Associação de interesses com os do regime floresceu no golpe de 1964
Volkswagen e procuradorias federal e paulista confirmam a retomada das negociações para acordo de reconhecimento e reparação às vítimas da sua parceria com órgãos de repressão no regime militar. Até agora, a Volks tem sido a única grande indústria a demonstrar preocupação com a imagem na histórica colaboração com a ditadura.
A associação de interesses empresariais com os do regime floresceu no golpe de 1964, na poeira de uma industrialização tardia. Consolidou-se sobre a lápide política do AI-5.
A compressão dos salários, com inflação manipulada e proibição de greves, derivou em década e meia de extraordinária lucratividade.
Na Volks Brasil possibilitou “o financiamento próprio de investimentos, bem como altas remessas de lucros à matriz”, constatou o historiador Christopher Kopper, contratado pela VW AG, que confirmou a “cooperação voluntária”.
A Volkswagen foi a primeira a aderir aos golpistas de 1964
Existe fartura de registros sobre o colaboracionismo empresarial em prisões, torturas, demissões e espionagem no movimento sindical. São empresas como Volks, Ford, GM, Mercedes, Scania, Toyota, Rolls-Royce, Caterpillar, Rhodia, Dunlop, Esso, Light, SKF, Philips, Johnson & Johnson, GE, Brown-Boveri, Ultra, Fundição Tupy, Krupp, Arno, Brastemp, Villares, Inox, Votorantim, Alpargatas, Klabin, Taurus, Cobrasma, Usiminas, Itaipu, Petrobras e Embraer, entre outras. Sempre com o respaldo de entidades como a Fiesp e a CNI.
Foi o maior negócio do século passado. O governo ajustava o câmbio, arrochava salários, reprimia protestos, e empresas lucravam. Os ganhos enlevaram acionistas, que não se preocuparam com o que seus executivos faziam. Wolfgang Sauer, da Volks Brasil, só chamou a atenção na sede quando se meteu numa disputa pelo poder, nos anos 90.
Como não é possível apagar o passado, permanecem vulneráveis aos tribunais por imprescritíveis violações de direitos humanos. Meses atrás, antigos executivos da Ford na Argentina foram condenados por cumplicidade. A Volks sinaliza o fim da cultura de omissão. É um bom recomeço.