Por Jorge Fernandes

Crise na educação pública de Taubaté?


A falta de infra-estrutura das escolas municipais prejudica a alfabetização e o aprendizado de alunos, aponta levantamento da Apeoesp (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), que condena a ausência de transparência da Prefeitura neste setor. Diretor de Educação rebate as críticas.

 

Relatório da Apeoesp aponta incongruência entre a política de investimento educacional promovida pela Prefeitura de Taubaté com o dia-a-dia das salas de aula da rede municipal de ensino. Com injeção de R$ 33 milhões – R$ 11 milhões por ano – a prefeitura comprou da empresa Expoente material de última geração para a rede pública de ensino. O montante serviu para compra de apostilas, CDs, agendas. Serviços de formação continuada de professores também foram incluídos no pacote que o Executivo adquiriu no final de 2005. Porém, esses investimentos na educação não resolveram o problema da falta de infra-estrutura nas escolas municipais, segundo a Apeoesp.


O relatório da entidade avaliou a infra-estrutura das 107 escolas da rede municipal, que engloba ensino infantil, ensino especial, ensino fundamental de séries iniciais, ensino profissionalizante, educação de jovens e adultos (EJA). Apesar do investimento maciço da Prefeitura na aquisição de apostilas e CDs da empresa Expoente e na compra de 70 mil livros sobre a história de Taubaté, uma fatia de 33,6% das escolas está equipada com salas de informática. Segundo o levantamento, apenas 1,8% estão equipadas com videotecas, 2,8% possuem laboratórios de ciências. O quadro pula para 4,6 se somado às escolas que apresentam outros tipos de laboratórios (ver quadro).


Segundo a Apeoesp, “os alunos enfrentam grandes dificuldades de adaptação com os novos materiais e os professores não foram capacitados adequadamente para o uso dos materiais, enfrentando muitas dificuldades na relação ensino-aprendizagem e muitas vezes abrindo mão de suas experiências para seguir obrigatoriamente as apostilas”. Para Silvio Prado, a prefeitura “só faz e não discute nada. Não existe transparência no programa educacional”.


A educação do governo Roberto Peixoto está sendo contestada e discutida não só pela Apeoesp. Para a presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara, vereadora Pollyana Winther (PPS), se a prefeitura quer “revolucionar” a educação, deve começar pela “valorização profissional e capacitação pedagógica de professores, passando pela reestruturação das condições físicas das escolas a fim de adaptá-las às mudanças do sistema pedagógico proposto pela atual administração”.


O vereador Jeferson Campos (PT) apresentou requerimento à prefeitura que solicitava “informações sobre o cargo de diretor de escola no ensino municipal”. Segundo revelou CONTATO, de 49 escolas consultadas pela reportagem apenas 20 possuem diretores que estão qualificados a exercer essa função. Além disso, a reportagem constatou que existem diretores que administram mais de uma escola ao menos tempo.
A reportagem de CONTATO acendeu a luz vermelha no Departamento de Educação, dirigido pelo professor Benedito Prado. Uma reunião de emergência foi realizada na segunda-feira, 14, na Câmara Municipal para discutir os caminhos da educação pública de Taubaté. Segundo um dos participantes, que prefere não ser identificado, os professores admitiram que são poucos os diretores que são qualificados para exercer essa função ainda que o diretor de Educação tenha rejeitado esses dados. A situação da área de educação em Taubaté pode ser resumida no desabafo do coordenador da Apeoesp Silvio Prado. “A prefeitura trabalha com fantasia. Temos que moralizar o setor de educação da cidade”.

 

Infra-estrutura da rede municipal de ensino
1,8% de escolas com videoteca;
21,5% de escolas com biblioteca;
13,1% de escolas com brinquedoteca;
15,9% de escolas com sala de leitura;
60% de escolas com sala para vídeo e TV;
33,6% de escolas com sala de informática;
2,8% de escolas com laboratório de ciências;
4,6% de escolas com outros tipos de laboratório.

