De repente, o líder dos ambulantes, que atormentaram a vida de autoridades e policiais nas manifestações públicas de setembro de 2013, saca um megafone e começa a distribuir críticas pesadas ao prefeito que acompanhava José Serra
Candidato ao senado pelo PSDB, José Serra reuniu apoiadores na Praça Dom Epaminondas antes de seguir em uma quase passeata até o Mercado Municipal. Enquanto os militantes tucanos distribuíam santinhos, Serra e outros candidatos que o acompanhavam distribuíam beijos, abraços e pegavam crianças no colo. A política tradicional não foge desse roteiro que traz teias de aranha por todos os cantos e lados. O funeral de ex-presidenciável socialista Eduardo Campos que o diga.
Dentro do Mercadão, cabos eleitorais encurralados por Milton Pastor, líder dos ambulantes , que, de megafone em punho, desfiava críticas ao prefeito e à Prefeitura. Mas fazia questão de poupar Serra e outros candidatos.
Escolado em campanhas eleitorais, o candidato tucano ao senado fingia nada ver. Seu objetivo era produzir material para os programas de TV. O séquito de assessores armados de máquinas fotográficas e filmadoras registrava o carinho dos eleitores para com o candidato. Cenas perfeitas!
No melhor estilo eleitoral (eleitoreiro?), Serra se aproximou da Pastelaria do Chico (antigamente era do Zé, seu irmão já falecido), em frente ao Laticínio Vaca Preta, como era conhecido o saudoso Benedito Leite da Silva. Seu Chico logo mandou providenciar várias rodadas de pastéis que os candidatos eram fotografados comendo. Até nisso valeu a experiência de Serra cujo pai foi dono de banca no Mercadão paulistano.
Essa cena popular retrata bem o clima. Além de Serra, Eduardo Cury, ex-prefeito de São José dos Campos e candidato a deputado federal, e Diego Ortiz, irmão do prefeito e também candidato à Câmara Federal, não perderam uma única oportunidade de aparecer comendo, posando ao lado de Serra, de transeuntes e, o mais importante, ao lado de Chico e dona Terezinha. Ele, dono da pastelaria, ela viúva e proprietária do Laticínio Vaca Preta.
Entrevista exclusiva com o líder dos ambulantes
Milton Pastor, presidente da Atacamt – Associação dos Trabalhadores Autônomos e Camelôs de Taubaté – trabalha nas ruas há mais de 25 anos. Sua barraca montada na rua Bispo Rodovalho ostenta propaganda do petista Isaac do Carmo, ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos. Quando nosso repórter se apresentou, a primeira resposta foi uma pergunta: “CONTATO não é aliado de Ortiz Júnior?” Nossa resposta negando a acusação foi reforçada por Juninho da Silva, dono da banca ao lado. Os dois e mais Ronier lideram o movimento dos camelôs que em setembro do ano passado enfrentou a polícia e agentes da Prefeitura que tentavam expulsá-los do centro da cidade.
Qual a diferença entre ambulante, camelô e autônomo? “Camelô e ambulante é a mesma coisa. É o meu caso. Autônomo pode ser aquele que vende produtos de porta em porta.”
Qual a razão do protesto de hoje? “O protesto foi contra o prefeito Ortiz Jr e não contra o candidato Serra. Declarei pelo megafone: ‘Até onde eu sei, o senhor é um homem honrado’. Mas faz um ano que o prefeito insiste em nos ameaçar por causa da “Atividade Delegada” (policiais militares fazem segurança nas horas de folga e ganham da Prefeitura por isso). Fizeram uso da força policial há cerca de um ano”.
E hoje? “Diminuiu um pouco. Mas o prefeito [Ortiz Jr] me ameaçou [dentro do Mercadão] com um gesto, me chamando para a briga. O Juninho é testemunha”.
O que você viu Juninho? “O prefeito ameaçou a gente dizendo que ia correr atrás de nós e que a gente ia ver o que vai acontecer”. Milton aproveita para denunciar: “O que acontecer comigo, com Juninho e com Ronier é responsabilidade do prefeito”, sugerindo que as três lideranças correriam algum risco.
O que é esse papel em sua mão? “Temos uma liminar judicial que nos garante o trabalho de ambulante (graças à ação impetrada pelo Defensor Público Wagner Giron de La Torre). Queremos apenas que ele (prefeito) cumpra a liminar, nos dando um lugar digno e viável para trabalhar”.
Você é petista? “Não sou, mas voto no Isaac [do Carmo]. Sou filiado ao PSOL. Nós perdemos nosso voto quando votamos no [Ortiz] Júnior em 2012.