A resposta de um aluno do teceiro colegial
foi o suficiente para que detonasse em JC Sebe a curiosidade
a sobre o que se pensa a respeito do meu, do seu, do nosso
querido Vale do Paraíba. Confira.
Indignado,
um caro amigo, professor de língua portuguesa, mandou-me
uma mensagem que dimensionava o seu desespero temperado
com a falta de esperança no futuro dos jovens vestibulandos.
A perplexidade vinha vazada na seguinte resposta dada numa
prova do terceiro ano colegial de reputada escola de São
Paulo que diz preparar “os futuros líderes
do país”.
Questão: “Faça uma
análise sobre a importância do Vale do Paraíba”
Resposta de um aluno: “O Vale do Paraíba
é de suma importância, pois não podemos
discriminar esses importantes cidadãos. Já
que existem o Vale-Transporte e o Vale do Idoso, por que
não existir também o Vale do Paraíba?
Além disso, sabemos que os Paraíbas (sic),
de um modo geral, trabalham em obras ou portarias de edifícios
e ganham pouco. Então, o dinheiro que entra no meio
do mês (que é o Vale), é muito importante
para ele equilibrar sua economia”.
Fiquei estarrecido entre a leitura de uma possível
piada e a gravidade da lógica do tal “aluno”,
e, entre o riso e o desapontamento, precisei de um tempo
para pensar melhor. Tentei, aos poucos, me acalmar e aspirei
o equilíbrio. Para tanto, logo apelei para os bons
exemplos de alunos que conheço e que não cometeriam
tal barbaridade, mas, não tive com ocultar certa
inquietação.
Não foi apenas o desconhecimento do nosso Vale que
me afligiu. Não. Sinceramente, a ousadia da explicação
fez-me ligar o sinal de alerta máximo contra o atual
estado de coisas. Ao decompor o termo “Vale do Paraíba”
e dar um quilate diferente às palavras “vale”,
“do” e “Paraíba”, o estrategista
aluno fez uma exegese que preocupa menos pela ousadia interpretativa
e mais pela improvisação com que fundamenta
tal besteira. Fora o preconceito contra os Paraibanos (não
“Paraíbas”) que estariam fadados a trabalhar
“em obras ou portarias de edifícios e ganham
pouco”, há mais o que ver na afirmativa do
estudante.
Aprofundemos o caso: há um olhar de classe social
na resposta de alguém que vê o outro por meio
de uma perspectiva estratificada, congelada e hierárquica.
Isto, diga-se, fica patente, sobretudo, ao mostrar a leitura
da palavra “Vale”. Perfeitamente inscrita em
uma leitura de política paternalizadora, o “vale”
concedido aos pobres seria uma espécie de passaporte
à eternidade da pobreza. Enfim, poderia fazer tantas
ilações sobre esta infeliz resposta que gastaria
o seu tempo de leitor e o meu de cronista para chegar a
lugar nenhum. Aliás, é sobre a questão
do lugar do Vale do Paraíba na cultura nacional que
resta falar.
Independentemente das banalidades justificadas pelo aluno,
cabe questionar de maneira mais arguta sobre o nosso papel,
de valeparaibanos, no panorama geral do país. Afinal
– e esta questão guarda um sabor de fatalidade
– será que somos tão desconhecidos a
ponto de mesmo no estado de São Paulo não
termos reconhecimento regional? Teríamos razões
para motivar o delírio do candidato ao vestibular?
O Vale do Paraíba, o nosso “querido torrão
de tantas tradições”, com dizia o saudoso
Emilio Amadei Behring, tem um lugar definido na percepção
nacional brasileira. Será? Confesso que ando preocupado
com isso.
Recentemente, em conversa com amigos, em um lançamento
de livro, questionei sutilmente sobre o que cada um sabia
do meu Vale querido. As respostas foram vagas. Uns, historiadores,
lembravam Lobato, Georgina Albuquerque, Rodrigues Alves.
Outros, mais musicais, falavam de Renato Teixeira, Mazzaropi,
Celly Campelo, alguns lembraram de Alckmim e houve até
alguém que disse que era uma região bonita
que ficava entre São Paulo e Rio, a serra da Mantiqueira
e a do Mar. Voltei triste para casa. E resolvi escrever
esta crônica como desafio: o que fazer para dar ao
Vale um vale de reconhecimento nacional?