Os parlamentares da Casa de Leis aprovaram moção de repúdio de autoria da Vivi da Rádio (PSC) e Noilton Ramos (PPS), que versa sobre cristofobia, zoofilia e pedofilia na exposição Queermuseu, em Porto Alegre.
Na sessão desta segunda-feira, 25, foi aprovada na Câmara Municipal uma moção de repúdio à Fundação Santander pela exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”. A ação é de autoria da Vivi da Rádio (PSC) e Noilton Ramos (PPS).
O preceito dos parlamentares autores da moção é de que a exposição foi um “desrespeito a família religiosa, princípios e valores morais”. Além disso, os vereadores alegam que a exposição promoveu cristofobia, zoofilia e pedofilia.
A mostra foi patrocinada pelo Banco Santander e Governo Federal, por meio da Lei Rouanet, e exposta no Museu do Santander Cultural da cidade de Porto Alegre. Foram ao todo 270 obras de 85 autores diferentes, inclusive com obras assinadas por Cândido Portinari, Adriana Varejão e Lygia Clark.
Durante a sessão, praticamente todos os vereadores presentes votaram a favor da moção de repúdio. O único parlamentar que discordou e votou contra foi a vereadora Loreny (PPS), para a surpresa de Nunes Coelho (PRB), que era o presidente em exercício no momento da votação.
Em contato com a reportagem, Loreny explicou que respeita a visão dos pares, mas o descontentamento pode beirar algo mais sério.
“Respeito a opinião dos vereadores, porém, votei contrária pois tenho preocupação quando o descontentamento relacionado a demonstração artística beira a linha tênue da censura”, disse.
A vereadora taubateana compartilha da mesma visão do curador do museu, Gaudêncio Fidelis, que disse em entrevista ao jornal O Globo o seguinte: “já fiz duas bienais do Mercosul, nunca tinha visto algo parecido. As manifestações foram muito organizadas e se debruçaram sobre algumas obras muito específicas, que não dão a verdadeira dimensão da exposição. Esses grupos [de críticos] mostraram uma rapidez em distorcer o conteúdo, que não é ofensivo”.
Loreny chamou a atenção para o fato de que a realidade do mundo LGBT é pouco debatida e discutida, o que gera uma revolta em situações como a do Queermuseu.
“Também acredito que precisamos aprofundar nossos conhecimentos sobre os assuntos debatidos para evitarmos julgamentos rasos. Por exemplo, uma obra exposta nessa exposição era o trabalho de uma artista que sofreu violência quando criança e a pintura fazia parte do seu tratamento psicológico. Precisamos sim debater estes assuntos, mas de forma mais complexa e ampla”, ressaltou a vereadora.
Após a aprovação na Câmara, a moção agora segue para analise e resposta do prefeito Ortiz Junior (PSDB).
Repercussão
A mostra no Museu Santander Cultural já estava em exposição há um mês, porém, ela ganhou notoriedade após manifestações do Movimento Brasil Livre (MBL), que pediu o encerramento da exposição e ainda pregou um boicote ao banco Santander.
Perante a brusca repercussão que o assunto gerou nas redes sociais, o Santander, primeiramente, esclareceu que as obras tinham sido criadas para “refletir sobre os desafios que devemos enfrentar em relação as questões de gênero, diversidade, violência e entre outros”.
Todavia, a pressão foi maior do que o banco imaginava e que acabou fechando a mostra, que terminaria no dia 8 de outubro, após o clamor especialmente de grupos de direita na internet.
No plenário
Alguns parlamentares falaram sobre e elogiaram a moção de Vivi da Rádio e Noilton Ramos, como a vereadora Graça (PSD), Douglas Carbonne (PC do B), Dentinho (PV) e Nunes Coelho (PRB).
Na tribuna, Vivi da Rádio, autora da moção, quis esclarecer os seus motivos. “Eu não estou repudiando a arte, eu estou colocando por mim. Eu estou repudiando o acontecimento de levarem crianças de escolas públicas até o local. Desde que quem goste vá e admire a arte, eu respeito. Eu respeito o próximo e a opinião das pessoas, mas levar crianças para ver esse tipo de apresentação de artes, eu estou repudiando”.
Debate LGBT
Defensora declarada do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) na Câmara, Loreny já foi duramente criticada por internautas por ter encaminhado ao Executivo um documento que sugere a criação do Conselho Municipal do Direito LGBT. Segundo esses internautas, Loreny deveria se preocupar com assuntos “mais importantes”.
Na sexta-feira passada, 22, a Câmara realizou audiência sobre os direitos LGBT, que foi presidido pela própria vereadora, que apresentou dados preocupantes de casos de homofobia no Brasil.