Berlim,
Toronto, Adelaide, Edimburgo, Paraty. Uma vez por ano, o quintal
de casa vira notícia no mundo todo. Basta pegar o carro e
viajar duas horas a partir de Taubaté para encontrar a nata
da literatura mundial tomando um sorvete na praça, um café
no bistrô, um choppinho no happy hour. Todos acessíveis,
como que esperando alguém puxar uma boa prosa. Na mesa ao
lado, jornalistas da tropa de elite dos cadernos culturais, críticos
literários, poetas consagrados e outros nem tanto, artistas
de todas as castas.
Paraty entrou na agenda dos grandes festivais graças à
iniciativa da poderosa editora inglesa Liz Calder. A Festa Literária
Internacional de Paraty (FLIP), que acontece desde 2003, tornou-se
a caçula da família de importantes festivais literários
como Hay-on-Wye, Adelaide, Harbourfront de Toronto, Festival de
Berlim, Edimburgo e Mantua.
Julian Barnes, Don DeLillo, Eric Hobsbawm e Hanif Kureishi foram
alguns autores mundialmente conhecidos e respeitados que prestigiaram
a primeira FLIP e que estabeleceram um padrão de excelência
às edições seguintes. Hoje, a FLIP é
uma das principais festas literárias internacionais.
Liz Calder idealizadora da FLIP
Grandes nomes da literatura mundial como Salman Rushdie, Ian McEwan,
Martin Amis, Margaret Atwood, Paul Auster entre tantos outros, fizeram
questão de comparecer a esse evento. Sem falar de alguns
dos autores mais talentosos como Ariano Suassuna, Ana Maria Machado,
Milton Hatoum, Millôr Fernandes, Ruy Castro, Ferreira Gullar,
Luis Fernando Verissimo, Zuenir Ventura e Lygia Fagundes Telles,
além de lendas vivas como Chico Buarque, Caetano Veloso e
o sempre irreverente Angeli.
A cada ano, a FLIP homenageia um expoente das letras brasileiras:
Vinicius de Moraes, em 2003; João Guimarães Rosa,
no ano seguinte e em 2005 foi vez da musa do existencialismo, Clarice
Lispector. Em 2006, a FLIP homenageia o escritor baiano Jorge Amado.
Os shows de abertura, que já valeriam a ida à Paraty,
ofereceram aos convidados a chance de assistir Chico Buarque, Paulinho
da Viola, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mônica Salmaso, Adriana
Calcanhoto e José Miguel Wisnik, darem as boas-vindas aos
visitantes da FLIP. Esse ano, coube à inigualável
Maria Bethânia a responsabilidade de garantir o sucesso da
abertura.
Desde a primeira edição, o crescimento da Festa Literária
está intimamente ligado à vida e às necessidades
de Paraty. Artistas locais, comerciantes, hoteleiros e donos de
restaurantes acolhem a FLIP que, por sua vez, mantém os habitantes
locais ativamente envolvidos. A programação alternativa,
por exemplo, é a maior prova de que nossa produção
literária é muito mais rica do que aquele que vive
exclusivamente do marketing das grandes editoras.
Maria
Bethânia canta Jorge Amado
Show
de Maria Bethânia abre a 4ª edição da Festa
Literária Internacional de Paraty
Emocionada, a cantora baiana não conseguiu disfarçar
sua emoção no show de abertura da 4ª FLIP, na
noite de quarta-feira, 9. Um público receptivo, conhecedor
do seu repertório e admirador daquela poderosa e afinada
voz, saiu mais que satisfeito com o espetáculo de abertura.
A cada ano, os artistas se superam e fazem com que a Festa se supere
em qualidade e originalidade.
Jorge Amado é o homenageado do ano. Bethânia conseguiu
transformar seu show em uma das maiores homenagens já prestadas
ao grande escritor baiano. Foi emocionante ouvir trecho de Mar Morto
lido pela cantora para mostrar como o mistério do mar transcende
os limites da racionalidade na obra do autor baiano.
Amado Jorge foi a expressão que Liz Calder se utilizou em
sua fala para expressar a devoção que tem por Jorge,
o amado escritor. E o que dizer da tradução que a
própria Liz fez para o inglês, sua língua, para
explicar o significado de Amado?
Foi comovente declaração de Bethânia sobre a
professora que a alfabetizou quando afirmou: “Não estou
aqui apenas para lhes ensinar a ler e escrever. Eu quero que vocês
entendam o significado de cada palavra e a emoção
que cada palavra contém”. Bethânia e seu irmão
Caetano transmitem com a naturalidade dos gênios a dimensão
de cada palavra.
O clima de alegria e descontração das pessoas que
circulavam pelas ruas daquela obra de arte que é Paraty extraíram
a inusitada declaração de um gringo: “Se um
dia eu puder escolher o que serei na próxima encarnação
sem dúvida escolherei por ser uma pedra de Paraty”.
Sacou?
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