Analfabetismo Político II

Por Harold Maluf
Presidente do DABM - Medicina

Diante de tamanha ignorância cívica, os jovens parecem conduzidos inconscientemente a uma enorme cova que corrói quase toda a elite intelectual brasileira.


A ditadura camuflada está enterrando os melhores formadores de opinião e seus potenciais seguidores. Está encerrando de maneira sorrateira um ciclo que culmina no desconhecimento dos direitos e deveres de todo cidadão. Não importa que seja um mero trabalhador preocupado com o futuro de seus filhos ou de um milionário amedrontado com a crescente onda de violência que assola o país.


Segundo Gustavo Petta, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), "a juventude não deve, nem vai cruzar os braços, pois conhece seus direitos, quer participar e intervir no futuro político do país e não lhes falta disposição para lutar". De fato, o jovem é e sempre será o grande questionador, fomentador de mudanças e ativista das causas mais primordiais para o desenvolvimento do país. Porém, o que sucede é uma crescente alienação da classe estudantil para com os acontecimentos políticos, econômicos e administrativos e até com assuntos relacionados com sua principal exigência: educação gratuita, democrática e de qualidade.


Apesar dessa alienação, encontramos o lampejo de uma resistência estudantil que procura agir de maneira objetiva e autêntica. Na sexta-feira (11), aproximadamente cinco mil jovens saíram às ruas de São Paulo em comemoração ao dia do estudante, exigindo dos governantes do país uma atenção maior para a Educação. Em ritmo de protesto, a manifestação saiu da Assembléia Legislativa e terminou no Largo São Francisco. Foi uma demonstração de força e consciência nesses tempos de escassez de reivindicações desta natureza.


Mesmo diante dessa expressiva e necessária manifestação cívica, nenhuma emissora se prontificou a cobrir o movimento do dia 11. Parece que os veículos de comunicação optaram por fazer sensacionalismo com a desgraça do povo a fomentar atitudes que combatam suas causas. Alinhada com o mercado, a mídia atropela a ética para vender e lucr
ar mais, excluindo, em última análise, o cidadão contestador.


A sociedade está anestesiada com a novela das oito e com a falsa condição de bem estar gerada pelo espírito neoliberal de onde o consumismo desenfreado camufla a estagnação do intelecto. Somos governados por bandidos que comprometem o Estado de Direito e “defendidos” por facínoras fardados. Enquanto isso, a maior emissora de TV brasileira omite o que se esconde por trás de toda a falácia da Democracia Representativa.


Enquanto houver um jovem levantando uma bandeira e expondo sua consternação, persistirá a esperança para que ocorram as necessárias transformações. O analfabeto político é aquele que não dá a mínima para a realidade e, ao mesmo tempo, vai contra todos os princípios que norteiam uma sociedade mais digna e humana. A Educação é o melhor instrumento para erradicar esse mal. E nós, como seres instruídos, somos responsáveis, direta ou indiretamente, na resistência contra esse mal.

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