por José Nêumanne Pinto

Agora, você pode, se quiser, é claro, me dar licença para um momento de nostalgia deste velho marquês. Este veterano e cínico jornalista cai no choro feito um bezerro desmamado quando ouve algumas canções.

Uma delas é o frevo-desabafo do bloco Madeira de Rosarinho, do tradicional bairro recifense: Madeira que cupim não roi, composto pelo grande Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba, pernambucano de Surubim, mas paraibano por adoção, de vez que tentou sem sucesso fazer carreira como zagueiro no meu Campinense Clube, a Raposa Feroz, antes de se tornar mestre do frevo e da canção, além de parceiro de Ariano. Certa vez, num show de Antônio Carlos Nóbrega no Tuca, ele veio com o microfone para que eu o usasse em dueto. Como todos que me conhecem sabem o horror de afinação que tenho, dá para imaginar o vexame. Sábado, almoçando com meu amigo de infância, o poeta e maestro Marcus Vinicius de Andrade, ele me contou que Ariano, ainda mais desafinado do que eu, cantava sempre o belíssimo frevo nos comícios de  Eduardo Campos. Não consegui o vídeo de Ariano em algum comício, mas seguem dois links do frevo-canção com que o público no velório de Eduardo recepcionou os políticos presentes, entre os quais Dilma, Aécio, Marina e Lula.

O primeiro com nosso estimadíssimo Tonheta pranteando Ariano, Eduardo e agora também Milton Nóbrega, ilustrador e capista que a Paraíba acabou de perder. Os três agora estão lá no céu o cantando.

Também segue o mesmo na voz de Alceu Valença, que brilha hoje na direção do filme A luneta do tempo:

 

Isso aqui é história de verdade. Não acreditei quando ouvi uma coleguinha na Globo News atribuindo a Magdalena Arraes a condição de avó de Eduardo Campos. Na verdade, a avó de Eduardo era Célia Souza Leão, primeira mulher de Miguel Arraes e irmã de Dulce, que era casada com Cid Sampaio, também ex-governador, só que da UDN e, portanto, da elite branca e de direita, ao contrário do outro avô de Eduardo, Miguel Arraes, descendente da mais antiga oligarquia brasileira, a dos Alencar do Crato, Ceará, mas ícone da esquerda em Pernambuco e no Brasil. Ambas e, portanto, Eduardo eram descendentes do Barão de Souza Leão, pontífice da nobreza açucareira pernambucana e cujo sobrenome composto batizou o gostosíssimo bolo recifense. Pois é. Isso está em qualquer verbete do Google, inclusive na Wikipedia de Ana Arraes, a mãe do ex-presidenciável. Quanta preguiça de ir à fonte, não é mesmo?

Bem, qualquer dúvida, consulte meu orientador em genealogia pernambucana, o eduardista de primeira hora Anchieta Helcias.

E para matar saudade que anda matando muita gente da gente, segue a letra do belíssimo frevo-canção:

Madeira que cupim não roi, de Capiba

Madeira do Rosarinho

Vem à cidade sua fama mostrar

E traz com seu pessoal

Seu estandarte tão original

 

Não vem pra fazer barulho

Vem só dizer… e com satisfação

Queiram ou não queiram os juízes

O nosso bloco é de fato campeão

 

E se aqui estamos, cantando esta canção,

Viemos defender a nossa tradição

E dizer bem alto que a injustiça dói

Nós somos madeira de lei que cupim não rói

Com beleza e tristeza, que são irmãs gêmeas como escreveu outro pernambucano, Manuel Bandeira, fica aqui meu até logo para todos quantos ficamos.