Um fim de semana “tranquilo” na praia Grande em Ubatuba

Com a virada do ano e a euforia do Carnaval se aproximando, resolvi juntar as duas datas para refletir sobre um tema eterno: feriados! A pergunta que não quer calar é: como conseguimos equilibrar o trabalho e o ócio sem parecer que estamos sempre correndo de um para o outro? A linha entre eles é tão fina que mais parece um fio de cabelo, e tentamos atravessá-la com a graça de um equilibrista sem treino.

O trabalho, em teoria, deveria ser aquele momento produtivo da nossa rotina, em que, como super-heróis, garantimos que o mundo continue girando. Mas, ao investigarmos a origem da palavra “trabalho” (um lembrete do latim, com o tripalium, um instrumento de tortura), a coisa começa a parecer suspeita. Sim, era um dispositivo medieval usado para prender escravos! Desde os tempos antigos, trabalho era sinônimo de sobrevivência, suor e, muitas vezes, sofrimento. Convenhamos: não é exatamente nossa definição moderna de prazer, certo?

Se o trabalho pode ser um peso (ainda que, vez ou outra, tenha suas vantagens), o ócio surge como uma espécie de salvador — ou, pelo menos, tenta. No mundo antigo, o ócio, chamado de skholè em grego (sim, de onde vem “escola”), era um privilégio dos intelectuais, que sabiam aproveitar esse tempo para pensar, descansar e ter ideias geniais. Hoje, um dia de ócio é praticamente um luxo supremo. Quem nunca sonhou com um feriado perfeito — aquele dia que começa com café na cama e termina com a mente flutuando, livre de preocupações?

O problema é que temos um talento especial para transformar feriados em pequenos infernos logísticos. Decidimos ir à praia no único dia em que metade da cidade teve a mesma ideia; enfrentamos filas quilométricas para shows nos quais mal conseguimos enxergar o palco; ou planejamos viagens relâmpago que se transformam em maratonas de estresse e perrengues. Parece que confundimos descanso com cumprir um cronograma de diversão exaustiva.

Talvez o segredo de um feriado realmente proveitoso esteja menos nos planos grandiosos e mais na capacidade de desacelerar. Não há nada de errado em ficar em casa, curtindo a tranquilidade, lendo um bom livro ou fazendo um passeio sem pressa pelo bairro. O verdadeiro luxo do ócio moderno talvez seja esse: aprender a resistir à tentação de encher o dia de compromissos e descobrir que, às vezes, não fazer nada é fazer tudo.

E os feriados? Ah, esses vivem no centro dessa batalha entre trabalho e descanso. São como um intervalo estratégico no jogo da vida: curtos o suficiente para sentirmos falta e longos o bastante para reaprendermos a descansar. Mas aí vem a pergunta: será que realmente usamos essas pausas para desconectar? Ou estamos apenas substituindo uma correria por outra?

Infelizmente, para muitos, feriado é sinônimo de “colocar tarefas em dia”. Parece fuga da rotina, mas, no fundo, acaba sendo mais trabalho. Isso levanta uma questão existencial: estamos realmente descansando ou apenas adiando o inevitável?

E se o descanso se estendesse indefinidamente? Embora a ideia de férias eternas pareça tentadora, sabemos que o equilíbrio é a chave. O trabalho precisa do ócio para fazer sentido, e o ócio depende do trabalho para ser saboreado. Imagine se a vida fosse só trabalho — terrível, não? Por outro lado, viver apenas no descanso também não funciona. O segredo está em encontrar um ritmo e, de vez em quando, dar um passinho extra na direção do descanso sem culpa.

Por isso, feriados são mais do que pausas na rotina acelerada. São lembretes de que, por mais necessário que seja o trabalho, o ócio tem seu valor. Quem sabe, ao fazer as pazes com esse equilíbrio, possamos viver com mais leveza, humor e, por que não, esperança? Afinal, viver bem não é só ser produtivo. É saber quando parar, descansar e se reconectar com a simplicidade do “não fazer nada” — e fazer isso com estilo!