Por Jorge Fernandes

Entrevista com o deputado estadual padre Afonso Lobato (PV)

Reeleito com 67.138 votos para deputado estadual, quase 30 mil votos a mais do que em 2002, padre Afonso Lobato (PV) é o único representante de Taubaté que conseguiu emplacar nas eleições desse ano. Nessa rápida entrevista, padre Afonso critica, com luva de pelica, a atuação da prefeitura de Taubaté que, segundo ele, tentou “minar” sua campanha e desabafa: “Foi até bom que nossa imagem não colou muito com a imagem [da gestão Roberto Peixoto]”.

 


Presidente da Câmara Henrique Nunes (PPS) recebe o deputado estadual Padre Afonso (PV), reeleito, e o ex-vereador Roderico Prata Rocha

 

CONTATO - Em nossa última entrevista, o senhor reclamou da pouca atenção do prefeito para com sua candidatura. Parece que deu resultado. No final, Peixoto apoiou a sua campanha e a de Ary Kara. A dobradinha com Ary Kara foi pra valer? Será que a derrota dele não poderá prejudicar sua imagem?
Dep. Padre Afonso
– Não. Primeiro, eu não tive apoio do Roberto Peixoto e não tive dobrada com Ary Kara. Aquele jornal [PaticipAÇÃO] – distribuído pelo Ary Kara – eu nem estava sabendo. É lógico que torci para que o Ary Kara fosse eleito porque é importante um deputado no Vale do Paraíba e ele tem um trabalho de anos no Vale. Mas, não fiz dobrada com ele e não tive apoio de Ary Kara e [nem] do Peixoto. Fiz minha campanha independentemente dos dois. Nossa dobrada aqui foi com [deputado federal] Marcelo Ortiz (PV), com o Silvio Sanzone (PV) e com Salvador Zimbaldi (PTB).

 

CONTATO – Sua responsabilidade aumenta como único político de Taubaté eleito? Pretende alterar sua maneira de agir?
Dep. Padre Afonso
– Aumenta a responsabilidade e muito. Gostaria que o Vale do Paraíba tivesse conseguido eleger outros candidatos. A população está sinalizando que quer outra forma de fazer política. Quer o político mais perto e não aquele que é eleito e some. A gente, portanto, procura estar presente.

 

CONTATO – Como o sr. avalia o fato de Taubaté eleger um único deputado estadual?
Dep. Padre Afonso
– Em Taubaté, houve muito voto de fora porque muitos candidatos vêm com força econômica. Outros são exóticos. O povo, às vezes, sinaliza que não acredita nesse processo. Temos que resgatar que é possível fazer política com transparência, ética. Esse é o nosso grande papel. E de que forma fazer isso? Vendo o político de perto e trabalhando. Embora se cobre muito do deputado [tarefas] que não são do deputado. Nosso papel é redescobrir sentido e o valor do legislativo enquanto poder harmônico e independente. O [Poder] Legislativo - municipal, estadual e federal - não pode ser de forma alguma subserviente. O escândalo do mensalão foi uma relação promíscua do Legislativo com o Executivo. E isso, às vezes, se [também] dá na cidade.

 

CONTATO – Está satisfeito com os 36.954 votos em Taubaté?
Dep. Padre Afonso
– Tínhamos um trabalho forte em Taubaté. Eu esperava de Taubaté entre 35 a 40 mil votos.

 

CONTATO – Com esse resultado, pretende sair candidato a prefeito em 2008?
Dep. Padre Afonso
– A eleição que nós concorremos e fomos vencedores foi para o Legislativo, que tem função importante. De Taubaté até o Vale histórico não tem deputado estadual. Nossa reflexão para 2008 já começou. Eu vou participar ativamente dessas discussões não só em Taubaté como em outras cidades do Vale. Vou estar aberto ao diálogo com todos os [candidatáveis] como Antônio Mário, Isabel Camargo, Roberto Peixoto, Ortiz Jr. Enfim, com todos aqueles que quiserem discutir.

 

CONTATO – Prefeito Roberto Peixoto já o procurou depois do resultado das urnas?
Dep. Padre Afonso
– Não e não me espanto porque não fez isso antes e não deveria fazer depois. Acho que ele manteve a postura que vinha tendo. Inclusive, nós sabemos que algumas pessoas da Prefeitura de Taubaté, que nos ajudaram, foram perseguidas. Teve gente que não queria mesmo nossa candidatura. Tentaram minar nossa candidatura de todas as maneiras. O Roberto Peixoto não, mas algumas pessoas, como a primeira-dama [Luciana Peixoto], tentaram nos atrapalhar no processo. O Peixoto se manteve neutro e não deu apoio apesar de tudo aquilo que a gente fez [na campanha que elegeu Peixoto como prefeito]. Mas, analisando hoje, foi até bom porque existem falhas na administração [municipal], que a gente precisa discutir como, por exemplo, saúde – que está faltando remédios nos postos. Foi até bom que nossa imagem não colou muito com a imagem [da gestão Roberto Peixoto].

 

CONTATO – Como avalia a expressiva eleição de Fernando Gabeira (PV)?
Dep. Padre Afonso
– Fico feliz porque o Gabeira é um deputado atuante, é um ícone do Partido Verde e é um homem respeitado nacionalmente. Os votos foram uma reposta ao trabalho dele ao longo dos anos e da postura que tem no Congresso Nacional de transparência e luta para moralizar o Legislativo.

 

CONTATO – Com a cláusula de barreira, o senhor pretende permanecer no PV?
Dep. Padre Afonso
– Pretendemos e vamos tentar trazer outros partidos para que o PV continue existindo. O PV é um dos poucos partidos ideológicos que ainda existem e que não teve nenhum dos seus deputados envolvidos em escândalos.

 

CONTATO – Qual sua expectativa com o governo de José Serra (PSDB)?
Dep. Padre Afonso
– Esperamos que o governo Serra atenda melhor nossas reivindicações. O Vale do Paraíba precisa ser mais valorizado porque é uma região importante para o estado e tem 1,5 milhão de eleitores.

 

CONTATO – Qual recado para atuais e futuros aliados?
Dep. Padre Afonso
– Recado é de esperança. Acreditar que é possível exercer política com transparência, com lealdade, honestidade. Buscar o bem coletivo e não apadrinhando os coleguinhas. Estou aberto a discussões com todos. Tenho as minhas restrições e fiquei realmente chateado e triste com a postura do nosso prefeito Roberto Peixoto. Mas quero conversar com ele para discutir propostas. Estamos é com dificuldade de relacionamento.

 

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