Três chefes de Estado e 11 ex-presidentes, 90 políticos de alto escalão, congregações religiosas, artistas de fama mundial, bilionários —toda uma constelação de personagens poderosos da América Latina já fez ou faz uso de paraísos fiscais. No Brasil, a lista inclui os dois homens mais importantes do universo econômico, o ministro Paulo Guedes e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. São, porém, uma mostra regional do que faz a elite do planeta, da cantora Shakira até o rei da Jordânia, ao usar um emaranhado de empresas de fachada e documentos opacos, em lugares como as Ilhas Virgens Britânicas, para evitar o escrutínio público de seus bens.
Essa estrutura vem à luz com a publicação dos Pandora Papers, um gigantesco material obtido pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ) composto por 11,9 milhões de arquivos vazados por 14 assessorias das chamadas offshores. As informações foram verificadas por uma equipe de 600 jornalistas —a maior parceria jornalística da história— da qual o EL PAÍS participou.
Numa era de crescente autoritarismo e desigualdade, a investigação oferece uma visão inigualável de como o dinheiro e o poder operam no século XXI. No Brasil, o problema não reside tanto em possuir uma empresa no exterior, mas no conflito de interesses —Guedes e Campos Neto já participaram da tomada de decisões que influenciaram nos seus próprios investimentos, como contam repórteres do El País e da revista piauí.