Por
Ana Lucia Viana
Igreja
do Berizal
Patrimônio histórico do Vale do Paraíba
O
plantio do arroz e da juta na várzea do rio Paraíba
está intimamente ligado com a história dessa singela
igreja que, apesar de pouco conhecida, representa um dos marcos
mais importantes da cultura de nossa Região
Quadro
da artista Maria Dalila Ferreira
O
lugar é bucólico e,
o ambiente extremamente aconchegante. Só por isso já
vale a pena uma visita à igreja do Berizal. Porém,
a antiga igreja proporciona muito mais. Trata-se de uma viagem no
tempo, emoldurada por histórias que envolvem monges trapistas
fugidos da França e plantações de arroz que
trouxeram progresso para o Vale do Paraíba, no início
do século XX.
Irresistível
atração na antiga Fazenda Palmeira, em Tremembé
A igreja do Berizal situa-se no Bairro do mesmo nome, próximo
ao km 4 da estrada Pedro Celeste, que liga a ponte do rio Paraíba,
em Tremembé, à rodovia Floriano Rodrigues Pinheiro.
Escondida dos olhares de quem passa apressado pela rodovia, ela
repousa solene, protegida por seus oito anjos.
Os
anjos protetores da capela
Era esse local da antiga Fazenda das Palmeiras, de propriedade do
Barão de Lessa, com área de 2500 hectares, irrigada
pelo Ribeirão do Chaveco, afluente do Paraíba.
Em setembro de 1904 alguns monges trapistas chegaram ao Brasil com
a missão de fundar um convento e escolheram essa região
pela beleza do vale e proximidade com o rio. Compraram a fazenda
por se situar em uma região calma, com clima mais salubre
e temperado e onde poderiam desenvolver a policultura. Restauraram
os edifícios da velha fazenda e fundaram o mosteiro de Maristela,
nome simbólico que significa Estrela do Mar, referindo-se
á Virgem Maria, a estrela guia para todos os que estão
no mar da vida. Estava instalada ali a primeira trapa brasileira.
Os monges recuperaram os quase 2500 pés de café da
fazenda abandonados desde a libertação dos escravos
e destinaram as partes baixas da fazenda à criação
de gado. Como a parte baixa distava 12 km da sede do mosteiro, construíram
naquela parte uma grande capela, escola e casas. Deram ao bairro
o nome de Berizal. O bairro hoje está totalmente descaracterizado.Partes
foram vendidas a novos proprietários e a igreja doada à
diocese de Tremembé.
Foi nessa região que começaram as experiências
dos monges no plantio da juta e do arroz. Ainda hoje podemos ver
os arrozais que enfeitam todo o vale do Paraíba, fruto da
ação dos trapistas, os quais com seu voto de silêncio
ensinaram os ribeirinhos a arte do plantio do arroz na água.
A igreja do Berizal tem uma arquitetura simples, porém seus
oito anjos no telhado lhe dão personalidade marcante. A falta
de documentação não nos permite detalhes de
sua construção, nem mesmo da escolha do nome. Uns
proclamam ser devido a quantidade de uma flor local, o beri; outros
ser em homenagem a um vilarejo nos Alpes suíços.
Também acreditam que a imagem da santa padroeira “Nossa
Senhora do Sagrado Coração” bem como os anjos
foram trazidos da França. De qualquer forma, isso não
diminui a atratividade histórica e arquitetônica da
construção.
Sua graça já está exposta no museu de Viena,
em um quadro pintado pela artista valeparaibana Maria Dalila Ferreira
de Paula. .
A
revitalização da igreja
Visando atrair mais visitantes a esta peculiar igreja, a comunidade
do Berizal realiza, anualmente, duas festas locais que comemoram
a padroeira e a benção da semente do arroz e da terra
na época do plantio. Os amigos da igreja pretendem revitalizar
as festas que ocorrem no seu entorno, incluindo-as, definitivamente,
no calendário de festas do município de Tremembé.
Procuram também arrecadar fundos para restaurar um dos anjos
derrubado durante uma tempestade, por um raio.
Vista geral da Capela
Neste final de semana passado, nossa reportagem participou da festa
da padroeira e constatar a dedicação de seus devotos.
A festa tem caráter estritamente religioso. O primeiro dia
é dedicado à consagração da imagem da
padroeira recentemente restaurada.
Por tudo isso, a igreja do Berizal é uma atração
imperdível para quem curte a história e a cultura
que marcam a região.
Na próxima edição, CONTATO publicará
uma reportagem inédita sobre os monges trapistas que, silenciosamente,
contribuíram para o desenvolvimento social, econômico
e econômico da nossa Região.
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