Espelhos (clique)

Por: José Carlos Sebe Bom Meihy

MEDITAÇÕES HUMORADAS SOBRE O VOTAR

Mestre JC Sebe, como bom brasileiro, através de uma pesquisa que rolou na internet, mostra que o humor faz parte das manifestações mais autênticas e representativas de candidatos que democraticamente buscam se identificar com seu eleitorado.

É claro que as eleições significam o auge da festa democrática. É por ela que nos mobilizamos fazendo um exercício precioso de exame cívico. Não há dúvidas sobre isto. Ademais, a coleção de detalhes que se expressa nas escolhas de nossos representantes fermentam ânimos que animam a esperança de que um dia compatibilizemos o sonho da voz de Deus expressa pela voz do povo. Tudo isso, porém, para os bons democratas, tem um sabor pedagógico identificado no tortuoso processo de aprendizado que identifica a democracia com o convívio com a diferença. E então, legitimamente, todos somos iguais.


Por pior que sejam as campanhas, por mais deprimente que se mostrem os quadros partidários – e em nossa história isto, infelizmente, tem se repetido ad aeternum – há sempre lições a serem tomadas. Em vista do último pleito, uma série de slogans chamou a atenção geral e alguns deles foram colocados na internet resultando inclusive um curioso concurso nacional.


Mesmo ciente que o humor é parte do modo brasileiro de ver o mundo, a extensão pública e o entusiasmo com que muitos votaram (mais de 16 mil) fazem pensar nos mecanismos de aceitação e recusa que marcam o gosto dos eleitores. Mais que isso: provoca a reflexão sobre formas de proceder análises. Não é só para rir que as piadas servem, nem as referências pândegas. Muito mais profundo, o sentido do riso convoca juízos que de outra forma não apareceriam. Vejamos o plantel dos eleitos, em ordem decrescente:

8º lugar - Guilherme Bouças, com o slogan “Chega de malas, vote em Bouças”;

7º lugar - Grito de guerra do candidato Lingüiça, lá de Cotia (SP): “Lingüiça Neles!”

6º lugar - Em Descalvado (AL), tem uma candidata chamada Dinha cujo slogan é “Tudo pela Dinha”;

5º lugar - Em Carmo do Rio Claro, tem um candidato chamado Gê “Não vote em A, nem em B, nem em C; na hora H, vote em Ge”;

4º lugar - Em Hidrolândia (GO), tem um candidato chamado Pé. “Não vote sentado, vote em Pé”;

3º lugar - E em Piraí do Sul tem um gay chamado Lady Zu, “Aquele que dá o que promete”;

2º lugar - A cearense chamada Debora Soft, stripper e estrela de show de sexo explícito, lançou o slogan: “Vote com prazer”;

1º lugar, campeoníssimo - Candidato a prefeito de Aracati (CE): “Com a minha fé e as fezes de vocês, vou ganhar a eleição”.

Muito mais que divertidos, além do criativo, o que se vê é que trocadilhos servem para popularizar aceitações que poderiam ser triadas por preconceitos que, infelizmente, não admitiriam na festa democráticas, candidatos gays, prostitutas ou mesmo semi-alfabetizados, tipos que, sim, fazem parte do que somos nacionalmente. É lógico que neste pacote risível, outros atributos entram para compor a proposta pitoresca do uso da língua como recurso de captação de votos.


As picardias que erotizam o discurso (o caso de “Tudo pela Dinha”, 6ºlugar, é expressivo e de igual teor o 7º “Lingüiça Neles!”) dão aspecto de provocativos, mas, sobretudo, mostram também a função do feminino e do masculino no contexto das disputas. Há ainda os que mostram a fineza do humor refinado e nesse sentido o 5º colocado (“Não vote em A, nem em B, nem em C; na hora H, vote em Ge”) é de um requinte único. Mas não podemos deixar de notar o vencedor, apontado com superlativos do tipo “campeoníssimo” que obteve 78,8% dos votos. Foi o riso provocado pela ignorância que mais atraiu.


Mas, espantemo-nos, nada mais democrático, nada mais representativo da esperança que devemos ter, pois só no Brasil isto poderia acontecer. Nosso futuro democrático, definitivamente, está garantido, pois até a ignorância tem lugar de aceitação (ou recusa) pública.


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