Paulo Vieira de Souza, o Zezo ou Paulo Preto, foi denunciado pelo Ministério Público Federal – MPF, juntamente com José Geraldo Casas Vilela (geraldo), uma ex-funcionária da DERSA e sua irmã, cujos nomes sãomantidos em sigilo e Tatiana Arana de Souza Cremonini, psicanalista, filha de Zezo. A investigação teve início depois que a ex-funcionária que operava no esquema denunciou existência de um cofre na Dersa, onde ficavam recursos desviados. Ler a íntegra da denúncia AQUI)
Na quinta-feira, 22, a Lava Jato em São Paulo apresentou denúncia contra o ex-presidente da Dersa, envolvendo recursos que deveriam ajudar famílias desalojadas em função das obras viárias no Estado.
São mais de R$ 7 milhões que envolvem o sistema de cadastro de entrega de unidades habitacionais da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e pagamento de verba de indenizações e outros benefícios ligados à moradia, corrompido por Paulo Preto e subordinados. “As fraudes ocorreram em lapso temporal (de 2009 a 2012), só sendo interrompidas porque um funcionário subordinado a ex-funcionária da Dersa, Alexander Gomes Franco, relatou o esquema ao Ministério Público no Estado de São Paulo”, diz a denúncia.
Famílias em situação de vulnerabilidade social e retiradas à força de locais afetados pelas obras dos empreendimentos Rodoanel Sul, Jacu Pêssego e Nova Marginal Tietê. Esse golpe causou “o prejuízo de R$ 7.725.012,18 (sete milhões, setecentos e vinte e cinco mil, doze reais e dezoito centavos),em valores da época.
Paulo Vieira de Souza, o Zezo ou Paulo Preto, ex-diretor de engenharia da DERSA
“O Programa de Compensação Social e Reassentamento Involuntário da DERSA tinha por finalidade repor a moradia das pessoas residentes em comunidades e em loteamentos clandestinos localizados dentro do traçado das aludidas obras. Os desvios ocorreram por meio de pagamentos indevidos a supostos moradores do traçado dos empreendimentos, respectivamente (1) Rodoanel Sul (no período de 2009 a 2010); (2) Jacu Pêssego (no período de 2009 a 2011); e (3) Nova Marginal do Tietê (no período de 2009 a 2010). As obras do Rodoanel Sul foram executadas por meio de parceria celebrada entre a União e o Estado de São Paulo”, diz a denúncia.
Afirma também que “TATIANA é filha de PAULO VIEIRA e atuou ativamente na estrutura criminosa para incluir suas empregadas domésticas e até mesmo uma
funcionária da empresa de seu marido como beneficiárias de unidades autônomas da CDHU, sabendo que tais pessoas não preenchiam os requisitos necessários para receber o benefício, pois não residiam na região do entorno das obras, não fazendo jus, assim, a qualquer tipo de indenização”.
Em determinado momento o MPF denuncia que “valores em espécie transitavam dentro da Dersa, sendo que somas altas de dinheiro ficavam na sala de Geraldo [Villela, ex-chefe do Departamento da Área de Assentamentos] (…) e no cofre da Dersa.”
Para representar contra Paulo Vieira, sua filha Tatiana, o chefe do Departamento da Área de Assentamento da Dersa, Geraldo Villela, e mais duas mulheres cujos nomes foram mantidos em sigilo por “questão de segurança”, o MPF usou principalmente um relatório de auditoria interna da própria DERSA, depoimentos colhidos no MPF e na Polícia Federal e a contribuição da ex-funcionária da Dersa e sua irmã, que forneceram documentos e relatos sobre a parte operacional do esquema.
Circuito já construído do Rodoanel Mário Covas
Geraldo e Paulo Preto “mandavam entregar os valores para quem se apresentasse como indicado por eles.” Os procuradores de SP anotaram, ainda, que “há notícias de que lideranças do tráfico de drogas invadiam as áreas dos empreendimentos e muitos desses líderes só seriam atendidos por Paulo Vieira.”
Resumindo, atendendo aos interesses de Paulo Preto, Geraldo orientava a então funcionária a forjar cadastros que permitissem que laranjas fossem autorizados a receber recursos do programa de assentamento. Quando terminava o serviço – muitas vezes, usando nomes de familias e conhecidos seus -, Geraldo liberava o crédito para esses beneficiários irregulares. Quando o valor era muito alto, Paulo Preto, em cargo superior, entrava em cena.
Cabia a irmã da funcionária sacar o dinheiro em espécie que era desviado para pessoas vinculadas à ex-subordinada de Geraldo. Os recursos, em sua maioria, voltavam para o centro de comando, porque eram devolvidos a “funcionários” de Paulo Vieira.
Trecho da obra de engenharia do Rodoanel Sul
O volume de desvios foi descoberto, em parte, graças a uma planilha entregue pela funcionária, com os cadastros fraudulentos. O cruzamento com outros dados do programa social permitiu identificar quantos benefícios foram indevidos. E para provar o vínculo com Paulo Preto, o MPF ouviu Ruth Arana de Souza, sua ex-esposa, além das filhas Priscila Arana de Souza e Tatiana, denunciada, mais as empregadas beneficiadas no esquema.
Na página 17 o MPF faz uma acusação que não pode passar despercebida: “Há notícias de que lideranças do tráfico de drogas invadiam as áreas dos empreendimentos e muitos desses líderes só seriam atendidos por PAULO VIEIRA (fls. 1304/1307)”.