Por
Luis Gonzaga Pinheiro
FestMellos
“A GENTE QUEREMOS O QUÊ”
Seria uma silepse de número ou apenas uma
concordância ideológica? Quem foi ao FestMellos soube
da resposta. Um número de pessoas imprevisto tomou conta
dos endereços do festival e o transformou em acontecimento
generoso na oferta de reflexões, música, teatro, conversa
BALLET
STAGIUM - "COISAS DO BRASIL" - Companhia que ensinou o
brasileiro a ver um espetáculo de dança de maneira
nova. Provou que a arte da dança é mais que um divertimento
de privilegiados. "Coisas do Brasil" é uma revisão
crítica à nossa sociedade, do descobrimento até
os dias de hoje.
As
reações das platéias
“Quem
foi a alguma das inúmeras provocações do FestMellos
ficou sem saber o que viu de melhor.” Dizia um entusiasmado
taubateano, presente a quase tudo o que estava oferecendo. E acrescentava:
“Uma cidadezinha de 7.000 habitantes faz mais para Taubaté
do que Taubaté faz para nós, taubateanos.”
O FestMellos é um evento anual, nascido do DNA Brasil, uma
reunião das cinqüenta melhores cabeças nacionais,
onde “se pensa o Brasil.” , formulando propostas e,
agora, em sua terceira edição, já se encaminha
para reunir conclusões de todos os encontros, elaborando
um relatório que será encaminhado ao governo federal
e a outras instâncias do poder, além de endereços
sérios do país.
O
clima descontraído atraiu um público de todas as faixas
etárias
Tanta gente importante reunida tão perto, porque não
aproveitar e pedir a eles que “conversassem” com as
três cidades (Campos, São Bento e Santo Antônio),
abordando temas de oportunidade, sob a provocação
de “A Gente Queremos o Quê?”, usada neste ano.
Estiveram no FestMellos personalidades que, de outro modo, dificilmente
iriam até lá. Alguns dos nomes demonstram a importância
que o evento assumiu: Oded Grajew, Paulo Saldiva, Gustavo Franco,
Monja Coen, Danilo dos Santos Miranda, Boris Fausto, Cacá
Diegues (ele esteve presente à exibição de
seu filme “O maior Amor do Mundo” e participou de uma
conversa sobre a ideologia do afeto e os caminhos do amor, onde
também esteve a interessante figura de Vânia Nenês,
uma empresária que lida com a venda de objetos eróticos.
João Pedro MST Stédile deixou seu recado.
Outros
eventos e propostas
Uma oficina de gravuras proposta por Roberto D Gyarfi trabalhou
com xilogravuras, explicando sua técnica, o que levou um
número inesperado de interessados. Eles ficavam até
de madrugada, para espanto de seus promotores. “Eles não
iam embora” disse Roberto, apaixonado pelo sucesso de sue
atelier. “Nunca vi nada igual”, retornava, ainda emocionado.
Enquanto isso, um inesperado “Noeditedshortcutmovie”
andava pelo festival filmando tudo e com participação
da comunidade (figurinos, direção de arte e fotografia.
O resultado é um curta-metragem, para exibição
próxima. Tudo como Taubaté não faz.
Concepção,
fecundação e paternidade
O empresário Ricardo Semler “Virando a Própria
Mesa”, é o autor e ator da façanha da criação
do FestMellos e seu mecenas mais importante. Ricardo comanda um
projeto, o Habitat, que tem propostas tão revolucionárias
que causaram espanto nos moradores do bairro. Ele propôs aos
moradores que recebessem arquitetos em suas casas, conversassem
com eles e dissessem como gostariam de ver suas casas, agora reformadas,
com o tamanho de suas famílias. Feito projeto, foi submetido
aos moradores, aprovado e, em seguida, financiados a fundo perdido.
As casas agora passaram a ter água e esgoto.
O esgoto passa a ser tratado. Com isso as casas ficam livres de
sua presença, ao mesmo tempo em que é preservado o
lençol freático, evitando sua contaminação.
No outro lado do projeto dos Mellos, Semler constrói um hotel
de mais de cinco estrelas. É o Botanic. Ele aproveitará
a mão de obra local, já em treinamento para a inauguração,
prevista para julho do próximo ano.
De início, houve desconfiança: “O que ele quer
da gente; qual é o “pulo do gato?”. Hoje, todos
aderiram, formando uma cooperativa.
Banda
Mantiqueira, Ballet Stagium, Milágrimas, Coral da Sinfônica
do Estado. Tudo isto e muito mais!
Banda
Mantiqueiram um dos mais respeitados conjuntos musicais do país
Quem não visse, não acreditaria, mas esses monstros
sagrados da cultura musical brasileira tocaram, cantaram e dançaram
no Festival. Turistas se perguntavam como “essa gente”
foi parar em Santo Antônio e nos Mellos, um bairro de Campos?
Não é simples, mas explicável. Todas as “conversas”
contaram com adesão entusiasmada e gratuita de seus autores.
Alguns conjuntos aceitaram o convite, sem nada receber, outros baixaram
seus preços.
O resultado foi “uma assembléia de beleza”, como
pintou Guilherme de Souza, morador do Vale do Paraíba. “Apoteótico!”,
dizia Antônio dos Santos e acrescentava: “Agora já
sei onde ir, quando quiser ver coisa boa.” Ainda comovido
estranhava que tantos presentes não custavam nada.
Quem
pensa, quem faz e quem administra
Um cidadão de São Paulo, Rodrigo Martins, dirige o
festival. Ele dorme, acorda, almoça e janta o festival, com
intervalos destinados ao seu coração. “São
indignos de meu amor”, diz, explicando que sua noiva recebe
menos que seu coração desejaria. Ela excursiona pelo
exterior.
Rodrigo formou uma equipe que trabalha por música. Afinada,
formam uma banda sonora, como diz seu maestro. “Cerca de cinqüenta
pessoas “tocam” nela, dormem pouco e se alimentam quando
sobra tempo”, disse Rodrigo Martins.
Quem cuida da beleza é uma arquiteta e cenógrafa Maria
Cecília, carinhosamente chamada de Loira. Cecília
reinventou os barracões de um antigo estábulo e os
transformou na Sala Noel Rosa. Ela já recebeu vários
eventos. Céu, a linda novidade da música popular brasileira,
cantou coisas suas e levou o público ao delírio, o
que também fez David Moraes. Ele não parava de cantar.
Queria mais, para delícia do público.
Problemas para o próximo ano
Os organizadores do III FestMellos já têm os cabelos
em pé: se tivemos aproximadamente 4.000 pessoas, quantos
virão no próximo ano. É esse o agradável
problema antevisto para 2007. Uma doce dificuldade!
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