Após quatro anos sem gravar, Hildmar Rosa, o soberano Monarco, lançou um CD de beleza definitiva, com um tipo de música que nos acostumamos a reverenciar como “coisa nossa”.
Aos 85 anos, Monarco comprova que samba não é pra quem quer, é pra que pode – e como esse monarca portelense pode, meu Deus!
Sua voz demonstra algum cansaço? Ou seria desânimo? Nem uma coisa nem outra. Hildmar Rosa é um monarca sem cetro e sem coroa, mas por sua essência musical popular e portelense, e que cantam suas músicas como quem ora a um ser humano quase divinal.
Monarco de Todos os Tempos (Biscoito Fino) é o título do álbum. Graças à excelência de suas músicas, algumas inéditas, outras já gravadas, o disco está apto a constar das listas que certamente o incensarão como uma referência do samba carioca.
Monarco com mil e um súditos que o idolatram
O álbum contou com a produção de seu filho, Mauro Diniz (sambista dos bons), que escreveu os arranjos e regeu, tocou cavaquinho em todas as faixas e é parceiro do pai em seis músicas. Diniz é o mago que vestiu as músicas com a roupagem tradicional da (insuperável) arte de tocar o samba.
Os músicos arregimentados, mestres de carteirinha, são íntimos da levada do samba: Rogério Caetano (violão de sete cordas), Paulão Sete Cordas (violão de seis cordas), Luis Barcelos (bandolim), Miudinho (surdo, pandeiro 2, tamborim e cuíca), Marcelinho Moreira (tantan, repique de anel, tamborim e frigideira), Leozinho (pandeiro 1, tamborim e reco-reco), Paulo Santana, Juliana Diniz, Renato Santana e João Diniz (coro), além de Dirceu Leite (flauta e sax) e Vittor Santos (trombone).
A inédita “Agora É Tarde” (Monarco) abre o CD. Uma levada acelerada antecede a chegada de Monarco – sua voz é imprescindível para melhor entendermos suas músicas. A cada entrada dele, a percussão arrefece a pulsação, que volta sempre que o portelense retoma o canto, e o coro a ele se junta, engrandecendo de vez o samba.
Em “Hora da Partida” (Monarco e Mauro Diniz), já gravada por Zeca Pagodinho, a flauta vem bonitona na melodia em tom menor, que é a cara de Monarco. A percussão é coisa muito séria!
“Uma Canção Pra São Luís” (Monarco) tem participação especial da maranhense Alcione. Sua voz grave e bela, em duo com Monarco, arrasa.
A beleza de “Beija-Flor” (Monarco e Mauro Diniz) é refletida pelo sax. Os versos remetem à infância do bamba: “(…) Eu vou sentindo dentro de mim/ Uma lembrança que me traz felicidade (…)”.
Zeca Pagodinho não poderia ficar de fora. Após intro do trombone, ele e Monarco dividem o canto em “Seu Bernardo Sapateiro” (Monarco e Ratinho). Ao final, após cantar em terças com ele, Zeca agradece ao monarca da Portela.
Um medley, que acaba com “Vai Vadiar” (Monarco e Ratinho), fecha a tampa. Meu Deus!, como são sublimes os sambas desse compositor maior.
A vida segue: Monarco, que nunca teve um samba seu como enredo da Portela, continuará sendo um monarca humilde, oferecendo seu talento a nós e à escola de Osvaldo Cruz.
Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4