Tenho na mão um bom CD de samba, Identidade (independente), o trabalho de estreia de Didu Nogueira. Tendo sua vida distinguida com o gene do samba, ele, que é filho de Gisa Nogueira, sobrinho do saudoso bamba João Nogueira e, por consequência, primo de Diogo Nogueira, é um camarada respeitado no mundo do samba carioca.

Com voz de sambista da velha guarda, dizendo os versos com entusiasmo e cantando a melodia numa levada que “seduz” os versos, resultando num suingue de responsa, eis Didu Nogueira.

Produtor e organizador de eventos que dizem respeito ao samba – o que faz com esmero –, ele aumenta sua força e sua raça, demonstradas num CD que revitaliza seu amor pelo ritmo que o embala desde o berço, ninado por Gisa.

Didu sabe de cor e salteado o nome dos instrumentistas que melhor tocam samba no Rio de Janeiro, graças ao seu trabalho de organizador. Para gravar, convidou três músicos que têm o samba correndo nas veias: Afonso Machado, Jorge Simas e Tiago Machado.

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Didu, sobrinho do saudoso João Nogueira

Contando com arranjos de Afonso Machado, Kidbone, Jorge Simas, Tiago Machado e Marcelo Menezes, Didu canta 16 sambas – onze inéditos e cinco regravações. Com arranjos consistentes e aprimorados, que contam com naipes de cordas e sopros e atuações primorosas dos instrumentistas, ele certamente também se fará respeitar por seu cantar.

Os ritmistas seguram a onda, suingando as levadas e dando-lhes pulsação precisa para que os sambas exponham Didu Nogueira. Assim, potencializam a voz desse estreante que já tem cara de veterano.

Logo de cara, um lindo canto vindo de um coro misto dá início ao enérgico “Santíssima Trindade” (Jorge Simas e Didu Nogueira). É ali que Didu começa o processo de sagração de sua identidade. Os versos legitimam o sambista que agora vem a público revelar sua voz, voz que, até então, só era ouvida em rodas de samba.

Leci Brandão deu a Didu “Na Casa de Lygia Santos”, outro bom samba do CD, homenagem à mulher sempre próxima do mundo do samba e a quem Didu reverencia como sua “mãe preta”.

“Mareação” (Marcelo Menezes e Paulo César Pinheiro) também traduz a alma do sambista: “Mergulhei meu amor no mar da paixão/ Era um mar de esplendor na imensidão (…)”. Assim é Didu: voz envolta num turbilhão de emoção, num fulgurante vasto mundo. E não canso de dizer: o arranjo e o desempenho dos instrumentistas são extraordinários.

“Sempre Bate o Sol” (Mauro Duarte, Gisa Nogueira e João Nogueira) tem intro do trombone. Outro bonito samba, para o qual Didu se entrega de corpo e alma.

“Quentinha Que Não Fecha” (Afonso Machados e Nei Lopes) tem Didu dando show ao cantar versos bem-humorados que avisam que a quentinha, quando tem tanta comida que não fecha a tampa, é mais cara.

Identidade é um disco tratado com o tanto de carinho que Didu Nogueira, agora com um grande disco na praça, merece. Lembra da interrogação do título deste texto, “Quem é Didu Nogueira?”. Pois bem, respondo agora: ele é o mais novo cantor de primeira linha no samba carioca.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4