Por Paulo de Tarso Venceslau
Bicadas amigas

A “Carta aos militantes do PSDB” escrita pelo ex-presidente FHC é o documento político mais importante publicado recentemente no Brasil. Tucanos e petistas tentam desqualificar o seu conteúdo porque a carta poderá prejudicar a sólida parceria entre Aécio Neves e Lula para fazer do primeiro sucessor do segundo em 2010.


Padre Fred

No dia 7 de setembro, FHC lançou a “Carta aos militantes do PSDB”. Provocou a maior chiadeira entre tucanos e, pasmem, entre petistas. A grande imprensa repercutiu as partes que produziram e ainda continuam produzindo manchetes. Mas, o que será que a carta contém capaz de fazer dirigentes petistas e tucanos saírem de seus ninhos para atacar as análises feitas pelo ex-presidente?


Vale constatar que as maiores críticas partiram de tucanos de alta plumagem, com destaque para o governador mineiro e candidato a reeleição Aécio Neves. “A melhor forma de contribuir [para a campanha de Geraldo Alckmin] é evitar comentar ações que mais desagregam do que agregam”, comentou Aécio. Seus aliados, de Aécio, bateram nessa mesma tecla. E a grande imprensa se deliciou com a tal desagregação tucana.


Em seguida, petistas de cinco estrelas reforçaram Aécio e cia. “O Alckmin tem escondido ele (FHC) da campanha. É a fala de um homem ressentido. Vaidade fala mais forte”, bateu Ricardo Berzoini, presidente nacional do PT. E Lula arrematou na semana seguinte: “FHC é o único ex-presidente que não sabe comportar-se como ex-presidente”. Alguém poderia lembrá-lo que os outros dois ex-presidentes vivos, Collor de Mello e José Sarney são aliados de Lula. Ou seja, a carta de FHC incomodou tucanos e petistas. Por quê?


FHC autor da "Carta aos militantes do PSDB", documento político mais importante publicado recentemente no Brasil.


Primeiro, porque tudo indica que - entre tucanos e petistas - ninguém leu a carta com o devido cuidado. E se leu, pior ainda, usou de extrema má fé quando comentou com a imprensa.


Segundo, se lessem e fossem sérios (ou honestos) teriam comentado a parte mais importante da carta que trata da reforma política que se faz necessária e não daquela apresentada de afogadilho e com objetivos eleitoreiros pelo governo Lula. A reforma política sugerida por FHC prevê basicamente a introdução do voto distrital e da fidelidade partidária. Em quase metade da carta ele disseca esses pontos que não foram sequer citados pela grande imprensa.


Terceiro, FHC insiste em diferenciar o PSDB do PT, razão pela qual criticou o comportamento do seu partido no episódio que envolveu Eduardo Azeredo, presidente da sigla, com o caixa dois do valerioduto.


Quarto, se havia alguma dúvida sobre a convergência dos interesses petistas com os de Aécio Neves, Lula as dirimiu de vez na entrevista publicada na quinta-feira, 14. Perguntado se o governador Aécio Neves, que tem mais de 70 % das intenções de voto, seria um parceiro seu eventual segundo mandato, Lula respondeu: “Ele é uma parceria hoje já”.


Sabedor de toda essa articulação entre tucanos mineiros com petistas lulistas, FHC pôs o dedo na ferida. Afinal, a carreira de Aécio Neves que prevê o apoio de Lula para disputar a sucessão do petista em 2010 coloca os dois partidos na mesma vala comum onde o PT se lançou nos últimos anos.


Revelação como essa feita por FHC não interessa aos tucanos que querem retomar o poder a qualquer custo e muito menos a Lula et caterva que caminham tranqüilos para sua reeleição graças ao apoio e ao empenho do parceiro Aécio.





 

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