Professor
Marmo aborda um assunto extremamente complexo até mesmo para
cientistas, explorado por escritores e pela indústria cinematográfica
desde o famoso enigma que a esfinge do Egito propunha aos viajantes
que dela se aproximavam: “decifra-me ou te devoro”. Hoje,
são oferecidos prêmios milionários para quem decifrar
certos enigmas da matemática.
Na
matemática existem algumas afirmações que parecem
ser verdadeiras e que são aplicadas com sucesso na prática,
mas que ninguém consegue demonstrar. Matemáticos do
mundo inteiro dedicam anos de estudos na ambição de
decifrar tais enigmas, na maioria das vezes sem sucesso. Agora, porém,
os cientistas têm um novo estímulo para solucionar as
charadas matemáticas.
Landon Clay, um milionário americano apaixonado pelo universo
dos números, ofereceu sete prêmios de 1 milhão
de dólares cada, para quem resolver aquilo que ele chama de
os "sete enigmas do milênio".
Um deles é o caso das equações de Navier-Stokes.
Concebidas no século XIX, elas são largamente utilizadas
no estudo de fluidos e na aerodinâmica. Outro é a hipótese
de Riemann, que trata da distribuição dos números
primos (aqueles que só são divisíveis por 1 e
por eles mesmos) e está relacionada à codificação
de informações em redes de computadores. Também
vale 1 milhão de dólares a demonstração
das equações de Yang-Mills, leis da física quântica,
estabelecidas há quase cinqüenta anos. O trabalho de Yang-Mills
é utilizado para cálculos em escala microscópica,
como processos envolvendo a aceleração de partículas,
num papel análogo ao das leis de Newton no mundo macroscópico.
Um dos enigmas, recentemente resolvido, foi o “último
teorema de Fermat”, por Andrew Wiles, professor da Universidade
de Princeton. Wiles ganhou fama mundial em 1995 ao demonstrar este
teorema, pondo fim a um mistério de 363 anos. "O “Último
Teorema de Fermat" se originou de uma observação
feita por Pierre Fermat numa página de sua cópia da
Aritmética de Diofanto de Alexandria. Fermat afirmou que encontrara
uma demonstração maravilhosa para o fato de que x^n+y^n=z^n
não tem solução para números inteiros
e positivos quando n>2, mas ela não cabia naquela margem.
A epopéia de Wiles foi descrita no livro O Último Teorema
de Fermat, do escritor Simon Singh. No Brasil já foram vendidos
22 000 exemplares desde 1998, um best-seller para os padrões
nacionais. O sucesso explica-se pelo fascínio exercido pelos
enigmas envolvendo números.
A premiação do Instituto Clay de Matemática repete
o desafio lançado há 100 anos pelo alemão David
Hilbert, um dos mais importantes matemáticos da história.
Em agosto de 1900, durante um congresso internacional em Paris, Hilbert
submeteu 23 hipóteses à sagacidade de cientistas contemporâneos.
Muitas permanecem sem comprovação formal até
hoje, entre elas a persistente hipótese de Riemann que fazem
parte da lista pela qual se oferecem os prêmios milionários.
Em 2003 foi resolvida a questão da Conjectura de Poincare pelo
matematico russo Grigori Perelman ,que recusou a aceitar o premio.
Perelman de 39 anos, que vive com a mãe em São Petersburgo,
cortou praticamente todos os contactos com os seus pares depois de
propor em 2003 uma solução para o complexo problema
de topografia formulado em 1904 pelo francês Henri Poincarré,
mas que é tão complicada que o mundo matemático
ainda a está ainda analisarndo.
Foi para anunciar, entre outras coisas, que não iria receber
o prêmio que Perelman fez recentemente à revista "The
New Yorker" as suas primeiras declarações públicas
em anos. "(O prêmio) é completamente irrelevante
para mim. Qualquer pessoa entende que, se a demonstração
estiver correta, não é necessário nenhum outro
reconhecimento", afirma numa entrevista publicada na revista
norte-americana.
Mesmo assim, Perelman foi distinguido pela União Matemática
Internacional pelas "suas contribuições para a
geometria e o seu aprofundamento revolucionário na estrutura
geométrica e analítica do fluxo de Ricci", segundo
um comunicado que também enaltece os seus trabalhos sobre a
Conjectura de Poincarré. Em junho deste ano, Zhu Xiping e Cao
Huaidong, dois matemáticos chineses, publicaram os detalhes
finais da prova da "Conjectura de Poincaré" no Asian
Journal of Mathematics. Henri Poincaré, o autor da conjetura
que leva seu nome, viveu na mesma época que Hilbert e usufruiu
em seu tempo de enorme popularidade. Ele sabia comunicar-se com o
público e dar à ciência um sabor popular.