É
lógico que não preciso declarar publicamente
meu voto. Sei muito bem disto, mas sinto uma espécie
de obrigação de fazê-lo, pois na última
eleição presidencial assumi publicamente a
campanha do atual Mandatário. Ademais, não
falta quem pergunte com a fatalidade do verso drummoniano:
“e agora José?”... Aliás, toda
a primeira parte do poema se me ajusta à aspereza
da situação eleitoral que se aproxima: “E
agora, José?/A festa acabou/a luz apagou/o povo sumiu/a
noite esfriou/e agora, José?/e agora, você?/você
que é sem nome/que zomba dos outros/você que
faz versos/que ama, protesta?/e agora, José?”...
Agora? Tenho que responder e o faço como uma confissão
melancólica, algo que mescla sentimentos de filho
pródigo, amante traído, animalzinho abandonado.
Frente aos escândalos políticos recentes e
que se desdobraram ad nauseam, muitos sabem que resisti
aceitar a evidência dos fatos lamentáveis.
Talvez, para mim, mais que para outros, tenha sido penoso
admitir que a grande festa da reforma social teria que ser
mais uma vez adiada e que meu endosso engajado era em um
cheque sem fundos. Provados os dramas, o processo como um
todo calou em minha alma cidadã como uma tatuagem
indelével e senti-me exposto, despido de meus sonhos
que de revolucionários passaram a reformistas, para,
infelizmente, de reformistas virarem resto. E, como se não
bastasse, agora, tenho que votar novamente.
Sou de uma geração que não pode admitir
anular o voto. De maneira nenhuma aceito o covarde gesto
de desiludidos de plantão e de inconseqüentes
incapazes de ver que a democracia sempre terá um
amanhã. Porque tanto lutamos contra a ditadura, pelo
esforço em prol do direito de participar, tenho como
pressuposto votar. Quem aprendeu a reconhecer nos ditadores
a anulação da crença na sociedade –
e inclusive em si mesmo – sabe que em nossas presenças
às urnas reside a resistência à tirania.
Mas,
como está difícil achar um candidato?! Sei
lá como os partidos políticos conseguiram
se esvaziar de propostas e com isto reduzirem-se apenas
a um plantel de pessoas sem programas minimamente seguros.
Sequer vejo “um menos ruim”, são todos
lamentáveis. Então em quem votar?
Sem opções fáceis, restou-me o cruel
processo das eliminações. Não votarei
em primeira rodada no Lula e nem tenho que aprofundar em
porquês. Frente ao Alckmin, o segundo colocado nas
estatísticas, tenho duas ordens de impedimentos que
se completam de maneira a eliminá-lo: não
consigo esquecer o pífio e alienado desempenho como
aluno do curso médico e sua apatia na definição
dos destinos da Faculdade de Medicina de Taubaté;
pior, porém, o contexto atual de insegurança
e a vulnerabilidade do Estado de São Paulo que conseguiu
superar a periculosidade do Rio de Janeiro. Isto sem lembrar
o que ele fez com o funcionalismo público do Estado
de São Paulo, em particular com os professores. Tudo,
sem esquecer que o PSDB como um todo legou-nos a herança
do PFL.
Heloisa Helena, também não me serve, pois,
além da estridência e absoluta falta de conteúdo
político e programático, sugere ser uma espécie
de Collor da esquerda - de uma esquerda meio stalinista,
meio evangélica.
Resta, entre os candidatos de algum relevo, Cristovam Buarque.
E será ele o dono de meu voto. Ainda que seja um
político sem chances imediatas, seu apelo em favor
da Educação o faz o menos incoerente e melhor
estrategista. Sim, estrategista, porque sabedor de seu limite
no gosto das massas, insiste em passar uma mensagem lógica
e que de tanto repetir será ecoada nos projetos futuros
de partidos sensíveis à causa das crianças.
E como negar que a saída é mesmo pela Educação?
Tenho que reconhecer que sua rotatividade partidária
me perturba, mas o PDT, contudo, além de história,
tem dois pontos em seu favor: a memória de Brizola
e o fato de ser um partido sem pessoas envolvidas nos escândalos.
E Cristovam Buarque se ajustou a ele de maneira lógica.
Sei que devo tomar cuidado em “defender” o meu
candidato. Afinal, já revelei as dificuldades da
escolha. Mas, se não o enfeitar um pouco, com quem
cumprirei a promessa das esperanças mínimas?
Como?