Por Padre Fred
NÃO SOU MAIS O MESMO

Padre Fred descreve com a sutileza de sua experiência em Londres o que o gaúcho chama de querência: local onde se nasceu, criou ou se acostumou a viver, segundo o velho e bom Houaiss.


Padre Fred

De volta a Taubaté, eu achava que ia ficar com mais saudades de Londres do que eu realmente estou. Foram quatro anos morando numa cidade grande onde todo mundo dizia: olha, depois de morar numa capital como Londres você não vai mais se acostumar a viver numa cidade pequena do interior.


Dia 8 faz um mês e parece que eu não estou com tanta saudade assim. Foi uma experiência muito boa e muito válida, mas aqui é bem melhor. Nada como a terra da gente. Nada como a gente da gente. Eu acho que estou com mais saudades de ir a São Paulo do que a Londres. Eu adoro São Paulo.


Em Londres, eu sentia saudades das noites de São Paulo. É gostoso dar uma bela volta num shopping. Há shoppings maravilhosos e enormes, mas há os que são bonitos e bons como o Iguatemi, por exemplo. Pode até parecer publicidade, mas não é. Ele é o mais antigo, o mais clássico, o mais elegante... o que tem gente mais bonita. Pena que não tem estação de metrô pertinho.


Desço na estação Brigadeiro do metrô e tomo um ônibus qualquer que vá para Pinheiros e que desça a Brigadeiro Luis Antônio. É um tempão no ônibus, mas passa na porta. Não gasto com táxi porque não estou com pressa - vou sempre na minha folga - e economizo para um almoço rápido e gostoso num daqueles pequenos pontos ao redor da praça de alimentação.


Depois, um belo copinho com duas bolas de sorvete Haagen-Dasz... Que delícia cheese-cake com baileys... maravilha. Pena que engorda, pena que tem muito açúcar e não é recomendado para um novo diabético que está até tomando insulina.


Sim, entrei para o clube dos tantos e tantos anônimos que tomam insulina e vivem de regime. Não dói, não deixa vermelhão e nem precisa usar talas ou gesso. É uma doença gozada. Dói mais não poder ir a São Paulo num belo restaurante e comer um belo prato com molhos e queijos.


Em Londres, eu não sabia que tinha diabete, mas também não ia a restaurantes porque cada libra custa, mais ou menos, de quatro a cinco reais. Logo, um rodízio de comida chinesa, no valor de oito libras esterlinas, eu relacionava com oito vezes cinco, quarenta, e não entrava. Logo, não tenho saudades de Londres onde não podia comer fora e nem chupar um Haagen-Dasz que custaria em reais, de vinte a trinta reais. Trinta reais por um sorvete !!! Acabava comendo o "fish and chips" de graça na Casa Paroquial... nada de arroz ou feijão!


Não dá para ter saudades de Londres, mas tenho saudades de São Paulo quando eu não era diabético. Isto me lembra a história de dois velhos amigos, velhos na amizade e velhos na idade e um pergunta para o outro:


___ Tens ainda ido a São Paulo constantemente?

O outro responde:

___ Ah, não mais. São Paulo não é mais a mesma!!!

O primeiro velhinho retruca:

___ Que nada, meu velho, São Paulo ainda é a mesma, está até melhor. Você é que não é mais o mesmo!

De fato, acho que não sou mesmo !!!




 

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