Relatório
da Apeoesp aponta incongruência entre a política de
investimento educacional promovida pela Prefeitura de Taubaté
com o dia-a-dia das salas de aula da rede municipal de ensino. Com
injeção de R$ 33 milhões – R$ 11 milhões
por ano – a prefeitura comprou da empresa Expoente material
de última geração para a rede pública
de ensino. O montante serviu para compra de apostilas, CDs, agendas.
Serviços de formação continuada de professores
também foram incluídos no pacote que o Executivo adquiriu
no final de 2005. Porém, esses investimentos na educação
não resolveram o problema da falta de infra-estrutura nas
escolas municipais, segundo a Apeoesp.
O relatório da entidade avaliou a infra-estrutura das 107
escolas da rede municipal, que engloba ensino infantil, ensino especial,
ensino fundamental de séries iniciais, ensino profissionalizante,
educação de jovens e adultos (EJA). Apesar do investimento
maciço da Prefeitura na aquisição de apostilas
e CDs da empresa Expoente e na compra de 70 mil livros sobre a história
de Taubaté, uma fatia de 33,6% das escolas está equipada
com salas de informática. Segundo o levantamento, apenas
1,8% estão equipadas com videotecas, 2,8% possuem laboratórios
de ciências. O quadro pula para 4,6 se somado às escolas
que apresentam outros tipos de laboratórios (ver quadro).
Segundo a Apeoesp, “os alunos enfrentam grandes dificuldades
de adaptação com os novos materiais e os professores
não foram capacitados adequadamente para o uso dos materiais,
enfrentando muitas dificuldades na relação ensino-aprendizagem
e muitas vezes abrindo mão de suas experiências para
seguir obrigatoriamente as apostilas”. Para Silvio Prado,
a prefeitura “só faz e não discute nada. Não
existe transparência no programa educacional”.
A educação do governo Roberto Peixoto está
sendo contestada e discutida não só pela Apeoesp.
Para a presidente da Comissão de Educação e
Cultura da Câmara, vereadora Pollyana Winther (PPS), se a
prefeitura quer “revolucionar” a educação,
deve começar pela “valorização profissional
e capacitação pedagógica de professores, passando
pela reestruturação das condições físicas
das escolas a fim de adaptá-las às mudanças
do sistema pedagógico proposto pela atual administração”.
O vereador Jeferson Campos (PT) apresentou requerimento à
prefeitura que solicitava “informações sobre
o cargo de diretor de escola no ensino municipal”. Segundo
revelou CONTATO, de 49 escolas consultadas pela reportagem apenas
20 possuem diretores que estão qualificados a exercer essa
função. Além disso, a reportagem constatou
que existem diretores que administram mais de uma escola ao menos
tempo.
A reportagem de CONTATO acendeu a luz vermelha no Departamento de
Educação, dirigido pelo professor Benedito Prado.
Uma reunião de emergência foi realizada na segunda-feira,
14, na Câmara Municipal para discutir os caminhos da educação
pública de Taubaté. Segundo um dos participantes,
que prefere não ser identificado, os professores admitiram
que são poucos os diretores que são qualificados para
exercer essa função ainda que o diretor de Educação
tenha rejeitado esses dados. A situação da área
de educação em Taubaté pode ser resumida no
desabafo do coordenador da Apeoesp Silvio Prado. “A prefeitura
trabalha com fantasia. Temos que moralizar o setor de educação
da cidade”.
Infra-estrutura
da rede municipal de ensino
1,8% de escolas com videoteca;
21,5% de escolas com biblioteca;
13,1% de escolas com brinquedoteca;
15,9% de escolas com sala de leitura;
60% de escolas com sala para vídeo e TV;
33,6% de escolas com sala de informática;
2,8% de escolas com laboratório de ciências;
4,6% de escolas com outros tipos de laboratório.
Fonte:
Apeoesp (Associação dos Professores do Ensino Oficial
do Estado de São Paulo)
Outro
lado
O
diretor de Educação rebateu os dados da Apeoesp. Confira
na íntegra a posição da Prefeitura.
