Comandante do Exército contraria o presidente ao definir regras para combater o avanço da pandemia de Covid-19 e restrições para a veiculação de fake news; Valdemar Costa Neto, presidente do PL, declara que a ministra Tereza Cristina seria o nome ideal como vice na chapa de Bolsonaro; presidente da Anvisa responde com firmeza declarações do presidente, são alguns sinais recentes sobre o Plano B para afastá-lo da disputa
Movimentos recentes no tabuleiro político são indícios que apontam, na minha opinião, que Bolsonaro sequer será candidato à reeleição em 2022 (Contato 24 de novembro e 29 de dezembro). Revelei em primeira mão uma confidência palaciana sobre a existência de um Plano B para afastar o presidente da disputa eleitoral. Como consolo, seria criada a figura do senador vitalício para todos os ex-presidentes vivos que não perderiam a imunidade, mas não poderiam mais se candidatar.
Esse movimento seria a repetição atualizada do acordo realizado em 1988 quando Bolsonaro, depois de expulso do Exército, foi “rejulgado” pelo STM (Superior Tribunal Militar) que decidiu reincorporá-lo desde que fosse reformado e impedir maiores desgastes para a instituição militar.
Comandante do Exército, general Paulo Sérgio
Na segunda-feira, 03, o Comando do Exército, através de seu comandante, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, recomendou formalmente
que militares se vacinem antes do retorno ao trabalho presencial e a proibição de veicular fake news “Não deverá haver difusão de mensagens em redes sociais sem confirmação da fonte e da veracidade da informação. Além disso, os militares deverão orientar os seus familiares e outras pessoas que compartilham do seu convívio para que tenham a mesma conduta”. Presidente Jair Bolsonaro ficou profundamente irritado e chegou a afirmar que o Comando do Exército faria uma nota para esclarecer o mal-entendido.
Na sexta-feira 06, o ministro da Defesa, general da reserva Braga Neto, reuniu-se com os representantes das três armas. O objetivo seria produzir uma nota pontuando que a imunização não é uma obrigação nem condição para retornar ao trabalho. A expectativa no governo era que o comunicado fosse publicado naquele mesmo dia. Até o fechamento dessa edição na segunda-feira 10 o comunicado ainda não tinha sido publicado.
Desse episódio, pode-se concluir que a diretriz militar veiculada seria um recado público e explícito do Comando do Exército: não acobertaria mais os destemperos e as ameaças do presidente às instituições democráticas.
Plano B
Segundo uma fonte palaciana, já se tornou lugar comum as conversas a respeito de uma alternativa para substituir Bolsonaro, caso não ocorra uma forte reação nas futuras pesquisas que hoje apontam para o crescimento da rejeição e desprestígio do presidente e de seu governo. Como em economia não existem milagres e os números apontam para uma piora no seu desempenho, a troca de candidato é cada vez mais real.
Ministra Tereza Cristina, uma opção cada vez mais forte
Na matéria anterior, registrei que a peça-chave seria Tereza Cristina, engenheira agrônoma, empresária e deputada federal licenciada, filiada ao Democratas e atual Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Para reforçar esse argumento, no sábado 8, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro, declarou aos seus interlocutores que Tereza Cristina é o nome ideal para vice porque poderia reduzir a enorme rejeição das mulheres ao presidente. Pesquisa do IPEC (ex-Ibope) realizada em dezembro apurou que 70% do eleitorado feminino desaprova a conduta do governo federal.
Tereza Cristina afirma, porém, que seu nome está à disposição para disputar uma cadeira no Senado. Contudo, como candidata a vice-presidente, seria uma solução natural para substituir Bolsonaro. E resolveria o problema para os militares: afastar os dois polos de forma “democrática”.
Mais um sinal: Anvisa
Os destemperos verbais de Bolsonaro contra a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – encontrou um militar de alto calibre disposto a enfrentá-lo. Na quinta 6, Bolsonaro questionou os interesses da Anvisa em aprovar a vacinação de crianças contra a covid-19 ao declarar: “Você vai vacinar o teu filho contra algo que o jovem por si só, uma vez pegando o vírus, a possibilidade dele morrer é quase zero? O que que está por trás disso? Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual o interesse das pessoas taradas por vacina?“.
Barra Torres, presidente da Anvisa
Imediatamente, recebeu o troco do presidente da instituição: “Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate” respondeu-lhe Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa.
Esses três episódios podem significar que a ausência de qualquer sinal que aponte uma mudança radical de comportamento do presidente Bolsonaro explicitada por pesquisas podem ser uma brisa de esperança para o esperado retorno à normalidade após as duas pandemias que ainda resistem.