Provocações na praça Dom Epaminondas tiraram senador Major Olímpio do sério
A disputa política tinha tudo para caminhar dentro dos conformes. Ledo engano. A terra de Lobato também é conhecida como Taubaté. E aí tudo pode acontecer. Alguns acreditam que é coisa do Saci. Outros afirmam que tem queixada de burro enterrada na praça Dom Epaminondas.
Vamos por partes. Na minha opinião, a campanha desandou. Não se trata de maionese, mas muita gente escorregou. Pra quem não sabe, a palavra vem do verbo desandar. Significa fazer andar para trás ou em sentido contrário ao que seguia ou deveria seguir.
Joguei uma moeda para cima e deu cara. Ou seja, vou começar pela candidata Loreny que todo taubateano conhece através da rádio ou TV, ou na rua e nas carreatas. Trata-se de uma jovem de 29 anos, vereadora e bem formada.
Antes da eleição do 1º turno, Loreny recebeu todo tipo de ataque. Principalmente dos setores mais conservadores que a acusavam de esquerdista por ter sido assessora do senador Roberto Freire, ex-partidão, fundador do PPS e do Cidadania. A candidata foi filiada ao PPS, quando tinha bom relacionamento com a ex-deputada e ex-vereadora Pollyana Gama. Hoje disputa a prefeitura pelo Cidadania.
Loreny bate no peito e afirma que não é de esquerda e nem de direita. “Sou pra frente”. No Nordeste, ela seria fruita como o cangaceiro que no alto de uma árvore e cercado pela patrulha ouviu do tenente que comandava a tropa: “Quem está aí em cima?”. E respondeu: “Sou uma fruita”.
Mas não bastava falar. Loreny teria de provar com fatos. Seu vice, tenente coronel da PM, não era suficiente. Mas era um canal. Ele entrou em campo e angariou apoio explícito do senador Major Olímpio, seu colega de farda. Olímpio é um bolsonarista de raiz mas ao mesmo tempo rebelde, que não poupa críticas a algumas atitudes de seu chefe, o presidente.
Senador Major Olímpio (PSL) foi para a rua com Loreny na segunda-feira 23
Na segunda-feira, 23, Major Olímpio podia ser encontrado na zona do mercado em uma operação arrastão, de megafone na mão para, aos berros, pedir votos para Loreny que estava ao seu lado. Quando os manifestantes chegaram na praça Dom Epaminondas, um grupo de jovens bolsonaristas passaram a provocá-lo. Major Olímpio rebateu chamando-os de “ladrões de rachadinha”. Ao mesmo tempo, os provocadores xingavam o senador de “traíra, traidor do povo paulista, votei duas vezes no senhor, mas vai levar fumo na próxima eleição”. O confronto durou alguns minutos, mas revelou como os ânimos estão exaltados.
Senador Major Olímpio, exaltado, responde aos manifestantes: “Ladrões de rachadinha”
Só falta perguntar para os frequentadores do calçadão do mercadão e praça da catedral se eles acreditaram e entenderam o discurso do senador as agressões dos bolsonaristas.
Foi a prova apresentada por Loreny.
Do outro lado, José Antônio Saud abandonou o bairro onde mora e a zona central da cidade onde circula para mergulhar de cabeça no meio do povo. É fácil explicar as razões. Seu desconhecimento sobre esse povo que vive na periferia. Além disso, as pesquisas indicaram e as urnas confirmaram que esse povo não conhece o candidato.
Na mesma segunda-feira 23, Saud podia ser encontrado em um arrastão na periferia, tal qual sua adversária fazia no mesmo horário na zona do mercado. Só não contava com um puxador de peso como Major Olímpio. Mas o arrastão sofria do mesmo problema que sua concorrente: pouca gente e falta de entusiasmo.
Saud entre duas apoiadoras, a de azul é corinthiana, como ele, que fez questão de registrar
Saud tem declarado que defende a família. Mas omitiu a pátria e a família que antecedem a família. E de quebra, levou a outra parte do bolsonarismo. É o caso do Capitão Souza da PM, derrotado nas urnas, um bolsonarista declarado que fazia questão de destacar o apoio do presidente e do vice Hamilton Mourão do seu partido, o PRTB.
Souza declarou seu apoio a Saud, que também conseguiu aglutinar outros segmentos do bolsonarismo taubateano.
Esse movimento era previsível. A votação de Bolsonaro foi superior a 81 % no segundo turno em 2018. No Vale, Taubaté só perdeu para Caçapava. Além disso, Saud carrega 3 trunfos: um sobrenome tradicional; os conservadores e reacionários, marca registrada por Monteiro Lobato, Cesídio Ambrogi e outros ilustres intelectuais e pensadores taubateanos; e os bolsonaristas que se transformaram em críticos da política levada à prática em Brasília.
Apoiadores de Saud na periferia, na segunda-feira 23
Conclusões
A campanha mostra que de um lado a maioria dos jovens preferem a candidata, porém, infelizmente, os dois candidatos disputam os mesmos eleitores entre os mais velhos: os originários de camadas mais conservadoras e os bolsonaristas desiludidos. Eu diria que o segundo turno se transformou em grande balaio de gato onde existe de tudo, menos política. E não estranharei se acontecer um confronto físico.
Na reta final da campanha, os ataques pessoais recrudesceram nas redes sociais contra e a favor. Não existe inocente nessa história. E se perguntados sobre as fake News ouviremos dos dois candidatos que eles não fizeram e não concordam com esses ataques. Mas se renderem votos, tudo bem.
E la nave va!