Fonte: Apeoesp (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo)

 

Outro lado
O diretor de Educação rebateu os dados da Apeoesp. Confira na íntegra a posição da Prefeitura.
“Primeiramente, temos que esclarecer que a Apeoesp representa os professores da Rede Estadual e não da Rede Municipal de Ensino. Os dados fornecidos pela Entidade não são reais. Gostaríamos de saber qual a metodologia adotada para o levantamento dos mesmos. Buscando evitar a publicação de reportagens com informações que não condizem com a realidade da Rede Municipal de Ensino, o Diretor do Departamento de Educação e Cultura, CONVIDA o jornalista responsável, um representante do Conselho Municipal de Educação e, se possível, um representante indicado pela Promotoria Pública, para juntos, em data pré-determinada, visitarmos TODAS as Unidades de Ensino Fundamental, e verificarmos a veracidades das informações”.


Por Jorge Fernandes

Jogo rápido com César Callegari


Nome de destaque dentro do cenário educacional do Brasil, o sociólogo César Callegari, ex-Secretário Executivo do Ministério de Ciência e Tecnologia e ex-presidente da Câmara de Educação Básica no Conselho Nacional de Educação, realizou palestra sobre financiamento da Educação Básica. Antes de encarar um auditório lotado por alunos, professores e políticos da região, Callegari conversou com CONTATO. Confira os melhores momentos da entrevista exclusiva.

 


César Callegari

CONTATO – Quais as vantagens para alunos e professores na transição do Fundef para o Fundeb?
Callegari – São três vantagens principais. Primeiro, teremos uma ampliação das vagas oferecidas pelas prefeituras na área de educação infantil. Segundo, ampliação de oportunidades de jovens e adultos. Temos no Brasil 50 milhões de alfabetos funcionais e parte desse pessoal gostaria de voltar a estudar. Terceiro, é uma melhor integração da educação infantil com o ensino fundamental, valorizando professores da área de educação infantil.

CONTATO – Como a sociedade pode fiscalizar esse novo sistema?
Callegari
– A proposta do Fundeb prevê uma ampliação dos conselhos de acompanhamento e controle social. No antigo sistema, o conselho, formado geralmente por pessoas de confiança do prefeito, acabava mais homologando do que fiscalizando.

CONTATO – Em Taubaté, a prefeitura gastou R$ 33 milhões na compra de apostilas, mas segundo a Apeoesp, as salas de aula não apresentam boas infra-estruturas. O sr. acredita que se deve investir em material ou na qualidade do docente?
Callegari
– Na qualidade do docente, não conheço nenhuma experiência no mundo em que se construiu um sistema de educação de qualidade que não começasse pelas condições salariais e de capacitação dos educadores. Sistemas que são contratados por prefeitura podem ajudar desde que passe pelo crivo crítico da comunidade educacional que irá trabalhar com este material. Mas, o mais importante é professor com qualidade e com condição de trabalho.

CONTATO – É a favor ou contra a municipalização do ensino?
Callegari
– Sou a favor da educação de qualidade. A municipalização deve representar qualidade e ser implantada com responsabilidade, principalmente em relação aos educadores. A municipalização levou muitos professores do estado ou a perder o emprego ou a lecionar longe de sua cidade.

CONTATO – E o plano de carreira?
Callegari
– O plano de carreira é uma necessidade porque permite ao profissional da educação saber como está e como vai ficar. O plano de carreira não é apenas exigência da lei, mas expressão da responsabilidade do poder público.

CONTATO – Em Taubaté, há diretores que não habilitados para ocupar esses cargos e há diretores que dirigem duas escolas ao mesmo tempo. Como o sr. avalia essa situação?.
Callegari
– O diretor de escola deve ter o curso de pedagogia. Em algumas cidades, como o cargo de diretor de escola é de confiança, alguns prefeitos nomeiam pessoas sem a qualificação exigida.

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