Mudei meu voto no primeiro turno. Troquei Ciro Gomes por Luiz Inácio Lula da Silva. Oremos!
Não sou lulista, mas ajudei a criar e fundar o Partidos dos Trabalhadores (PT). Uma agulha no palheiro, como muitos anônimos. Votei no ex-presidente do Sindicatos dos Metalúrgicos de São Bernardo na eleição de 1982 que levou Franco Montoro ao Palácio dos Bandeirantes. Participei de um esquema voluntário da segurança do comício final no largo do Pacaembu porque tínhamos uma certeza: a extrema direita faria algum ato insano, tal como ocorrera atentado no Riocentro na festa de 1º de maio de 1981. Naquele episódio, morreu um sargento e feriu gravemente um capitão do Exército, ambos do Doi Codi, um centro de torturas criado pela ditadura.
Em 1986, não votei no Lula para a Assembleia Constituinte porque estava engajado na campanha de outro companheiro a deputado federal.
Em 1989 votei em Lula para presidente da República. Foi derrotado pelo então governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello. Foi a última vez que votei em Luiz Inácio da Silva, o Lula. Foi meu protesto silencioso pelo seu papel nos episódios que marcaram a gestão de prefeita Ângela Guadagnin, em São José dos Campos, em 1993, onde exerci o cargo de secretário das Finanças.
Em 1994, anulei meu voto. Em 1998, votei em FHC. Conheci vários economistas que criaram e desenvolveram o Plano Real, chamado equivocadamente de estelionato por petistas estrelados, embora fossem acadêmicos e economistas. Um desses “técnicos” chegou a propagar a tese de que haveria uma hiperinflação. Isso fez com que muitos professores da Unicamp, por exemplo, estocassem alimentos.
Em 1998 fui expulso do PT, a pedido de Luiz Inácio da Silva que não acatou as conclusões de uma comissão de ética do próprio partido. Embora desanimado com os rumos, creio que me mantive fiel aos valores de um militante que passou mais de cinco anos preso pela ditadura militar.
Silenciosamente, suportei a tentativa de militantes mais realistas que o rei que tentaram impedir meu direito de indenização aprovado por FHC. Só obtive meus direitos porque essa tentativa travou a fila, provocando uma enorme pressão que a burocracia petista fingia não ver e ouvir. Mas a lei era e é clara. Foram obrigados a se enquadrar.
Não votei em Dilma, mas votei em Fernando Haddad por conhecer sua integridade e seu compromisso político ao longo de quase 10 anos que trabalhamos na revista Teoria e Debate, do PT. Infelizmente, foi derrotado por essa figura insólita que governa o nosso País.
Quando teve início a campanha eleitoral desse ano, cheguei a divulgar meu apoio a Ciro Gomes. Não conseguia engolir a possibilidade de votar em Lula. O tempo passou e a realidade começou a esmurrar a minha porta: é preciso derrotar essa insanidade política que nos governa a qualquer custo.
Mas eu vou além, apesar de ter minhas dúvidas se Lula tomará iniciativas fundamentais para consolidar nossa ainda frágil democracia. Se vencer no primeiro turno, estará criada a oportunidade ímpar para pôr ordem na casa. A primeira e mais importante é convencer os militares que eles precisam assumir seu papel definido pela Constituição, no seu artigo 142:
“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátra, à garantia poderes constituídos e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”
Portanto, é fundamental que nossos militares entendam que eles não são um poder moderador e que são obrigados a encampar o que nossa Constituição estabelece no Parágrafo Único do seu Artigo Primeiro: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos dessa Constituição.”
Não será mais admissível a repetição de um episódio que envolveu o candidato a vice, general reformado Walter Braga Netto, durante a CPI da Pandemia. Os parlamentares tentaram convocá-lo como ministro da Casa Civil. Receberam um recado como resposta: se não cumprisse a convocação, alguém ousaria tentar buscá-lo dentro do Palácio do Planalto? O assunto morreu aí.
É com essa esperança que abandonei Ciro Gomes e abracei a tentativa de derrotar a peste que nos assola no primeiro turno.
Lula não é nenhuma flor que se cheire. Mas, longe do terrorismo que a extrema direita tenta vender quando afirma que teremos uma ditadura comunista ou que as igrejas serão fechadas, não foi isso que eu vi ao longo dos seus oito anos como presidente. Os bancos e o agronegócio que o digam. Ou a multidão que se beneficiou do aumento do poder aquisitivo e da água transposta do rio São Francisco. Ou a estabilidade política sem solavancos.
Neste ano estou com Lula e não abro!!
Paulo de Tarso Venceslau – economista e jornalista