Os estudantes protestam contra a utilização de salas para programas do governo estadual que podem prejudicar o ensino; Secretaria de Educação do Estado afirma que o problema é a falta de comunicação. Por Nathália de Oliveira
Desde as primeiras ocupações escolares no final de 2015, o governo do estado enfrenta problemas com escolas e alunos. A aparente boa relação entre governo e munícipes não é mais o suficiente. Na terra de Lobato, os alunos da Escola Estadual Monteiro Lobato, o Estadão, ocuparam a escola desde segunda-feira, 04. Tudo aponta para o principal motivo: falta de comunicação.
O problema no Estadão teve início quando os alunos souberam que em salas da escola seria instalado um Núcleo de Tecnologia. Na segunda ocuparam a escola. De acordo com os alunos, aquele espaço é a parte funcional da escola que abriga a biblioteca e o acesso à internet. A Secretaria Estadual de Educação afirma que houve um equivoco na troca de informações e que alguns alunos foram induzidos pela “fofoca” de que eles perderiam alguns equipamentos. A pasta afirma que está trabalhando para esclarecer as dúvidas.
Segundo a Secretaria, a Diretoria de Ensino de Taubaté informou que o Estadão teria capacidade para abrigar 1000 alunos em cerca de 27 salas. Porém, apenas 230 alunos foram matriculados, gerando espaços ociosos. A fim de otimizar o uso do espaço, a Secretaria utilizaria três salas para o Programa Rede do Saber usadas para a capacitação de professores da cidade realizadas periodicamente e nenhum aluno seria prejudicado. Faltou, porém, a devida comunicação entre o sistema e os alunos, o que gerou a ocupação do Estadão.
A ocupação
A estudante de 17 anos Gabriele Guimarães é uma das líderes que organiza os colegas na ocupação. De acordo com ela, 30 estudantes fazem parte do movimento. Foram eleitos quatro líderes que distribuem atividades para os demais. “Ninguém leva a sério o que o jovem fala. Nós não somos um bando de crianças. Conhecemos os nossos direitos e lutaremos por eles”, afirma Gabriele, ressaltando a falta de comunicação e informações por parte do Estado. A Secretaria de Educação afirma que os equipamentos e ferramentas disponíveis nesta área do prédio serão levados para toda a unidade e que não haverá prejuízo no ensino por falta de materiais.
A ocupação começou às 6h:50 de segunda-feira, 04, primeiro dia do recesso escolar dos jovens. As aulas do primeiro semestre terminaram na sexta-feira, 01. Ainda na segunda, os jovens assistiram palestras sobre pensamento crítico e de atividades culturais com o apoio .da sociedade civil organizada.
Na terça-feira, 05, houve uma reunião entre os alunos, a diretoria de ensino e representantes da Secretaria de Educação, porém, nenhum acordo foi feito. De acordo com Gabriele, os jovens só desocuparão a escola depois que seja formalizado o compromisso de que não instalarão o Núcleo de Tecnologia na ala funcional da Escola.
Enquanto isso, os jovens pedem que os moradores doem alimentos para que eles possam realizar as refeições na escola. “Estamos recebendo muito apoio da sociedade civil na nossa luta”, afirma Gabrielle.
Causas externas
Os primeiros movimentos de ocupação de escolas estaduais paulistas aconteceram no final de 2015, depois que o governo anunciou a reorganização do sistema escolar que atingiria um total de 94 unidades no Estado. A Secretaria de Educação chegou a anunciar que 311 mil alunos dos 3,8 milhões matriculados teriam de mudar de escola. A mudança atingia ainda 74 mil professores.
Com a reorganização, alunos que estudavam há anos em uma escola teriam que mudar de unidade que em alguns casos eram distantes de onde moravam. Em protesto contra a mudança no sistema, os estudantes ocuparam diversas escolas do Estado.
Um mês atrás, alunos ocuparam a Escola Técnica Geraldo José Rodrigues Alckmin em Taubaté em protesto pela ‘merenda seca’ e falta de infraestrutura da unidade. Cerca de 200 alunos participam da ocupação. O protesto foi um reflexo da “Operação Alba”, que investiga a Máfia da Merenda no Estado. Desde o início da investigação, os alunos recebiam apenas bolachas de água e sal e sucos e achocolatados de caixinha para passar nove horas de aula no Centro que também oferece cursos profissionalizantes.