Espelhos (clique)

Por: José Carlos Sebe Bom Meihy

DECLARAÇÃO DE VOTO…


Mestre JC Sebe é, realmente, um intelectual. Diferente de outros que se escondem atrás do silêncio e da criação de categorias filosóficas para explicar o inexplicável, Sebe revela-se coerente ao revelar sua decepção com o quadro político atual mas dá a volta por cima quando reafirma sua fé na esperança e na democracia.

É lógico que não preciso declarar publicamente meu voto. Sei muito bem disto, mas sinto uma espécie de obrigação de fazê-lo, pois na última eleição presidencial assumi publicamente a campanha do atual Mandatário. Ademais, não falta quem pergunte com a fatalidade do verso drummoniano: “e agora José?”... Aliás, toda a primeira parte do poema se me ajusta à aspereza da situação eleitoral que se aproxima: “E agora, José?/A festa acabou/a luz apagou/o povo sumiu/a noite esfriou/e agora, José?/e agora, você?/você que é sem nome/que zomba dos outros/você que faz versos/que ama, protesta?/e agora, José?”... Agora? Tenho que responder e o faço como uma confissão melancólica, algo que mescla sentimentos de filho pródigo, amante traído, animalzinho abandonado.

Frente aos escândalos políticos recentes e que se desdobraram ad nauseam, muitos sabem que resisti aceitar a evidência dos fatos lamentáveis. Talvez, para mim, mais que para outros, tenha sido penoso admitir que a grande festa da reforma social teria que ser mais uma vez adiada e que meu endosso engajado era em um cheque sem fundos. Provados os dramas, o processo como um todo calou em minha alma cidadã como uma tatuagem indelével e senti-me exposto, despido de meus sonhos que de revolucionários passaram a reformistas, para, infelizmente, de reformistas virarem resto. E, como se não bastasse, agora, tenho que votar novamente.
Sou de uma geração que não pode admitir anular o voto. De maneira nenhuma aceito o covarde gesto de desiludidos de plantão e de inconseqüentes incapazes de ver que a democracia sempre terá um amanhã. Porque tanto lutamos contra a ditadura, pelo esforço em prol do direito de participar, tenho como pressuposto votar. Quem aprendeu a reconhecer nos ditadores a anulação da crença na sociedade – e inclusive em si mesmo – sabe que em nossas presenças às urnas reside a resistência à tirania.

Mas, como está difícil achar um candidato?! Sei lá como os partidos políticos conseguiram se esvaziar de propostas e com isto reduzirem-se apenas a um plantel de pessoas sem programas minimamente seguros. Sequer vejo “um menos ruim”, são todos lamentáveis. Então em quem votar?
Sem opções fáceis, restou-me o cruel processo das eliminações. Não votarei em primeira rodada no Lula e nem tenho que aprofundar em porquês. Frente ao Alckmin, o segundo colocado nas estatísticas, tenho duas ordens de impedimentos que se completam de maneira a eliminá-lo: não consigo esquecer o pífio e alienado desempenho como aluno do curso médico e sua apatia na definição dos destinos da Faculdade de Medicina de Taubaté; pior, porém, o contexto atual de insegurança e a vulnerabilidade do Estado de São Paulo que conseguiu superar a periculosidade do Rio de Janeiro. Isto sem lembrar o que ele fez com o funcionalismo público do Estado de São Paulo, em particular com os professores. Tudo, sem esquecer que o PSDB como um todo legou-nos a herança do PFL.


Heloisa Helena, também não me serve, pois, além da estridência e absoluta falta de conteúdo político e programático, sugere ser uma espécie de Collor da esquerda - de uma esquerda meio stalinista, meio evangélica.
Resta, entre os candidatos de algum relevo, Cristovam Buarque. E será ele o dono de meu voto. Ainda que seja um político sem chances imediatas, seu apelo em favor da Educação o faz o menos incoerente e melhor estrategista. Sim, estrategista, porque sabedor de seu limite no gosto das massas, insiste em passar uma mensagem lógica e que de tanto repetir será ecoada nos projetos futuros de partidos sensíveis à causa das crianças. E como negar que a saída é mesmo pela Educação? Tenho que reconhecer que sua rotatividade partidária me perturba, mas o PDT, contudo, além de história, tem dois pontos em seu favor: a memória de Brizola e o fato de ser um partido sem pessoas envolvidas nos escândalos. E Cristovam Buarque se ajustou a ele de maneira lógica. Sei que devo tomar cuidado em “defender” o meu candidato. Afinal, já revelei as dificuldades da escolha. Mas, se não o enfeitar um pouco, com quem cumprirei a promessa das esperanças mínimas? Como?

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