades que pretensa ou realmente possui.
O dicionário Michaellis é mais conciso. Trata-se
de cômico ambulante, mau comediante, aquele que procura
sempre fazer efeito e chamar sobre si a atenção
alheia e, finalmente, dissimulado, hipócrita, tartufo.
Deu para entender agora a opinião do ex-prefeito?
Aos fatos
Tudo
começou com uma pequena nota bem humorada da coluna Temperos
da Tia Anastácia que já estava redigida. Confira
a nota original:
“Óleo de peroba deve ser o produto mais consumido
na prefeitura. Exagero? Pergunte para Tia Anastácia sobre
o susto que levou quando fazia seu passeio diário no Parque
Monteiro Lobato que fica em frente à Ford, ao lado do Hospital
São Lucas. A velha senhora defrontou-se com uma placa onde
se lê:
“Pavilhão
Profª Luciana Flores Peixoto idealizadora e madrinha de todas
as crianças de Taubaté”.
Tia Anastácia ficou sem saber se havia
entendido o que estava escrito na placa. Ela jura que nunca soube
que a prefeita era idealizadora de todas as crianças de
Taubaté.” Ofendida, Tia Anastácia passou a
reportagem para seu sobrinho preferido que saiu a campo em busca
de informações que transformaram a nota em reportagem.
Breve
Histórico
Bastaram
alguns telefonemas e boa vontade de um leitor assíduo de
CONTATO para que a apimentada história viesse à
tona. Segundo o ex-prefeito Bernardo Ortiz, o Parque Monteiro
Lobato foi construído na segunda de suas três gestões.
Ao lado do Hospital São Lucas havia um terreno que o velho
Rechdan ou seus herdeiros teriam vendido para a imobiliária
São José. Quando a empresa apresentou seu ambicioso
projeto à prefeitura, em 1993, Bernardo exigiu que a mesma
doasse cerca de 100 mil metros quadrados à prefeitura.
Não deu outra. A imobiliária cedeu o terreno e Bernardo
inaugurou o Parque Monteiro Lobato em 1994. A placa inaugural
não faz qualquer referência pessoal. Apenas que foi
o povo de Taubaté quem construiu.
Posteriormente, em 1998, por ocasião do cinqüentenário
da morte do nosso escritor, as fundações Banco do
Brasil e Odebrecht decidiram construir uma sede permanente para
homenagear Monteiro Lobato. Taubaté, sua cidade natal,
foi escolhida para sediar “O Brasil Encantado de Monteiro
Lobato”.
A exposição fazia parte do Projeto Memória
idealizado pelas duas fundações para celebrar anualmente
“personalidades ou fatos históricos que marcaram
a vida nacional”, informa o Jornal da Cultura, de março
de 2000, publicado pela Área Cultural do departamento de
Educação, Cultura e Esporte. No dia 9 de abril de
2000, Antônio Mário inaugurou o pavilhão construído
com recursos dessas duas fundações.
Cacarejando sobre ovos alheios
Em de abril de 2005, por ocasião das comemorações
da semana Monteiro Lobato, o prefeito recém-empossado Roberto
Peixoto mandou dar uma demão de pintura no pavilhão,
recuperar alguns documentos e letras do alfabeto que precisavam
de manutenção. Essa informação foi
fornecida pela corintiana Rejane, uma jovem monitora que atende
muito bem os visitantes daquela exposição permanente.
Terminada a “obra”, eis que o prefeito, tal qual o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, decide reinaugurar
o Parque. Isso mesmo. O Parque Monteiro Lobato foi reinagurado
no dia 18 de abril de 2005. Parodiando recente frase de FHC sobre
Lula, em Taubaté, nosso prefeito “cacareja sobre
os ovos alheios”.
Para não deixar dúvida sobre sua responsabilidade,
Peixoto mandou afixar uma placa na parede ao lado da porta principal
do pavilhão. O leitor poderá conferir na foto o
que a está escrito na placa:
Reinauguração
do Parque Monteiro
Lobato 18 de abril de 2005
“Propiciar lazer, educação e cultura para
as
crianças é semear um mundo melhor”
Adm Eng Roberto Pereira Peixoto
Depto Ação Social Profª Luciana Flores Peixoto
Depto Educação Prof José Benedito Prado
Não satisfeito em inaugurar uma pronta e acabada obra construída
pelos governos que o antecederam, Roberto Peixoto decidiu dar
o nome de sua esposa e diretora do departamento de Ação
Social ao pavilhão inaugurado em 2000.
Na coluna “Temperos de Tia Anastácia” estava
escrito: Tia Anastácia tirou os óculos para conferir
a frase tão mal escrita onde a prefeita é idealizadora
de todas as crianças de Taubaté. Foi preciso muita
água com açúcar para acalmar a veneranda
senhora.
Repercussão
Consultado
sobre mais esse episódio, Bernardo Ortiz afirma que Peixoto
nunca poderia ter feito o que fez. “Só se a sua esposa
tivesse morrido há mais de 5 meses e através de
uma lei municipal”, dispara Bernardo que em seguida relata
todo o processo que antecedeu a construção do Parque
Monteiro Lobato..
Mais comedido, Antônio Mário afirma que desconhece
qualquer acordo para que as fundações banquem a
manutenção do prédio assim como desconhece
o paradeiro da exposição permanente montada pelos
artistas Elifas Andreato e J.C. Bruno como base nas criações
lobateanas dirigidas às crianças. Mas alfineta:
“É ridículo pegar uma obra feita e colocar
ilegalmente o nome de uma pessoa viva”. Pensa mais um pouco
e arremata: “O conteúdo de minha frase é:
sem comentário”.
Provavelmente o prefeito e seu séqüito de puxa-sacos
devem pensar que os munícipes são um bando de ignorantes
e iletrados. Afinal, na entrada do Parque Monteiro Lobato tem
uma placa velha, sem qualquer sinal de que tenha recebido alguma
manutenção nos últimos anos, que pode ser
conferida na foto abaixo, onde se lê:
PREFEITURA
MUNICIPAL DE TAUBATÉ
PARQUE MUNICIPAL
MONTEIRO LOBATO
O POVO DE TAUBATÉ CONSTRUIU
NO ANO 1994
Serviço |
Veja
o que diz a Lei Orgânica do Município na
Subseção VII, sobre Da Denominação,
Art.
67. É vedada a denominação de próprios,
vias e logradouros municipais com o nome de pessoas vivas.
Art.
68. É vedada a alteração de denominação
de via e logradouro público, exceto para restabelecer
denominação anterior.
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