Ex-assessora parlamentar do deputado padre Afonso Lobato (PV), afastada em 2013 após as eleições de 2012, assume o mandato por cinco semanas no Legislativo (na foto, o ódio estampado no olhar de Rodrigo Andrade, atual marido, ao ver o repórter do Jornal CONTATO)

 

Como vereadora, Andreia em plena sessão da CMT

Andreia Lúcia Gonçalves da Silva (SD) é pré-candidata a prefeito na terra de Lobato e primeira suplente de vereador na coligação que elegeu Luizinho da Farmácia (Pros). Ela assumiu pela segunda vez o mandato na sessão de segunda-feira, 23,  pelo menos durante as próximas  ficará cinco semanas no lugar do titular, que é líder do governo na CMT  que tirou licença de saúde.

No início do governo Ortiz Junior  (PSDB) em 2013, Andreia assumiu a secretaria de Meio Ambiente como parte do acordo estabelecido com o deputado estadual Padre Afonso, pelo apoio dado ao prefeito eleito no segundo turno em 2012. Uma história muito pouco ou mal contada até hoje.

A nova vereadora pretende aproveitar esse período para se fortalecer na disputa eleitoral desse ano quando será candidata a prefeita. Ou, quem sabe, apenas uma carta para ser usada pelo prefeito Ortiz Jr, candidatíssimo à reeleição, no jogo que é jogado nos bastidores.

Em 2012, Andreia, então candidata a vereadora pelo PR, obteve 1.457 votos.

História sinuosa

É antiga e pouco conhecida a saga da “família real”, como é conhecida o grupo formado pela mãe, irmã e marido de Andreia Gonçalves, que durante muito tempo gravitou em torno do mandato do deputado estadual Padre Afonso Lobato (PV). Como começou, ainda é um mistério. As mulheres são oriundas da vizinha Cruzeiro. Rodrigo Andrade, o Rolha, atual marido de Andreia, é taubateano da gema.

CONTATO só tomou conhecimento dessa “família real” em 2005. E assim mesmo por puro acaso, fruto do jornalismo investigativo que norteia o jornal.

           Parte da chamada “Família Real” que cercava Padre Afonso: a matriarca Idalina, à esquerda,

e à direita Rodrigo de camisa azul ao lado da cunhada Márcia

                  Em 2005, vivia-se o primeiro ano do mandato do famigerado prefeito Roberto Peixoto, eleito com o apoio da famiglia Ortiz para ser o sucessor do patriarca Bernardo, que se recusava disputar a reeleição. Provavelmente, seria eleito com um pé nas costas. A prova maior ficou por conta do resultado daquele pleito.

Quase toda a famiglia se aboletou no Palácio do Bom Conselho. Desde Ortiz Júnior como assessor especial com trânsito livre no governo, até a matriarca Jandira, titular de uma secretaria cobiçadíssima pela primeira-dama Luciana, ainda aprendiz de malandragens com recursos públicos. Mas durou pouco essa lua de mel. Em pouco tempo, o prefeito Roberto Peixoto receberia do mesmo título de Iscariote concedido aos dois outros sucessores, Salvador e Antônio Mário.

O rompimento, porém, não foi provocado pela conduta pouco republicana do prefeito em exercício. A ciumeira, principalmente de Luciana, teve um peso muito maior. E quase nada pelos episódios que se seguiram ao revelado por CONTATO a respeito da compra de um apartamento em Ubatuba, na rua Hans Staden.

Se o apartamento falasse…

CONTATO revelou que em abril de 2005 os Peixoto “compraram” um apartamento em Ubatuba por R$ 120 mil. O malabarismo para “adquirir” esse imóvel é capaz de corar os envolvidos acusados pela Operação Lava Jato. Uma das estrelas desse espetáculo foi o casal Andreia Gonçalves e Rodrigo Andrade, o “Rolha”. Andreia era então funcionária do gabinete do deputado Padre Afonso Lobato (PV) – assistente parlamentar e “Rolha” o chefe de gabinete respectivamente.