“Primeiramente, temos que esclarecer que a Apeoesp representa
os professores da Rede Estadual e não da Rede Municipal de
Ensino. Os dados fornecidos pela Entidade não são
reais. Gostaríamos de saber qual a metodologia adotada para
o levantamento dos mesmos. Buscando evitar a publicação
de reportagens com informações que não condizem
com a realidade da Rede Municipal de Ensino, o Diretor do Departamento
de Educação e Cultura, CONVIDA o jornalista responsável,
um representante do Conselho Municipal de Educação
e, se possível, um representante indicado pela Promotoria
Pública, para juntos, em data pré-determinada, visitarmos
TODAS as Unidades de Ensino Fundamental, e verificarmos a veracidades
das informações”.
|
Por
Jorge Fernandes
Jogo
rápido com César Callegari
Nome de destaque dentro do cenário
educacional do Brasil, o sociólogo César Callegari,
ex-Secretário Executivo do Ministério de Ciência
e Tecnologia e ex-presidente da Câmara de Educação
Básica no Conselho Nacional de Educação, realizou
palestra sobre financiamento da Educação Básica.
Antes de encarar um auditório lotado por alunos, professores
e políticos da região, Callegari conversou com CONTATO.
Confira os melhores momentos da entrevista exclusiva.
César
Callegari
CONTATO – Quais as vantagens para
alunos e professores na transição do Fundef para o
Fundeb?
Callegari – São três vantagens
principais. Primeiro, teremos uma ampliação das vagas
oferecidas pelas prefeituras na área de educação
infantil. Segundo, ampliação de oportunidades de jovens
e adultos. Temos no Brasil 50 milhões de alfabetos funcionais
e parte desse pessoal gostaria de voltar a estudar. Terceiro, é
uma melhor integração da educação infantil
com o ensino fundamental, valorizando professores da área
de educação infantil.
CONTATO – Como a sociedade pode fiscalizar
esse novo sistema?
Callegari – A proposta do Fundeb prevê uma
ampliação dos conselhos de acompanhamento e controle
social. No antigo sistema, o conselho, formado geralmente por pessoas
de confiança do prefeito, acabava mais homologando do que
fiscalizando.
CONTATO – Em Taubaté, a prefeitura
gastou R$ 33 milhões na compra de apostilas, mas segundo
a Apeoesp, as salas de aula não apresentam boas infra-estruturas.
O sr. acredita que se deve investir em material ou na qualidade
do docente?
Callegari – Na qualidade do docente, não conheço
nenhuma experiência no mundo em que se construiu um sistema
de educação de qualidade que não começasse
pelas condições salariais e de capacitação
dos educadores. Sistemas que são contratados por prefeitura
podem ajudar desde que passe pelo crivo crítico da comunidade
educacional que irá trabalhar com este material. Mas, o mais
importante é professor com qualidade e com condição
de trabalho.
CONTATO – É a favor ou contra
a municipalização do ensino?
Callegari – Sou a favor da educação
de qualidade. A municipalização deve representar qualidade
e ser implantada com responsabilidade, principalmente em relação
aos educadores. A municipalização levou muitos professores
do estado ou a perder o emprego ou a lecionar longe de sua cidade.
CONTATO – E o plano de carreira?
Callegari – O plano de carreira é uma necessidade
porque permite ao profissional da educação saber como
está e como vai ficar. O plano de carreira não é
apenas exigência da lei, mas expressão da responsabilidade
do poder público.
CONTATO – Em Taubaté, há
diretores que não habilitados para ocupar esses cargos e
há diretores que dirigem duas escolas ao mesmo tempo. Como
o sr. avalia essa situação?.
Callegari – O diretor de escola deve ter o curso
de pedagogia. Em algumas cidades, como o cargo de diretor de escola
é de confiança, alguns prefeitos nomeiam pessoas sem
a qualificação exigida. |