Espelhos (clique)

Por: José Carlos Sebe Bom Meihy

Lennon,
Nova York
e as minhas noras...

 

Mestre JC Sebe confidencia para os leitores sua paixão pelas meninas que ele levou para a cidade que é sua favorita fora do Brasil e a fixação que tem por John Lennon, cujas músicas não lhe saem da cabeça.

 


Noras de Sebe no Central Park, em frente ao memorial em homenagem a John Lennon Imagine

Como este ano voou?! Nem acredito que novamente começamos a safra dos balanços e análises sobre o peso deste 2006: conturbado, estranho, diferente e até amedrontador pelas projeções. Em nível coletivo, a frustrante Copa do Mundo e a não menos deprimente Campanha Presidencial convocam nossas resistências para a reformulação de sonhos a ser transpostos em céus melhores.


É lógico que muitas coisas boas ocorreram, mas, em meu caso, estas quase sempre se deram no campo pessoal. Aliás, se julgar pela própria experiência este foi um ano bom. Começo sempre o inventário dos acontecimentos pela sinalização deixada pelo ídolo John Lennon que, afinal, morreu no dia 8 de dezembro. Então, esse dia detona o trabalho de memória sobre o passado recente e abre a temporada do que será saudade.


Talvez, independentemente dos bons resultados profissionais, o ponto alto de meu ano tenha sido uma viagem que fiz com minhas noras. Sim, deixei os filhos e netos e saí com minhas meninas, esposas de meus filhos. Devo dizer que a cada ano formulo um “tema” para cuidar no transcurso dos 365 dias que se seguem ao 31 de dezembro; nesses casos, sempre procuro iluminar alguns cantos pouco prezados no cotidiano comum.


Pensando nos resultados dessa investida, desde que elegi as minhas noras como foco da atenção anual, sinto-me plenamente realizado. Até porque comecei o 2006 com duas e acabei com três, posso dizer que ganhei em todas as direções.


Mas deixe-me envolvê-las na história: em abril – eram ainda apenas duas - decidi que tiraria dias de férias. É lógico que isto não ocorreria sem alguma desculpa acadêmica. Um convite da Universidade de Columbia me levaria a mais uma deliciosa visita a Nova York. Foi o que bastou: juntei as meninas e mandamo-nos para a Big Apple. Que aventura?!...


Fui disposto a realizar todas as fantasias turísticas delas e assim o tempo era para os programas que elas decidissem. Confesso que houve loja demais para meu gosto e paciência, mas elas se realizaram colecionando itens para os filhos/netos e... para os maridos/filhos. De minha parte poucas exigências: ir duas vezes à Ópera e visitar amigos queridos em Washington, DC. Contava também com a possibilidade de levá-las ao maior número possível de restaurantes exóticos e acho que elas só não voltaram mais gordinhas pelo tanto que andamos em uma semana.


No Lincoln Center, vimos Carmem, de Bizet, e Lohengrin, de Wagner. A primeira foi fácil, alegre, mas a segunda, em suas cinco horas de duração, foi algo demais. Em DC passamos um tempo delicioso perdidos entre as obras de arte na National Gallery. Aliás, fizemos uma pequena gincana de museus que afinal justificou o passeio pela capital. Contemplando agora a série de fotos tiradas, contudo, percebo que a memória de Lennon ainda governa minhas escolhas nova-iorquinas.


Foi pelo Strawberry Field, em frente ao apartamento em que o Beattle morava no aprazível Central Park, que iniciamos nossa peregrinação. O conjunto de elementos simbólicos desse início de viagem me é caro por vários motivos: não apenas por aquele Beattle ser ícone de minha geração; por Nova York ser minha cidade favorita fora do Brasil ou pela companhia das minhas noras, mas, sobretudo, por permitir ordenar a avaliação desta viagem com a data em que se comemora seu cruel assassinato, ocorrido há 26 anos.


Cabe lembrar que Lennon criou outras melodias além do Imagine e elas se tornam oportunas como uma trilha sonora que combina com aqueles dias inesquecíveis. Penso, por exemplo, em em “Love” e até ouço “Love is free/free is love/Love is living/living love/Love is needing to be loved”, ou em minha tosca tradução: “O amor é livre/livre é o amor/Amor é vida/vivendo amor/O amor é precisar ser amado!”.


Pensando bem, já que o ano foi tão árduo no plano coletivo, quem sabe reeleger minhas noras – que agora são três – como tema para o próximo ano não traria uma contaminação melhor, pois, afinal, como dizia o próprio Lennon em “Another for another” elas sintetizam a graça de meu viver: “Isso é tudo o que eu quero, não preciso de mais”.

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