Quem diria, militantes históricos de direita, que sempre detestaram manifestações populares, agora usam como argumento a participação do povo nas manifestações bolsonaristas.
Uma amiga taubateana bolsonarista confesso escreveu: “A bola de neve está muito grande e quem tenta parar acaba sendo atropelado e engolido por ela. Veja as ruas!” Opinião típica de uma saudosista da ditadura que sempre reprimiu as manifestações populares.
Essa moça/senhora se esquece que os militares realizavam atentados como o frustrado ataque a bomba ao Centro de Convenções do Riocentro, no Rio de Janeiro, na noite de 30 de abril de 1981, quando ali se realizava um espetáculo comemorativo do Dia do Trabalhador. Ou a morte de Lyda Monteiro da Silva em 27 de agosto de 1980, vítima do Centro de Informações do Exército (CIEx), fruto de um atentado à bomba na sede da Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro, por agentes que também participaram do atentado do Riocentro
General João Baptista Figueiredo, do Serviço Nacional de Informações (SNI), último ditador do período 1964/1985, segundo registros históricos, afirmou que em 1978, depois que o então presidente Ernesto Geisel o indicou para ser seu sucessor, um repórter lhe perguntou se o futuro presidente gostava do “cheiro do povo”. Figueiredo respondeu: “O cheirinho do cavalo é melhor (do que o do povo)”.
Síntese perfeita do que pensava a ditadura sobre o povo. Um conceito recorrente das elites ao longo da história. “A democracia seria boa se não fosse o sovaco”, repetia sempre o governador mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, um dos principais articuladores da Revolução de 30. Mas ele ficou mais conhecido pela frase “Façamos a revolução antes que o povo a faça”. Mas é outra história…
O capitão e seus seguidores não são diferentes. Tentam imitar a qualquer custo, mesmo que tenham que conviver com o cheiro de “sovaco” das manifestações progressistas que marcaram a luta contra a ditadura, como a Marcha dos 100 mil, em 1968, as manifestações pelas Diretas Já em 1984 e 1985 ou para denunciar o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em 1975.
Curiosamente, pararam até de denunciar as enormes passeatas de movimentos, como o LGBT, que lutam contra a homofobia et caterva realizadas anualmente em todas as grandes cidades do Brasil.
Evento LGBT na avenida Paulista em 2018
Apesar de batalhar para atrair votos femininos, Bolsonaro está longe disso. Mas, cá pra nós, ele tenta mostrar que tem se esforçado para parecer mais progressistas, embora seus seguidores ainda ignorem o esforço hercúleo e indigesto que tem sido feito pelo candidato a presidente, o chefe.
Tomara que esse esforço contamine o capitão reformado, principalmente se ele vencer a eleição, o que eu duvido muito. E que a contaminação se espalhe entre seus pares. Fantasia ou não, pode ser uma luz no fim desse túnel que parece não ter fim.