Por Paulo de Tarso

Padre Marlon ganha no tapetão dos Vicentinos


Roberto Peixoto, sem dar qualquer satisfação à Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP), excluiu a centenária e respeitada entidade filantrópica da gestão do Bom Prato - restaurante que fornecerá alimentação com qualidade pelo modesto preço de R$ 1,00, sendo que crianças até 6 anos nada pagam – e no seu lugar indicou a neófita Sede Santo, dirigidas pelo pop padre Marlon, da Renovação Carismática. Só não se sabe se foi sob luz de vela ou do sol que tem predominado nas últimas semanas. Um mistério que Contato começa a desvendar.

 

Na edição 275, Tia Anastácia dizia que criança que tem vários pais não tem pai algum, numa alusão ao programa Bom Prato, anunciado com pompa e circunstância durante a inauguração do Carrefour, em 20 de junho. Geraldo Alckmin, Cláudio Lembo, Bernardo Ortiz, padre Afonso, Henrique Nunes são alguns dos que reivindicam a paternidade da prometida e esperada empreitada.


Na sua visita a Taubaté, na quarta-feira, 16, o governador Cláudio Lembo, dono da caneta do Palácio dos Bandeirantes, conseguiu reunir a flora e a fauna política local.

Foi a senha para que o prefeito Roberto Peixoto anunciasse para o deputado padre Afonso e o vereador Henrique Nunes, presidente da Câmara, a maior puxada de tapete que a centenária Sociedade São Vicente de Paulo (SSVP) sequer poderia imaginar: a gestão do Bom Prato será feita pela Sede Santo, entidade dirigida pelo padre-pop Marlon, e não mais pelos Vicentinos.


Minutos depois do anúncio oficial, Alexandre Mendes, recém-eleito presidente da SSVP, recebe dois telefonemas com o mesmo teor: a revelação feita pelo prefeito Roberto Peixoto indicando a Sede Santo. Motivo: o governo do estado não quer a participação da SSVP por causa das experiências de São José dos Campos e Jundiaí.

 

Desculpa esfarrapada

Nunes, presidente da SSVP, conta que, desde outubro de 2005, ele tem procurado políticos locais para conseguir a implantação do Bom Prato de Taubaté. O deputado padre Afonso e o vereador Henrique Nunes não só se interessaram como tomaram as primeiras iniciativas nas esferas estadual e municipal para sua concretização. A primeira, foi convidar o prefeito Roberto Peixoto. Em seguida, criaram uma comissão da qual faziam parte a prefeitura, por meio do assessor Nivaldo, padre Afonso e Henrique Nunes representados pelos assessores Marli e Afonso, respectivamente, e a SSVP com Alexandre Mendes.


A partir de então, segundo Nunes e Mendes, a comissão partiu em busca de um local adequado, discutir preço de aluguel, providenciar a documentação necessária etc. Foram meses de trabalho que incluiu contato permanente com a Codeagro – Coordenadoria de Desenvolvimento dos Agronegócios, órgão da secretaria da Agricultura do Estado, que cuida do Bom Prato.


Em 20 de junho de 2006, o governador Cláudio Lembo autorizou o funcionamento do Bom Prato em Taubaté, cuja paternidade foi muito disputada, segundo a imprensa local e regional.

 


Nas obras da ponte que será inundada Roberto Peixoto reafirma seu compromisso com os Vicentinos. Na foto, vereador Henrique Nunes, Alexandre Mendes (SSVP), deputado padre Afonso e Roberto Peixoto. Atrás, o assessor Nivaldo.


No dia seguinte, Mendes vai ao encontro do prefeito que se encontrava nas obras da ponte sobre o rio Una – aquela de R$ 600 mil sem licitação e que será inundada - devidamente registrado por Contato (ver foto). Na ocasião, o prefeito reitera seu compromisso com a SSVP. Promessa reiterada na reunião de prefeito do Codevap realizada em Tremembé, há cerca de duas semanas.


Na terça-feira, 15, Mendes é informado por Sílvio Manginelli, representante da Codeagro, que só a SSVP encontrava-se devidamente cadastrada para gerir o Bom Prato, em Taubaté. Só estava faltando o prefeito informar oficialmente que a SSVP era a entidade indicada por ele. Além de não fazê-lo, Roberto Peixoto, misteriosa e silenciosamente, indica o nome da Sede Santo, do padre pop.


Quantas danças e hinos deverão ser entoados pelo padre Marlon até que a verdade venha à tona?

 

Indignação

Não são poucas as razões para explicar a indignação de Alexandre Mendes, presidente da SSVP, que há mais de 40 dias está com todos os documentos exigidos prontos. Um desses documentos é assinado por Luciana Peixoto, primeira-dama e diretora do DAS – Departamento de Ação Social -, testemunhando que a SSVP existe há 121 anos em Taubaté e que é a pioneira em filantropia no Vale do Paraíba.
Henrique Nunes mostra-se decepcionado com a decisão do prefeito. Para o presidente da Câmara, nada justifica o silêncio que marcou uma decisão que não levou em conta um ano de trabalho, pelo menos. Nunes reafirma: “quem decidiu foi o prefeito”. Tanto é que ele apareceu, na quarta-feira, 15, com uma cópia do contrato em branco, mas com o nome da Sede Santo como gestora.


E para complicar ainda mais o cenário, Múcio, pai e administrador dos empreendimentos do filho padre Marlon, comentou com amigos que não tem interesse em administrar o Bom Prato por sofrer um rigoroso controle por parte do governo.


Na quinta-feira, 17, por volta das 15 horas, a Codeagro recebeu um fax da prefeitura de Taubaté informando que a Sede Santo, que não tem qualquer experiência filantrópica, é a entidade indicada e que a mesma possui todas as condições exigidas.

Pelo jeito, existem mais mistérios nesse episódio que envolve padre e prefeito do que obras suspeitas e malfeitas na prefeitura de Roberto Peixoto.

 

Serviço

Sociedade São Vicente de Paulo
De 800 a 1.000 associados
Fundada na França em 1833
No Brasil desde 1862
Em Taubaté desde 1885
Mantém 3 asilos com recursos próprios do Conselho Central de Taubaté : Casas Pias de Taubaté, Amélia Ozanam, em Temembé, e a vila São Vicente de Paulo, em São Luís do Paraitinga
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© Jornal Contato 2006

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