CONTATO recebeu uma informação devidamente comprovada dando conta do negócio feito entre Andreia e seu ex-marido como intermediários na “aquisição” de um apartamento em Ubatuba pela família Peixoto. No contrato de compra e venda apareciam os nomes de Adreia como assistente parlamentar e o do então marido.

Imediatamente, CONTATO procurou a Câmara Municipal da capital paulista e seus informantes garantiram que Andreia lá não trabalhava. O passo seguinte foi fazer a mesma pesquisa na Assembleia legislativa. O bom relacionamento com o deputado Padre Afonso seria um bom caminho. Um telefonema e o resumo do que se tratava foram suficientes para abrir caminhos. Porém, quando foi revelado o nome de Andreia houve um silêncio sepulcral por parte do padre deputado. A conversa se encerrou com a promessa de que o parlamentar checaria a informação pedida junto a ALESP.

Mas, como dizia dona Jurema, genitora desse escriba, mentira tem pernas curtas. O silêncio do parlamentar foi interpretado como uma mentira quando depois de mais alguns telefonemas constatou-se que Andreia era funcionária do gabinete do… deputado Padre Lobato (PV).

Pode-se imaginar a quantidade de hipóteses que passaram pelas cabeças de nossos repórteres, antes de chegar aos fatos: Andreia e seu ex-marido teriam sido usados como laranjas de um negócio suspeito e que o deputado nada tinha a ver com o caso, embora soubesse do que rolava. Naquela altura do campeonato, Andreia já estava separada do marido, porém, já havia engatado um novo amor com Rodrigo “Rolha” Andrade. Mas dois fatos nunca foram desvendados: a origem dos recursos usados para pagar o apartamento e se o casal Andreia/Rodrigo sabia de tudo.

Rompimento com a “família real”

As eleições de 2012 colocaram um divisor entre o deputado e a “família real” que vivia dos salários que recebia do gabinete do parlamentar. A divisão de fato consumou-se em outubro de 2013. A edição 616 do Jornal CONTATO estampou na coluna Temperos de Tia Anastácia: “Família ingrata, vade retro – Aconteceu o que muita gente rezava para acontecer: acaba de se desintegrar a “família real” que cercava o deputado Padre Afonso, ocupava quase todos os cargos comissionados e ainda filtrava tudo o que chegava ao parlamentar”.

Em seguida: “Padre Afonso Lobato (PV) parece outra pessoa. O religioso completou 25 anos de sacerdócio e expurgou a “família real” de sua assessoria. Eram membros de uma mesma família – mãe, filhas e cunhados – que exerciam um forte poder de influência sobre o mandato do político. No staff do padre-deputado, eles tinham os maiores salários e eram chamados de “família real” pelos militantes do PV”.

Mas, qual teria sido o verdadeiro motivo? O próprio CONTATO esclarece: “Era evidente demais o favorecimento à representante da “família real” nas eleições de 2012. Na propaganda eleitoral gratuita exibida na TV, Andreia aparecia mais que os outros candidatos da coligação. O favorecimento rachou o grupo e criou sérios problemas políticos e pessoais para Padre Afonso (PV), que não conseguiu conter a ofensiva real”.

Apesar da visível agressividade que havia por parte de Ortiz Júnior em plena campanha eleitoral captada por nossas câmeras, deputado Padre Afonso apoiou-o no segundo turno, depois de ser derrotado pelo petista Isaac do Carmo no primeiro turno 

 Eleições 2016

                      No mato sem cachorro em que se encontra, muita coisa passa pela cabeça do prefeito Ortiz Júnior, cujo foco é a reeleição. Mas, adaptando o que dizia ao poeta, “no meio do caminho tem a Justiça / tem Justiça no meio do caminho”, Andreia poderá ser um dos recursos para dividir os concorrentes ao Palácio do Bom Conselho e abrir mais espaço para a reeleição de Ortiz Júnior. Ou, quem sabe, cacifá-lo ainda mais nas negociações visíveis e/ou sigilosas que antecedem o pleito, caso a Justiça o impeça de registrar sua candidatura à reeleição ou ainda cassá-lo antes de sua posse, caso consiga disputar e vencer o pleito.

Nesse  emaranhado de possibilidades, Andreia poderá ser uma boa carta na manga da camisa do prefeito candidato à reeleição.