Pesquisa do Data Folha – Lula 47 % X Bolsonaro 29 % e Ciro com 8 % – ajuda a entender o que mudou no cenário político de 2018 com o de 2022
À primeira vista, quase nada mudou. Lula, ex-dirigente sindical e ex-presidente da República foi preso e condenado. Teve o julgamento anulado pelo STF por causa das falcatruas cometidas pelo então juiz federal Sérgio Moro e sua equipe de procuradores na Operação Lava Jato. Mas nunca teve coragem e honestidade para fazer autocrítica dos crimes cometidos em seu governo.
Bolsonaro mudou. Ou melhor, se revelou e mostrou o verdadeiro personagem de 2018. Foi candidato por absoluta falta de opção política nos setores mais conservadores e reacionários da sociedade. Sua carreira militar foi um desastre. Gostava de confusão. Em 1986, deu uma entrevista à repórter Cássia Maria da revista Veja e acabou revelando os planos para executar atentados a quartéis do Exército. E entregou à repórter um croqui manuscrito com detalhes do planejado. Foi preso, processado e expulso das fileiras militares. Na instância superior, porém, a corte o “absolveu”, seguindo a orientação dos seus superiores que haviam feito um acordo com o capitão para evitar a desmoralização do Exército. Bolsonaro foi reformado sem promoção, os salários mantidos, mas foi proibido de se aproximar dos quartéis.
Lula mantém a dianteira a dois meses do primeiro turno
Assim começou a carreira política de Bolsonaro.
Eleito para o Legislativo por sete mandatos não deixou qualquer registro de proposta ou atividade parlamentar de alguma significância. Limitou-se a usar o microfone para defender a ditadura militar (1964/1985) e renomados carrascos como o coronel Brilhante Ustra, já falecido, único militar daquele período condenado por tortura.
Bolsonaro fazia parte do baixo clero parlamentar. Um ilustre desconhecido, salvo o estado do Rio de Janeiro. Mas seus filhos tiveram formação político-ideológica, especialmente Eduardo, o Zero 3, eleito deputado federal por São Paulo com a maior votação parlamentar de nossa história. Ele passou temporadas nos EUA e se aproximou de Steve Bannon nos idos de 2014. Bannon foi o estrategista de Donald Trump que trouxe para a política eleitoral o emprego de ofensivas cognitivas desenvolvidas por centros militares norte-americanos. Essa foi uma das ferramentas contribuíram para eleger Bolsonaro em 2018 e estreitar suas relações com Trump.
Hoje, Lula venceria venceria no 1º turno
Em 2018, a direita conservadora e reacionária não tinha nenhum nome expressivo para disputar a eleição presidencial. Em setembro o então candidato sofreu uma facada no estômago em Juiz de Fora, MG. Foi o início o período, na minha opinião, fundamental para a vitória eleitoral: Bolsonaro não participou dos debates. O ilustre desconhecido nacional que dispunha apenas de alguns segundos na TV passou a dispor de 24 horas por dia em todas as mídias nacionais. Como vítima, tornou-se muito conhecido enquanto Lula cozinhava em fogo brando a indicação de Fernando Haddad, outro ilustre desconhecido fora de São Paulo.
Vitimização costuma render votos por uma razão muito simples: o brasileiro é muito sensível e solidário com quem sofre algum ataque covarde. Foi o que aconteceu com Bolsonaro. Em contrapartida, era muito superficial o conhecimento do candidato vítima da covarde facada.
Por outro lado, prevalecia o clima antipetista alimentado por denúncias de corrupção que atingiram importantes próceres petistas como o próprio Lula. Bolsonaro, a vítima, pensou que havia descoberto uma fórmula imbatível para vencer o confronto eleitoral. Eleito, tentou criar uma imagem de vítima do sistema e instituições como o STF, que deu poderes aos prefeitos e governadores durante a pandemia e que também o investiga; dos procuradores que perseguem seus filhos; confessou até que é vítima da equipe econômica e da própria Petrobras, que já trocou três presidentes. E por aí vai.
O índice de rejeição de Bolsonaro poderá ser fatal
Esse discurso cansou. Só os mais fanáticos que cantam, dançam e andam de motocicletas permanecem dentro da bolha onde se encontram confinados. Para tentar explicar o desempenho medíocre nas pesquisas eleitorais, criaram o Data Povo onde o “povo nas ruas” são pesquisas mais consistentes. Mas as pesquisas mostravam os riscos de uma derrota acachapante.
O tempo passava e nada mudava. Na quinta-feira, 28 de julho, a dois meses das eleições, o Data Folha apresentou os resultados da pesquisa realizada nos dias 27 e 28: Lula 47 %, Bolsonaro 29 % e Ciro 8 %. Tudo continua na mesma. Ou seja, muito provavelmente a eleição será decidida no primeiro turno. Nos bastidores da campanha, cogita-se criar a figura do senador vitalício para abrigar e proteger Bolsonaro abandonado por todos, até mesmo por seus pares fardados, arrependidos com a escolha feita em 2018.