4ª FLIP

Os melhores do mundo no quintal de casa

Por Paulo de Tarso Venceslau

Percorridas por escravos e senhores, por piratas e comerciantes, por nobres e plebeus, as pedras de Paraty, hoje, respiram literatura, dançam chorinho, ouvem jazz, enrolam a língua em muitos sotaques tupiniquins e se derretem com a poesia que sai por todos os poros. É a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) que abre sua quarta edição. De a 9 a 13 de agosto, a FLIP transforma Paraty na capital cultural do Brasil, quiçá do planeta.

Berlim, Toronto, Adelaide, Edimburgo, Paraty. Uma vez por ano, o quintal de casa vira notícia no mundo todo. Basta pegar o carro e viajar duas horas a partir de Taubaté para encontrar a nata da literatura mundial tomando um sorvete na praça, um café no bistrô, um choppinho no happy hour. Todos acessíveis, como que esperando alguém puxar uma boa prosa. Na mesa ao lado, jornalistas da tropa de elite dos cadernos culturais, críticos literários, poetas consagrados e outros nem tanto, artistas de todas as castas.


Paraty entrou na agenda dos grandes festivais graças à iniciativa da poderosa editora inglesa Liz Calder. A Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), que acontece desde 2003, tornou-se a caçula da família de importantes festivais literários como Hay-on-Wye, Adelaide, Harbourfront de Toronto, Festival de Berlim, Edimburgo e Mantua.


Julian Barnes, Don DeLillo, Eric Hobsbawm e Hanif Kureishi foram alguns autores mundialmente conhecidos e respeitados que prestigiaram a primeira FLIP e que estabeleceram um padrão de excelência às edições seguintes. Hoje, a FLIP é uma das principais festas literárias internacionais.

 


Liz Calder idealizadora da FLIP


Grandes nomes da literatura mundial como Salman Rushdie, Ian McEwan, Martin Amis, Margaret Atwood, Paul Auster entre tantos outros, fizeram questão de comparecer a esse evento. Sem falar de alguns dos autores mais talentosos como Ariano Suassuna, Ana Maria Machado, Milton Hatoum, Millôr Fernandes, Ruy Castro, Ferreira Gullar, Luis Fernando Verissimo, Zuenir Ventura e Lygia Fagundes Telles, além de lendas vivas como Chico Buarque, Caetano Veloso e o sempre irreverente Angeli.


A cada ano, a FLIP homenageia um expoente das letras brasileiras: Vinicius de Moraes, em 2003; João Guimarães Rosa, no ano seguinte e em 2005 foi vez da musa do existencialismo, Clarice Lispector. Em 2006, a FLIP homenageia o escritor baiano Jorge Amado.


Os shows de abertura, que já valeriam a ida à Paraty, ofereceram aos convidados a chance de assistir Chico Buarque, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Mônica Salmaso, Adriana Calcanhoto e José Miguel Wisnik, darem as boas-vindas aos visitantes da FLIP. Esse ano, coube à inigualável Maria Bethânia a responsabilidade de garantir o sucesso da abertura.
Desde a primeira edição, o crescimento da Festa Literária está intimamente ligado à vida e às necessidades de Paraty. Artistas locais, comerciantes, hoteleiros e donos de restaurantes acolhem a FLIP que, por sua vez, mantém os habitantes locais ativamente envolvidos. A programação alternativa, por exemplo, é a maior prova de que nossa produção literária é muito mais rica do que aquele que vive exclusivamente do marketing das grandes editoras.

 

Maria Bethânia canta Jorge Amado


Show de Maria Bethânia abre a 4ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty


Emocionada, a cantora baiana não conseguiu disfarçar sua emoção no show de abertura da 4ª FLIP, na noite de quarta-feira, 9. Um público receptivo, conhecedor do seu repertório e admirador daquela poderosa e afinada voz, saiu mais que satisfeito com o espetáculo de abertura. A cada ano, os artistas se superam e fazem com que a Festa se supere em qualidade e originalidade.
Jorge Amado é o homenageado do ano. Bethânia conseguiu transformar seu show em uma das maiores homenagens já prestadas ao grande escritor baiano. Foi emocionante ouvir trecho de Mar Morto lido pela cantora para mostrar como o mistério do mar transcende os limites da racionalidade na obra do autor baiano.
Amado Jorge foi a expressão que Liz Calder se utilizou em sua fala para expressar a devoção que tem por Jorge, o amado escritor. E o que dizer da tradução que a própria Liz fez para o inglês, sua língua, para explicar o significado de Amado?
Foi comovente declaração de Bethânia sobre a professora que a alfabetizou quando afirmou: “Não estou aqui apenas para lhes ensinar a ler e escrever. Eu quero que vocês entendam o significado de cada palavra e a emoção que cada palavra contém”. Bethânia e seu irmão Caetano transmitem com a naturalidade dos gênios a dimensão de cada palavra.
O clima de alegria e descontração das pessoas que circulavam pelas ruas daquela obra de arte que é Paraty extraíram a inusitada declaração de um gringo: “Se um dia eu puder escolher o que serei na próxima encarnação sem dúvida escolherei por ser uma pedra de Paraty”. Sacou?


 

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