Por Jorge Fernandes

Casa de Custódia de Taubaté

Há 1 ano era assassinado José Ismael Pedrosa

No dia 23 de outubro de 2005 foi assassinado o ex-diretor da Casa de Custódia de Taubaté e da Casa de Detenção de São Paulo (Carandiru). Pedrosa, que voltava de um churrasco com amigos quando foi cercado e metralhado com 11 tiros na cabeça na rua 15 de novembro, região central de Taubaté. Até o momento, segundo investigação policial, seis pessoas foram detidas sendo que três comprovadamente participaram da execução de Pedrosa. Um crime que aconteceu no mesmo dia em que o país aprovou o comércio de armas e munição.


Ismael Pedrosa


José Ismael Pedrosa era um homem gentil e carinhoso com amigos e familiares, mas temido e respeitado por bandidos. Tinha mais de 40 anos de experiência carcerária, a maioria como diretor da Casa de Custódia de Taubaté e do Carandiru em São Paulo.


Pedrosa tinha a reputação de ser um “domador de presos”. E foi justamente essa reputação que lhe trouxe maior sofrimento. Em abril de 2001, a filha Eulália, médica conhecida e respeitada, foi seqüestrada em Taubaté e libertada na cidade de Santos, litoral Sul de São Paulo, após ficar na mão de bandidos por quase 48 horas.


Antes de ser assassinado, o ex-diretor da Casa de Custódia desfrutava da vida de aposentado. As constantes ameaças não o atemorizavam. Não faltava a eventos sociais e batia o cartão regularmente no Rotary Club.


Dois meses antes de ser executado, Pedrosa concedeu uma de suas últimas entrevista para CONTATO. Nela, o ex-diretor da Casa de Custódia rechaçou qualquer insinuação de que o presídio que dirigia fosse o berçário do PCC. “Sinceramente, desconheço que o PCC foi organizado na Casa de Custódia, que era um presídio diferenciado, uma referência, que recebia presos inadaptados no sistema penitenciário de todas as unidades do estado”, disse em agosto de 2005.
A reportagem de CONTATO conversou com o delegado que conduz as investigações sobre o assassinato do ex-diretor da Casa de Custódia de Taubaté que pediu para não ter sua foto publicada. Confira os principais trechos da entrevista exclusiva.

 

CONTATO – Como estão as investigações após um ano do assassinato de José Ismael Pedrosa?
Delegado Rodrigues
– Temos 3 indivíduos presos com comprovação de envolvimento na morte de José Ismael Pedrosa. Temos outros 3 indivíduos presos com suspeita de envolvimento na morte do Ismael Pedrosa. Porém, apesar das várias diligências, não se conseguiu até o presente momento ligar esses 3 elementos ao fato criminoso. Somente [sobre] os 3 primeiros - João Paulo, Marcos Silva [Babão] e Elias Santos Nascimento - é que existem provas cabais nos autos, tanto que foram indiciados. Infelizmente, os outros 3 elementos, apesar de estarem detidos por prática de outros crimes e serem foragidos do sistema prisional, não se conseguiu juntar provas material da participação deles na ação criminosa.

CONTATO – Quais as dificuldades em investigar esse assassinato?
Delegado Rodrigues
– É exatamente a falta, na grande maioria das vezes por temor pessoal, de testemunhas que vivenciaram os fatos lá na [rua] 15 de novembro em vir falar conosco. A maioria preferiu se omitir, não passar qualquer informação para a polícia por receio de represália por parte da marginalidade. Mas a gente quer deixar bem claro que qualquer pessoa que tenha informação pode vir falar conosco pessoalmente ou entrar em contato pelo telefone 197. A pessoa não precisa se identificar e será ouvida como testemunha protegida judicialmente. Tomam-se todas as cautelas para preservar essas pessoas que estejam pré-dispostas a nos ajudar.

CONTATO – Por que Pedrosa foi assassinado?
Delegado Rodrigues
– O motivo determinante do assassinato até o presente momento não se tem. São múltiplas as histórias que giram em torno da morte do Ismael Pedrosa. Uns dos fatores principais, acredito, é o fato dele ser um ícone do sistema prisional do estado de São Paulo. Isso realmente gerou indignação por parte da população carcerária. Ele [Pedrosa] foi responsável pela implantação de vários regimes disciplinares no sistema prisional e isso, acredito, levou a um clima de indisposição da marginalidade recolhida no sistema prisional à pessoa dele.


Execução sumária – Jornal CONTATO, edição 246, outubro de 2005


“O Honda Civic deslizava silenciosamente pela rua Coronel Augusto Monteiro, em frente a casa onde a médica Eulália, seqüestrada em 2001, mantinha seu consultório. O pai, José Ismael Pedrosa, acabara de sair de um evento familiar, depois de votar “SIM” no referendo nacional sobre o comércio de armas e munição. Pedrosa olhou para a casa e recordou uma história que ele queria esquecer. “É um assunto que eu não quero tocar. É um assunto morto, encerrado e agradeço muito a proteção de Deus, e até mesmo a forma com que [os seqüestradores] agiram com minha filha, com todo respeito, sem tocar um dedo nela.” Foi assim que o temível domador de presos considerados perigosíssimos se referiu ao episódio na entrevista que concedeu com exclusividade para CONTATO, edição 234, em agosto de 2005.
Pedrosa temia que os bandidos ainda cumprissem a promessa de seqüestrar a netinha que tanto amava. A ficha só caiu quando um Fox, da Volks, se aproximou de forma perigosa. Testemunhas assustadas, que pedem para não ter seus nomes revelados, contam que havia mais um carro e uma moto dando cobertura.
Lances cinematográficos se seguiram. Pedrosa faz uma manobra brusca. Há quem afirme que ele já havia recebido um tiro. Tenta dar uma ré, perde o controle do carro, bate na mureta e no poste. O Fox pára e dele desce o carrasco frio. O bandido se aproxima e atira à queima roupa. Foram 11 tiros. A maioria dirigida de forma certeira para a cabeça branca de Pedrosa.
Restam poucas dúvidas que naquele instante o PCC cumpria uma velha promessa: eliminar o homem que, por razões ainda não conhecidas, não aceitou fazer parte do esquema que está cada vez mais enraizado em todas as esferas do sistema penitenciário nacional. A morte de Pedrosa significa o fim de um ciclo. O ex-diretor da casa de Custódia de Taubaté e da Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, sabia mas recusava-se admitir que o crime organizado tornou-se uma realidade”.


 

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