Os cidadãos minimamente informados sabem ou já sentiram que algo estranho (ou podre?) acontece no reino de Brasília. Ninguém poderia imaginar que o presidente eleito graças a uma facada no início da campanha eleitoral pudesse ser tão mal assessorado. Nem mesmo os maiores opositores foram capazes de imaginar
A crise institucional representada pelo confronto dentro da Corte Suprema – STF – na quinta-feira, 14, é o mais significativo indicador de sua dimensão. Na sessão desse dia, o Supremo praticamente decretou a sentença de morte da Operação Lava Jato e consolidou uma aliança que dispensa adjetivo ao despachar para a Justiça Eleitoral processos contra políticos acusados de caixa 2 e corrupção. (Ler a coluna de Bernardo Mello Franco veiculada pelo O Globo no domingo 17 e aqui transcrita.)
Um ministro derrotado na quinta declarou: “Se depois disso a gente (os membros do STF) ainda derrubar a prisão em segunda instância, vão depredar o prédio do Supremo. E eu sou capaz de sair para jogar pedra também”.
Olavo de Carvalho e Steve Bannon
A procuradora geral da república, Raquel Dodge, pode ter jogado a toalha depois da derrota sofrida no Supremo e a anunciada na disputa interna onde batalha (va) para tentar ser reconduzida à chefia da PGR.
O poder Executivo põe (muita) lenha na fogueira ao dar apoio e sustentação aos ataques proferidos pelo autointitulado filósofo Olavo de Carvalho, ao vice-presidente Hamilton Mourão ao acusá-lo de golpista, como fez depois de seu encontro com Eduardo Bolsonaro e Steve Bannon nos EUA onde se encontram: “O Mourão disse isso: ‘nós voltamos ao poder por vias democráticas’. Como ‘voltamos’? Quem está no poder é o Bolsonaro, não vocês [militares]. Agora eles acham que estão no poder. E isso o que é? Golpe. É uma mentalidade golpista. Essa concepção, que é a do Mourão, é uma concepção golpista. Não sei se o golpe vai acontecer, já aconteceu, não estou em Brasília, não sei. Estou com o cu na mão pelo Brasil, não por mim. Por mim eu estou velho, posso morrer, não ligo, porra”. Os termos chulos fazem parte cotidianamente do seu repertório escrito ou falado.
A diplomacia brasileira simplesmente ignorou que Bannon é desafeto de Donald Trump. Amigos e correligionários estão rompidos porque disputam a liderança mundial da direita. Hoje, Bannon lidera a direita brasileira que ainda acredita e segue o autodenominado filósofo Olavo de Carvalho.
Ministro Paulo Guedes, da Economia, que acompanha Bolsonaro na sua viagem aos EUA, incomodado com as falas de Carvalho que afirmou no jantar de domingo, 17, que, se continuar assim, a administração de Bolsonaro não dura seis meses, Guedes questionou: “Por que o líder dispara contra a revolução que inspirou?”
Eduardo Bolsonaro, o chanceler de fato e Steve Bannon, ex-guru de Donald Trump
Simultaneamente, os presidentes da Câmara e do Senado consolidam o poder e a força do chamado Centrão e se locupletam com as concessões obtidas junto ao Executivo. Sim, aquele mesmo que jamais executaria do toma lá dá cá.
Quando os próprios militares não se entendem, os poderes civis estão em frangalhos e a oposição não passa de uma miragem, não há o que esperar das instituições que se calam diante de moleques travestidos de autoridades como Eduardo Carvalho, o Chanceler de fato na viagem oficial aos EUA.
Tia Anastácia já acendeu todas suas velas. E nada mudou. Aos poucos amigos que restaram, a velha senhora não de repetir o mantra que aprendeu com a madre superiora: “Oremos”.