Como este ano voou?!
Nem acredito que novamente começamos a safra dos
balanços e análises sobre o peso deste 2006:
conturbado, estranho, diferente e até amedrontador
pelas projeções. Em nível coletivo,
a frustrante Copa do Mundo e a não menos deprimente
Campanha Presidencial convocam nossas resistências
para a reformulação de sonhos a ser transpostos
em céus melhores.
É lógico que muitas coisas boas ocorreram,
mas, em meu caso, estas quase sempre se deram no campo pessoal.
Aliás, se julgar pela própria experiência
este foi um ano bom. Começo sempre o inventário
dos acontecimentos pela sinalização deixada
pelo ídolo John Lennon que, afinal, morreu no dia
8 de dezembro. Então, esse dia detona o trabalho
de memória sobre o passado recente e abre a temporada
do que será saudade.
Talvez, independentemente dos bons resultados profissionais,
o ponto alto de meu ano tenha sido uma viagem que fiz com
minhas noras. Sim, deixei os filhos e netos e saí
com minhas meninas, esposas de meus filhos. Devo dizer que
a cada ano formulo um “tema” para cuidar no
transcurso dos 365 dias que se seguem ao 31 de dezembro;
nesses casos, sempre procuro iluminar alguns cantos pouco
prezados no cotidiano comum.
Pensando nos resultados dessa investida, desde que elegi
as minhas noras como foco da atenção anual,
sinto-me plenamente realizado. Até porque comecei
o 2006 com duas e acabei com três, posso dizer que
ganhei em todas as direções.
Mas deixe-me envolvê-las na história: em abril
– eram ainda apenas duas - decidi que tiraria dias
de férias. É lógico que isto não
ocorreria sem alguma desculpa acadêmica. Um convite
da Universidade de Columbia me levaria a mais uma deliciosa
visita a Nova York. Foi o que bastou: juntei as meninas
e mandamo-nos para a Big Apple. Que aventura?!...
Fui disposto a realizar todas as fantasias turísticas
delas e assim o tempo era para os programas que elas decidissem.
Confesso que houve loja demais para meu gosto e paciência,
mas elas se realizaram colecionando itens para os filhos/netos
e... para os maridos/filhos. De minha parte poucas exigências:
ir duas vezes à Ópera e visitar amigos queridos
em Washington, DC. Contava também com a possibilidade
de levá-las ao maior número possível
de restaurantes exóticos e acho que elas só
não voltaram mais gordinhas pelo tanto que andamos
em uma semana.
No Lincoln Center, vimos Carmem, de Bizet, e Lohengrin,
de Wagner. A primeira foi fácil, alegre, mas a segunda,
em suas cinco horas de duração, foi algo demais.
Em DC passamos um tempo delicioso perdidos entre as obras
de arte na National Gallery. Aliás, fizemos uma pequena
gincana de museus que afinal justificou o passeio pela capital.
Contemplando agora a série de fotos tiradas, contudo,
percebo que a memória de Lennon ainda governa minhas
escolhas nova-iorquinas.
Foi pelo Strawberry Field, em frente ao apartamento em que
o Beattle morava no aprazível Central Park, que iniciamos
nossa peregrinação. O conjunto de elementos
simbólicos desse início de viagem me é
caro por vários motivos: não apenas por aquele
Beattle ser ícone de minha geração;
por Nova York ser minha cidade favorita fora do Brasil ou
pela companhia das minhas noras, mas, sobretudo, por permitir
ordenar a avaliação desta viagem com a data
em que se comemora seu cruel assassinato, ocorrido há
26 anos.
Cabe lembrar que Lennon criou outras melodias além
do Imagine e elas se tornam oportunas como uma trilha sonora
que combina com aqueles dias inesquecíveis. Penso,
por exemplo, em em “Love” e até ouço
“Love is free/free is love/Love is living/living love/Love
is needing to be loved”, ou em minha tosca tradução:
“O amor é livre/livre é o amor/Amor
é vida/vivendo amor/O amor é precisar ser
amado!”.
Pensando bem, já que o ano foi tão árduo
no plano coletivo, quem sabe reeleger minhas noras –
que agora são três – como tema para o
próximo ano não traria uma contaminação
melhor, pois, afinal, como dizia o próprio Lennon
em “Another for another” elas sintetizam a graça
de meu viver: “Isso é tudo o que eu quero,
não preciso de mais”.