Prezado Bussunda
Por
aqui os políticos continuam repetindo compulsivamente suas
mentiras, na tentativa de me fazer crer que são verdadeiras.
E o fazem com tal perfeição que, com o tempo, só
me resta mesmo acreditar que eles são uns santos e eu, um
palhaço.
Você,
melhor do que ninguém, sabe o quanto custa ser um bom palhaço,
né? Palhaço legal, daqueles que nos fazem rir de desastre
de trem, de morte de herói nacional e o escambau. Você
sabe como é duro ter de aturar a mentira que vira verdade
depois de tanto ser repetida.
Agora
mesmo, meu caro Bussunda, Lula da Silva declarou que, após
oficializar sua candidatura à presidência, em respeito
ao prazo estipulado pela legislação eleitoral que
proíbe o presidente da República de usar o cargo para
se promover, não dirá mais que vai “inaugurar”
uma obra, mas sim “vistoriá-la” para ver se tudo
está funcionando direitinho. É mole, cara? E isso
será tão repetido que vou terminar acreditando que
ele realmente está “vistoriando” as obras, e
não cometendo um crime eleitoral.
Devo
confessar, caro Bussunda, que tenho uma forte tendência a
entregar os pontos pelo cansaço. Chega uma hora em que começo
a pensar que sou um tremendo de um ingrato, um estúpido preconceituoso
que desrespeita o trabalho generoso feito por Lula e sua turma.
A cada mentira surgem tantos desmentidos (e olha que nem precisa
ser um desmentido muito indignado, não, daqueles em que se
afirma que vão processar o acusador; basta um olhar sério,
vitimado...) que pega até mal a gente duvidar de uma gente
tão boazinha como essa, não é não?
Agora
mesmo, Bussunda, estão tentando me impingir mais uma mentira.
Falam tanto, insistem tanto, que como sempre vou terminar acreditando.
Vencido pelo cansaço, vou findar, mais uma vez, sendo obrigado
a acreditar que você morreu, cara! E já que eu me conheço,
estou fazendo de tudo para não sucumbir à avalanche
de boatos que querem me fazer crer que você se foi em plena
Copa do Mundo. Pera lá! Brincadeira e surrealismo têm
hora, mermão!
Você
não tem cara que vai se deixar morrer assim sem mais nem
menos, não. Tá certo que o futebol da seleção
do Pé de Uva (que é como o José Trajano, da
ESPN Brasil, trata o Parreira) está meio mixuruca. Mas daí
até você morrer por isso, vai uma distância maior
do que um chutão do Roberto Carlos. Só fico daqui
me perguntando: como é que a mídia tem coragem de
tentar me fazer crer que um cara de 43 anos, com uma mulher superbacana,
uma filhinha linda de 13 anos e um talento maior do que a Allianz
Arena de Munique vai pedir pra sair de campo antes do fim da partida?
Tenha a santa paciência, mas esse boato que anda rolando por
aí não vai pegar, não.
Estou
certo de que você está dando um rolé ali pelas
bandas dos Alpes suíços. Quem sabe não deu
uma escapulidinha com a sua Julia até a Disney? Ou então
foi até à Gávea ver um treino do Mengão,
né?
Não
sou bom de adivinhação, não, mas essa de quererem
que eu acredite que você morreu... Pera lá, meu! Ora,
você devia estar de saco cheio de tanto trabalhar e deu um
tempo. Só isso. Deve agora mesmo estar preparando um novo
personagem. Escrevendo um novo quadro humorístico. Tramando
umas bandalheiras daquelas bem grandes... Mas você não
teria coragem de morrer só pra sacanear a gente, né?
Sim, porque não existe sacanagem maior do que morrer quando
se está cheio de vida, de planos, de amores, de talento,
de grana...
Pois
é, meu prezado Bussunda, estou certo de que você está
arrumando um jeito de desfazer esse terrível mal-entendido.
Tenho certeza de que sua reaparição, passado o tempo
que você mesmo se deu, será em grande estilo. Imagino
você entrando em campo, após a final da Copa, vestido
de Ronaldo Fofômeno, arrebatando a taça e correndo
para a galera, fazendo a gente quase morrer de tanto rir, tão
aliviados ficaremos ao desmascarar mais uma mentira criada por gente
que parece não ter nada para fazer. Morreu coisa nenhuma!
Um
beijo, prezado Bussunda...
Aquiles
Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O gogó de Aquiles,
ed. A Girafa.
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