Gente, como a vida de Santo Antônio é interessante! Sem caminhar para qualquer heresia, cabe aproximá-lo de um “super-herói do céu”. Não é à toa que é reconhecido como “santo universal” e tido como “de todos o mais completo”. Tudo provoca admiração na peripécia desse que é o mais cultuado do Brasil e um dos favoritos em todo mundo luso-português. Saber da existência em nosso mapa de cerca de 200 cidades com variações de seu nome faz crer que a devoção atravessou séculos. E tudo se completa se considerarmos mais 500 mil bairros e cerca um milhão de ruas com referências a ele.
Fiquei surpreso ao saber que o nome de batismo do “Santo de Pádua” era Fernando e que nasceu em Portugal no dia 15 de agosto de 1195. E que muito mais que “casamenteiro” é também “achador”, condição que supunha ser exclusiva de São Longuinho. Aliás, em comum com Longuinho, Santo Antônio é também considerado um dos protetores de militares no mundo todo. E por falar em santos guerreiros vale lembrar que na legião celestial estão vários soldados como São Jorge, São Sebastião, Santo Expedito, Santo Inácio, Santa Joana d’Arc, São Marcelo, São Miguel Arcanjo e milhares de outros “soldados guerreiros”. Pois é, o céu deve ser um lugar bem guardado…
O caso de Santo Antônio, no entanto, merece atenção especialíssima por ter sido nomeado soldado do exército português em escala na proteção da Bahia, frente o ataque dos franceses em 1595. E não parou por aí, posto que sua fama o levou a várias patentes nas fileiras lusitanas. Conhecido por combater os inimigos invasores, em particular contra os franceses protestantes, Santo Antônio passou a capitão no século XVII e mais tarde, no século XVIII, foi promovido a tenente-coronel. Tudo oficializado, de papel passado. E tinha soldo e demais regalias cabidas aos heróis combatentes. Aliás, por sua atuação contra os protestantes foi chamado de “martelo dos hereges”.
Mas há mais razões para a fama do Santo celebrado todo dia 13 de junho. Tendo ingressado na vida religiosa nas fileiras agostinianas aos 16 anos, transferiu-se para a Ordem de São Francisco e como mendicante seguiu para o Marrocos. Porém, sua nau sofreu terrível naufrágio que o levou às costas sicilianas. Por decisão de São Francisco que o acolheu, tornou-se pregador e com reconhecida capacidade de convencimento e assim ficou conhecido como o mais prestigiado sermonista da época.
Mas Santo Antônio é mesmo festejado como “zelador dos amantes desamparados”. Pessoas interessadas em resolver suas relações amorosas, “solteironas”, casadoiros em geral, passaram a venerar o Santo como protetor de quantos têm pretensões conjugais. Há explicações interessantes afeitas à fama do “salvador de solitários”. Por ser uma entidade com atributos multiplicados – Santo Antônio não é “especialista” em qualquer campo – acabou por se tornar “patrono das causas corriqueiras” ou “santo do dia a dia”. Essa qualificação explica muitas das práticas devocionais tidas como comuns quando se fala de rituais populares.
Há quem diga que Santo Antônio é o único que dispensa cerimônias exigentes, sacrifícios, padecimentos e, pelo contrário, permite certas liberdades abusivas, muitas irreverentes. Em particular quando se fala em “simpatias” para amores mal resolvidos, devotos recomendam tirar de seus braços a imagem do Menino Jesus, só o restituindo depois de alcançada a graça. Há uma que recomenda virar a efígie de cabeça para baixo até acontecer o pretendido. As mais radicais mandam arrancar-lhe o resplendor, pregando uma moeda em seu lugar. Outra bizarrice sugere que o mergulhe em água com muito sal e que esconda o recipiente em lugar bem escuro. Ah, e tem aquela que dizem infalível: ao ver o par desejado, a pessoa deve olhar bem nos olhos, tocar na roupa do pretendido e dizer mentalmente por três vezes “Santo Antônio vai fazer você ser meu/minha até eu me cansar”.
Santos Antônio, João e Pedro, santos juninos
São inúmeras as fórmulas correntes, umas recomendando rosas vermelhas, outras com “santinhos” presos em guarda-roupas, com fitas amarradas, e até com meias e outras peças ou objeto do ser pretendido. Dentre tantas práticas, uma que cativa quantos veneram o Santo propõe que se guarde um pedaço de pão feito por frades ou pessoas do bem. Isso, segundo a crença, faria com que não faltasse alimento durante o ano todo. Fico pensando se não daria para Santo Antônio distribuir um pedaço desse pão abençoado para os milhares de brasileiros que estão passando fome. E como o Santo é amigão do povo, pediria também que, em favor da nossa democracia, mudasse o governo. Vamos lá Santo Antônio: se seu dia é 13, quem sabe…