Maquina de Calcular
de 2 mil anos

 

Mestre Marmo mostra que cientistas acabam de concluir que um instrumento utilizado para cálculos astronômicos, construído na Grécia por volta do século 2 a.C., era tão complexo que pode ser considerado precursor dos atuais máquinas de calcular, com uma complexidade muito maior do que se supunha, superior a de qualquer tecnologia criada nos mil anos seguintes.


Segundo estudo recentemente divulgado, o Mecanismo de Anticítera, resultado da engenhosidade dos gregos antigos, era mais sofisticado tecnologicamente do que qualquer outro mecanismo inventado por qualquer outra civilização pelo menos nos mil anos seguintes. Os resultados da pesquisa estão na edição de 30 de novembro da revista Nature e serão comentados em uma conferência em Atenas, nos dias 30 de novembro e 1º de dezembro.


O grupo, liderado por Mike Edmunds e Tony Freeth, da Universidade de Cardiff, no País de Gales, empregou tecnologias de imagem e de tomografia em raio X em alta reso-lução para estudar os fragmentos remanescentes do mecanismo.


O dispositivo era capaz de calcular movimentos astronômicos com precisão notável, maior do que se supunha até agora. O computador mecânico permitia acompanhar os movimentos da Lua – inclusive recriando sua órbita irregular –, do Sol, de alguns planetas e até prever eclipses.

 

A descoberta

O Mecanismo de Anticítera foi descoberto em 1901 por um grupo de mergulhadores que apanhavam esponjas nas proximidades da ilha de Anticítera. As peças foram retiradas de um navio a 42 metros de profundidade. A data estimada do naufrágio é 65 a.C.


Um .dos mergulhadores teve uma surpresa e tanto: no que descreveu aterrorizado ao seu capitão como “um monte de mulheres nuas e mortas”. Em realidade, ele tinha visto estátuas de bronze, apenas parte do magnífico tesouro que permanecera perdido por quase dois mil anos .


O mais valioso artefato recuperado deste carregamento, porém, passou inicialmente despercebido. Quando retirado das águas, seria algo como uma caixa de madeira carcomida, do tamanho aproximado de uma caixa de sapatos. Devido às condições precárias, o objeto logo se desfez em pedaços, mas por outro lado permitiu que percebessem algumas engrenagens agora expostas, e o artefato passou a ser conhecido como o mecanismo de Anticítera.


De acordo com o novo estudo, o achado consiste em um engenhoso arranjo com pelo menos 30 engrenagens de alta precisão, todas feitas de bronze. As peças ficavam dentro de uma caixa coberta com inscrições.


Os pesquisadores foram capazes de reconstruir as funções das engrenagens e dobrar o número de inscrições decifradas nas peças – tais como “ponto estacionário”, “eclipse lunar” e “eclipse solar”. O número de engrenagens foi estimado em 37. Recons-truções tridimensionais feitas em computador sugerem como o dispositivo pode ter funcionado.


“Trata-se de um dispositivo extraordinário, o único do tipo. Além da precisão para fazer cálculos astronômicos, tinha um lindo desenho. A maneira como as partes mecânicas foram projetadas é de cair o queixo. Quem quer que o tenha construído, o fez extremamente bem”, disse Edmunds, em comunicado da Universidade de Cardiff.


Números representavam os movimentos dos planetas e as engrenagens atuavam como representação mecânica das idéias aceitas no século 2 a.C., como a que conside-rava que as irregularidades dos movimentos da Lua no céu sobre a Terra se deviam a uma possível órbita elíptica do satélite.


Os pesquisadores pretendem construir um modelo em computador com todos os movimentos do Mecanismo de Anticítera e, em seguida, uma réplica funcional. “O mecanismo levanta a questão de o que mais estava sendo feito naquele período (na Grécia Antiga). Em termos de valor histórico, trata-se de algo mais valioso do que, por exemplo, a Mona Lisa.”


O artigo Decoding the ancient Greek astronomical calculator known as the Antikythera Mechanism, de T.Freeth, M.G.Edmunds e colegas, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

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