Apesar do ótimo relacionamento com o prefeito Ortiz Júnior (PSDB), Fonseca afirma que o Legislativo será independente e nega que tenha ocorrido traições que teriam garantido sua vitória
Nathália de Oliveira
Vereador Diego Fonseca (PSDB) foi eleito por seus pares, no domingo 01, como o novo presidente da Câmara Municipal de Taubaté. A novidade é que seu mandato será por dois anos quando até o ano passado a duração era de um ano. Vencedor pela estreita margem de 11 votos a 8 em uma eleição polêmica (detalhes no link), em que vereadores do PV, Dentinho e Bobi, não votaram em seu colega de partido Vanone e escolheram o candidato da base aliada do Prefeito Ortiz Júnior.
Diego Fonseca é morador do bairro Parque Aeroporto, mas é natural de Jacareí. Foi eleito pela primeira vez em 2012 com 2.423 votos, retornou para a nova legislatura como o quarto mais votado com 3.526 votos. Casado e pai de uma filha, o novo presidente garante que, apesar de ser aliado de Ortiz Júnior, a Câmara será independente e não receberá ordens da Prefeitura.
Confira a entrevista completa:
Jornal Contato: Como que o senhor entrou para a política?
Diego Fonseca: Iniciei a minha carreira política em 2008. Foi minha primeira eleição e não obtive êxito. Naquela época eu tive 1.370 votos. Só que antes disso eu já tinha um sonho. Em São José dos Campos, quando eu estudava na ETEP, conheci o [ex-prefeito] Emmanuel [Fernandes (PSDB)] e [foi ele] que me despertou um sentimento de fazer parte da vida pública. E fui buscando isso, trabalhando na comunidade. Trabalhos voluntários e sociais.
JC: O senhor comandará pela primeira vez a Câmara por dois anos. Esse fato pode alterar no funcionamento do Legislativo?
DF: Vai ser um mandato diferente, né? Diferente porque acredito agora que o presidente, independente de ser eu o primeiro, terá a oportunidade de fazer um trabalho com mais planejamento. Acredito que vai ser melhor até para a Câmara Municipal. Quando se tem eleição, querendo ou não, se tem um desgaste. Mas acho que isso vai ser benéfico.
JC: Quais são seus principais objetivos?
DF: O primeiro é a transparência total. O segundo é chamar os 19 vereadores para fazermos um mandato para a cidade de Taubaté, acima de tudo. Vamos ter que conciliar várias coisas porque são 19 pessoas pensando de forma diferente. É claro que eu não vou colocar nada goela abaixo de ninguém. Apesar de ser do mesmo partido do prefeito, nós vamos dar sim sustentação para ele [prefeito], mas nós não vamos fazer simplesmente aquilo que a prefeitura mandar. Eu acho que os poderes são harmônicos entre si, mas são poderes independentes.
JC: Sendo da base aliada do prefeito, como será a independência da Câmara?
DF: Não irá afetar em nada. Embora eu tenha um relacionamento ótimo com o prefeito, nós temos que olhar o que é bom para Taubaté. Isso eu já deixei bem claro para o prefeito quando coloquei a minha candidatura. Nós fizemos uma reunião do PSDB na casa do Ortiz Júnior. Eu, o vereador Digão, o vereador Bilili e o prefeito. Depois da eleição, nós tivemos um desgaste por conta da situação do prefeito. E aí nós sentamos e lavamos a roupa [suja]. Colocamos tudo a limpo. O prefeito perguntou para os vereadores se alguém tinha o desejo de ser candidato a presidente e, se não [tivesse], qual seria o nome que iríamos apoiar. Digão e Bilili disseram não. Eu coloquei a minha candidatura naquele momento a disposição. Ortiz disse que não poderia dar o apoio porque tinha dois vereadores da base, até então: Alexandre [Vilella] e eu. E me disse que para ser candidato eu teria que ter votos. Ele perguntou pro Digão e pro Bilili se eles votariam na minha candidatura e, até então, eles disseram que sim. Mas eu entendo plenamente que o voto do vereador é individual e intransferível. Os dois acabaram por entender que a candidatura do vereador Vanone era mais viável que a minha. No entanto, tivemos a adesão de dois vereadores do PV. Nós fomos conversar com o Padre Afonso que disse que ele estava propenso a apoiar a candidatura até então do Alexandre [Vilella] da Metropolitana. Disse para os vereadores que eles estariam livres para votar. É claro que ele deve ter pedido, de repente, para os vereadores votarem depois no Vanone, que acabou sendo candidato. Primeiro era o Alexandre, que desistiu, e depois o Vanone. Os vereadores Dentinho e Bobi me disserem que a candidatura [do Vanone] foi uma surpresa para eles. Quando fomos conversar com o deputado o candidato não era o Vanone, era o Alexandre. E ali, naquele momento, eles assumiram o compromisso conosco por acreditar no novo. Esse foi o nosso trabalho. A minha candidatura foi pautada no diálogo, na transparência e na honestidade. Não fiz jogo sujo com ninguém. E foi assim que nós conseguimos conquistar os votos.
