Por Marcos Limão
Confira a entrevista exclusiva feita por CONTATO com a vereadora Vera Saba (PT), na tarde de quarta-feira, dia 13 de novembro, durante sessão ordinária na Câmara Municipal de Taubaté, sobre o Processo de Eleições Direta no PT. Foto que ilustra esta entrevista retrata momento do debate entre os candidatos a Presidência do PT, Salvador Khuriyeh e Vera Saba, realizada no dia 27 de outubro.
Qual a sua avaliação do PED?
Estou num momento de reflexão de tudo o que aconteceu. Existem processos em andamento em relação [aos questionamentos quanto à lisura do pleito] à resposta da [executiva] estadual e encaminhado recurso na [executiva] nacional. Eu preciso verificar se já obtive um retorno disso pra tomar algumas decisões e ações.
Que decisões e ações são essas?
Depende muito do que vai ser passado pra mim [pelas executivas estadual e nacional]. Eu fui para o pleito sem ter resposta em relação a questionamentos importantes do processo, como a instituição de uma comissão eleitoral que garantisse a ambas as partes a proporcionalidade, a questão da lista de frequência das atividades, que nós não tínhamos acesso. Solicitamos que houvesse lisura na parte dos contemplados, que se tornaram aptos, que foram também de 222 nomes aproximadamente [npumero de votos obtidos por Salvador Khuryieh]. Nós não tivemos acesso principalmente à lista. Tivemos acesso a uma lista que estava completamente desatualizada, com problemas também em relação a endereço [dos filiados]. Nós sabíamos que isso poderia acontecer, porque nós não tínhamos o domínio do processo. Outro questionamento foi o dos aptos, porque no pagamento coletivo, não tem pagamento parcial, existe um pagamento de todos os filiados e os mais de 1 mil filiados [no PT em Taubaté] não se tornaram aptos. O questionamento que fiz para a Nacional já foi em cima do teor de filiados que deram óbito e estavam presente nessa lista.
CONTATO encontrou o nome de um morto na lista. Fazendo visita às casas, você encontrou mais alguém?
Tem mais dois casos que foram identificados. É preciso identificar esses nomes para fazer um questionamento com a Nacional. Mas somente a dela [reportagem do Jornal CONTATO, edição 619, sobre o surgimento de um militante morto na lista de aptos], já foi suficiente para encaminharmos o documento [questionando a lisura]. Nós demos ênfase na fala do secretário-geral do partido [para CONTATO], que deixou bem claro que a quitação só poderia ser feito por meio desse pagamento coletivo, desde que todos os filiados do partido fizessem parte desse processo [a quitação coletiva do PT Taubaté não atingiu os mais de mil filiados]. Em nenhum momento ele [secretário-geral] estabeleceu os critérios de quem participaria ou não da lista, das atividades. Ficou bem confuso o processo, independente de quantidade de votos, exatamente os votantes [em Salvador Khuriyeh] estão dando o número de pessoas que foram habilitadas no processo de pagamento coletivo [feito pela comissão eleitoral, que é dominada por aliados de Khuriyeh]. Bateu o número de acordo com o nosso questionamento.
Você acredita então que você foi boicotada nessa eleição?
Boicotada não. Eu acredito que literalmente o processo tem vícios, do início ao final. E nós precisamos de esclarecimentos, o que ainda não temos.
Mas o grupo que assumiu a presidência do PT em Taubaté é um grupo hegemônico tanto na esfera estadual como na federal. Você acredita com esse recurso interno você vai ter algum sucesso?
Então, eu faço parte da [corrente] CNB [Construindo um Novo Brasil] e esse grupo também se diz CNB. Eu acredito que independente dos grupos que o partido tem, são normativas. O partido tem um estatuto e nesse período ele foi regido por um processo burocrático que regulamenta as eleições. Então, tem que ser respeitado, as normas estão aí. O partido é muito sério, que defende a democracia, que realiza esse processo eleitoral, de eleições diretas, onde o filiado tem que ter a certeza e a segurança de que está indo votar, mas num processo que foi lícito do início ao fim. Ele tem que ter essa certeza, independente da quantidade de votos de um candidato para o outro, que ser garantida a lisura e o cumprimento de todas as normas internas e externas, porque nós estamos regidos também pela Constituição Federal, por valores e princípios e que devem ser respeitados.
