Quarenta e oito horas após a execução de Marielle Franco e ministro Raul Jungmann informou oficialmente que a munição utilizada pelos assassinos provinha de um lote adquirido pela Polícia Federal em 2006. Munição que também foi utilizada em outros assassinatos e chacinas. Os autores nuca foram identificados e muito menos presos. Exceto a condenação de alguns policiais militares que teriam participado da chacina de 17 pessoas na região de Osasco, Grande São Paulo.

Mesmo assim, os primeiros movimentos oficiais para esclarecer a execução perpetrada no Rio de Janeiro foram favoráveis à imagem do governo.

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Imbróglio sobre a origem da munição usada na execução de Marielle

            Mas a descoberta da origem da munição possibilitou que o jornalista Josias de Souza registrasse que havia digitais do Estado na morte de Marielle. Afinal, os projéteis utilizados, pelo menos dos nove cartuchos recolhidos no local do crime, provinham de um lote de 1,9 milhão de balas vendidas à PF em 2006 pela Companhia Brasileira de Cartuchos – CBC.

Jungmann afirmou que uma parte foi desviada e em um desses desvios, ocorrido em 2007, um escrivão chamado Cláudio de Souza Coelho vendeu os cartuchos da PF a bandidos do Rio. O escrivão foi processado, demitido e preso., mas a PF não logrou recuperar a munição, que continua produzindo cadáveres mais de uma década depois do desvio.

Três dias depois de o ministro Jungmann (Segurança Pública) ter feito essas declarações, na segunda-feira 19 sua pasta mudou a versão. Em nota, o ministério da Segurança afirmou que Jungmann “não associou diretamente o episódio da Paraíba com as cápsulas encontradas no local do crime que vitimou a vereadora e seu motorista”. Segundo a mesma nota, o ministro “explicou que a presença dessas cápsulas da Polícia Federal no local pode ter origem em munição extraviada ou desviada”.

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Nota do seu ministério desmente o ministro Jungmann

O texto diz ainda que, ao citar o caso da Paraíba, Jungmann “estava dando um exemplo de munição extraviada”. De acordo com a nota, a PF instaurou o inquérito policial na delegacia de Campina Grande (PB) para apurar um arrombamento a uma agência dos Correios de Serra Branca (PB) em 24 de julho de 2017. “O arrombamento foi seguido de explosão do cofre de onde foram subtraídos objetos e valores. Na cena do crime, a PF encontrou cápsulas de munições diversas, dentre elas do lote ora investigado”, informou o ministério.

Quanto mais se explica, mais visíveis ficam as digitais do Estado.

A participação de agentes públicos menos expressivos reforça uma ação orquestrada por apoiadores de um pré-candidato à presidência até delegados e autoridades judiciais. Felizmente, a liberdade de expressão ainda existe. E as iniciativas do delegado e de uma desembargadora fluminense foram tiros nos pés. Rapidamente as mesmas autoridades boquirrotas retornam à cena para “explicar” que se tratava de um equívoco (desembargadora) ou uso indevido do endereço eletrônico utilizado para espalhar mentiras e difamações sobre a vítima Marielle.

Nas redes sociais de Taubaté também circularam essas falsas mensagens forjadas por pessoas que covardemente omitem sua autoria.

Nossas autoridades deveriam pedir tempo, como se faz nas partidas de vôlei ou basquete para combinar versões mais consistentes. E os agentes públicos mais açodados como a desembargadora e o delegado devem ser punidos exemplarmente. Seria uma medida preventiva que poderá contribuir para que a campanha eleitoral não incorpore os maus exemplos que foram tornados públicos depois da brutal execução de vereadora carioca Marielle e seu motorista Anderson.