JC: O senhor conversou com o vereador Vanone antes da eleição?
DF: Vereador Vanone me ligou no sábado, um dia antes da eleição, me desejando boa sorte na eleição e disse que ele estava também na eleição por acreditar que poderia fazer um bom trabalho. Foi uma conversa bem gostosa, bem amigável.
JC: Os vereadores Douglas Carbonne (PCdoB) e Nunes Coelho (PRB), que eram da oposição, apoiaram o senhor. O que os fez mudar?
DF: Foi um trabalho de construção. Conversei com os vereadores Douglas e Nunes e expliquei que a minha candidatura é independente. Sou do partido do prefeito, mas temos que separar as coisas. Por mais que eu tenha um relacionamento com o prefeito, eu não posso simplesmente dizer que iremos segui-lo. O que eu não vou fazer também em nenhum momento é oposição ferrenha ao prefeito porque não é esse o papel da Câmara Municipal. O [nosso] papel é fiscalizar o Executivo, mas acima de tudo fazer um bom trabalho para Taubaté. A nossa candidatura tem vereador da base e da oposição porque eles acreditam. Aqui não irei fazer manipulação e jogo.
JC: Douglas Carbonne afirmou para o CONTATO que haverá muitas mudanças na Câmara, inclusive, demissões. Quais as alterações serão realizadas?
DF: Sim, vão acontecer alterações sim. Já conversei com o Douglas e com o Nunes, mas nós ainda temos que conversar com a Mesa Diretora e depois com os demais vereadores. Mudanças serão feitas, aliás, elas já começaram. Chamei o Diretor Geral da Casa e iremos fazer algumas reformulações, inclusive de cargos efetivos. Entendemos que precisamos dar uma oxigenada em algumas questões e iremos fazer mudanças sim.
JC: O senhor disse que os vereadores Digão e Bilili afirmaram que votariam no senhor. Porém, isso não aconteceu. Isto causou problemas de relacionamento na bancada tucana?
DF: Não, de forma alguma. Eu sei separar muito bem uma coisa da outra. Aqui não tem revanchismo e não terá retaliação. Até mesmo porque esse não é o meu perfil. Meu perfil é de conciliar. E a gente vai precisar dos vereadores do PSDB.
JC: Após a eleição, fala-se muito de grupos. Os vereadores estão divididos? Existem panelinhas?
DF: Isso é uma forma de rotular “o grupo de lá” e o “grupo de cá”. Mas, passada a eleição, isso acaba. E [quero] deixar bem claro que não existem traições. Os dois vereadores do PSDB não votaram em mim, só por isso são traidores? Não! Até mesmo fazendo uma defesa dos vereadores Bobi e Dentinho. Não é porque votaram no Vanone que isso foi traição. Eu vejo isso como escolha. Para você ter uma ideia, quando eu fiz o meu primeiro almoço, os vereadores do PV participaram, inclusive o Vanone. E ele achou que a candidatura do nosso grupo era muito boa e que tinha que sair sim. Só que por motivos pessoais ele não quis participar do grupo. Ele foi participar do almoço do grupo deles, que era do Alexandre, Digão e Bilili. Inclusive os três vereadores do PV foram nesse almoço para escutar a proposta. E já nesse primeiro encontro houve um entrave entre os vereadores Bilili e o Vanone. Então, veja como são dinâmicas as relações. Tem esses bastidores da eleição da Mesa e a gente tem que respeitar. E eu respeito todos os vereadores do PSDB que não votaram em mim e os do PV que entenderam que precisamos de uma administração nova.