Houve denuncia de utilização na estrutura do Sindicato dos Metalúrgicos a favor da eleição do Salvador Khuriyeh?
Eu um momento eu vi nas redes sociais que estariam utilizando o carro do sindicato para fazer as visitas, eu não tenho provas disso. Eu vi essa publicação nas redes sociais. Não tenho certeza, não tenho isso oficial para dizer. O que sei é o que foi divulgado nas redes. Quando chegaram as informações que estavam fazendo uso da máquina, imediatamente [eles] mudaram a estratégia. Mas é um processo que com certeza contou com o apoio do Sindicato dos Metalúrgicos. Isso o próximo presidente vai fazer por meio da auditoria, que tem condições de avaliar melhor o uso da máquina ou não. Agora eu não tenho como afirmar nada em relação a isso.
E você pensa em sair do partido?
Não me posicionei em relação a minha saída. Eu não quero sair do Partido dos Trabalhadores, eu não tenho essa intenção. Primeiro, porque eu tenho identidade ideológica e segundo, porque eu não cometi nenhuma falha no processo, não cometi nenhuma ilegalidade no processo. Quem tem que sair do partido são as pessoas que não respeitam as normas e o estatuto da entidade. Eu acredito que o partido é uma instituição muito forte, está vivendo os melhores momentos no país. O partido está consolidado, tem feito um governo extraordinário de combate a fome e a miséria, geração de emprego e renda, então, eu não vejo que eu deva sair do partido. Eu vejo que ainda não chegamos ao fim desse processo. Eu estou sem respostas e quero as repostas. Quando eu tiver todo o esclarecimento do partido, com fundamentação, uma análise, com um diálogo, aí sim eu vou analisar de que forma eu vou permanecer. O mais importante no partido é a convivência com os filiados, com todo o diretório executivo, a parte da presidência, que é fundamental ter uma afinidade e uma harmonia, porque eu tenho um mandato no PT.
Foi divulgado que você estaria convencida a sair do partido. Você chegou a receber convites de outras siglas?
Hoje [13 de novembro, dia de sessão ordinária na Câmara Municipal de Taubaté] eu recebi muito respeito dos vereadores de todos os partidos e muitos convites de todos os partidos. Essa convivência aqui me surpreende a cada dia. Uma vereadora de oposição tem recebido muitos convites. Então, hoje é um dia que as pessoas estão sensibilizadas com todo o processo, as pessoas estão muito a par do que aconteceu, antenados, acompanhado nas redes sociais e jornais, e as pessoas estão sensibilizadas com o tipo de desgaste que estão fazendo a meu respeito, em alguns blogs, nas redes sociais, algumas pessoas de forma perversa, de forma muito maldosa, vem colocando que eu decretei o fim da minha carreira. É só o início, e o político não pode se intimidar, com o tipo de comportamento e conduta de algumas pessoas, que não veem a trajetória nem a história do político e simplesmente querem difamar e desgastar a imagem. Eu não temo nada do processo. Eu vou lutar por justiça, eu quero a verdade. Quero que tudo dê certo para o partido e que ele tenha muito sucesso aqui em Taubaté, mas só vai ter muito sucesso, se estiver organizado, com pessoas comprometidas atuando de forma muito séria, principalmente, agindo com boa fé. Isso é uma coisa que eu preservo, e jamais vou sair do partido enquanto eu não ver isso acontecendo dentro do partido, então ainda não é o momento da minha saída, tenho um mandato, quero concluir o mandato, não tenho pretensões ainda, mas eu preciso analisar todo esse contexto.
Você acha que o poder fez o PT perder um pouco da sua origem?
O poder não muda, ele revela. Se você tem caráter, não é poder quem vai tirar de você, de valores e princípios, ele não tira, jamais. O que é preciso é uma brutal reforma política, até nos procedimentos de se entrar na política, de quais são os seus conceitos, quais são os seus desejos reais, começa por aí.