Professor
Marmo reproduz trechos do relato de Accioly Netto no capítulo
"Pioneiros heróis e discos voadores", do livro “O
Império de papel: Os bastidores de O Cruzeiro”(Editora
Sulina). Acciolly foi redator-chefe de O Cruzeio, a grande revista
semanal do Brasil nos anos 50 e 60
Certa
manhã, João Martins me informou que uma figura estranha
fora vista nas areias então desertas da Barra da Tijuca. (..).
Tratava-se, ao que parecia, de um andarilho solitário que muito
se assemelhava a Adolph Hitler, supostamente vivo!
Lá chegando, logo constataram que a história do andarilho
não passava de boato e que o suposto Hitler era apenas um pesquisador
de botânica, de nacionalidade holandesa. Diante disso, resolveram,
antes de voltar à redação. (...)
Foi quando João Martins percebeu no céu azul um objeto
de formato estranho que se deslocava velozmente, parando de vez em
quando no ar para depois recomeçar a mover-se, sempre em alta
velocidade. Curioso é que não fazia qualquer ruído,
embora estivesse chegando cada vez mais perto de onde eles estavam.
João Martins levantou-se de um salto, (...) e gritou para Ed
Keffel, apontando o objeto no céu:
- Ed! Depressa!! Fotografe aquela coisa!
Tudo aconteceu muito rápido. Ed Keffel, fotógrafo esperto
que era, focalizou o objeto que se aproximava cada vez mais e apertou
o botão da máquina, diversas vezes seguidas, sem tremer.
Um segundo depois, o objeto passava por cima deles, sempre silenciosamente,
até desaparecer por trás da Pedra da Gávea, enquanto
os dois observavam o céu claro do meio-dia, mudos de espanto.
(...) João Martins ainda notou, quando o objeto se aproximava,
que nas bordas havia luzes nas cores verde e vermelha, que piscavam.
Passado um primeiro momento de estupor, os dois saíram correndo
com destino à redação. (...) Logo chegavam, ambos
cada vez mais empolgados. Ed Keffel tirou da máquina o rolinho
de filme e o entregou a Leão Gondim, que estava comigo, sem
explicar o que era. Esperamos nervosamente enquanto o filme era revelado.
Quando a porta do laboratório se abriu, correram para ver o
filme que acabava de sair do revelador.
- Saiu! - gritaram.
Corri para ver. Na foto, havia no azul do céu um ponto prateado,
que aumentava de tamanho a cada fotografia da seqüência.
Posta no secador, a película foi em seguida ampliada ao máximo.
Agora em tamanho maior, via-se nitidamente que o objeto tinha de fato
o formato de dois pratos de metal unidos pelas bordas, embora num
primeiro momento nem Leão Gondim nem eu estivéssemos
entendendo do que se tratava.
Só então Ed Keffel e João Martins nos explicaram,
ofegantes, que se tratava de um disco voador. Ao ouvir isto, Leão
Gondim disparou rumo à oficina de impressão.(...). Em
poucos minutos, foi feito um caderno complemento de 16 páginas.(..).
Todo o trabalho foi feito em algumas horas e, de madrugada, O Cruzeiro
era distribuído trazendo a matéria sobre o disco voador.
Em menos de duas horas, a edição estava esgotada.
Logo, a rádio Tupi começou a noticiar o acontecimento,
enquanto chegavam à redação de O Cruzeiro pedidos
e mais pedidos de outros órgãos de imprensa interessados
nas fotos, inclusive várias agências de notícias
estrangeiras. Depois disso, viriam ao Brasil especialistas e técnicos
de observatórios da Inglaterra, da França e dos Estados
Unidos, inclusive da NASA e FBI. (...)
No início, pensava-se tratar de um hábil truque fotográfico,
ou mesmo de uma brincadeira de nossa parte. Cheguei a dar várias
entrevistas, contando e recontando o que me fora narrado pelos dois
repórteres. Ed Keffel e João Martins ficaram na berlinda.
De minha parte, posso afirmar que um profissional da fotografia com
o nível de Ed Keffel seria capaz de fazer um truque daqueles,
mas, pelo que conheci de seu caráter e seriedade, além
de tudo o que presenciei naquele dia, acredito sinceramente que ele
não se prestaria a semelhante farsa.