Vini Jr, um dos raros craques que se destaca com louvor hoje

Para Edmauro

Meditando sobre os últimos acontecimentos do nosso futebol lembrei-me da peça de Jason Miller “A noite dos campeões”. Ainda jovem, em meados dos anos de 1970, assisti arrebatado a história de cinco personagens que, 20 anos antes, alçaram uma vitória espetacular num aguerrido jogo de basquete. Passado o tempo, a cada ano na mesma data, a turma se reunia para comemorar aquela vitória distante. Reunião pós reunião, porém, aumentava a consciência das sequentes derrotas, e então os encontros ficavam cada vez mais nostálgicos e frustrantes. Nunca mais ganharam. Envelheceram com as lembranças. Essa história premiada foi um sucesso imenso e, sinceramente, nunca consegui esquecer aquele enredo que tanto me marcou. Pois bem, isso tudo me veio à cabeça por ocasião do recente retorno antecipado (digamos assim) da Copa América. O pior, porém, é que eventual vitória serviria para lavar a alma do vexaminoso 7 X 1 perpetrados pela Alemanha, na Copa de 2014 e até abrandaria a memória de três décadas sem Ayrton Senna. E que saudade do tetra campeonato em 1994 na California, daquela nossa “noite dos campeões”.

A dura fatalidade é que não somos mais o que fomos. E as redes sociais estão cheias de diagnósticos sobre nossos constantes fracassos futebolísticos. Sabe, dói muito ouvir que “com Pelé enterramos uma era dourada” ou que “nosso futebol virou excelente museu”. Mas como chegamos a este ponto? É aí que a opinião pública revela nossa falência. Há quem diga que a maior culpa recai sobre a titubeante decisão da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. Vejo fundamento para tanto e nem se trata especificamente da capacidade do novo técnico Dorival Jr, mas sim do fato dele ser o quarto técnico – depois de três outras tentativas – sendo apenas empossado dia 10 de janeiro último. Na contramão dessa postura, a Argentina está sob o comando de Scaloni há mais de 3 anos. E a Colômbia que apenas perdeu na disputa final, depois de 28 vitórias consecutivas, tem Nestor Lorenzo há quase 3 anos, isso sem falar do “El Loco” da seleção do Uruguai no comando há ano e meio. Que acontece com nossos dirigentes que tanto mudam?

Mas não seria justo só culpar o técnico e a CBF. Falemos também dos jogadores. É claro que temos Vini Jr que sabe o que faz, mas faz melhor quando tem para quem passar a bola, sozinho é tipo andorinha solitária, sem verão. Lucas Paquetá até que não foi mal, considerando os sérios problemas extracampo com graves acusações. É verdade que temos o Endrick, menino revelação, mas o menino só foi escalado nos últimos minutos e assim não conseguiu mostrar o talento precoce. E o Militão, sempre tão festejado, grande jogador no Real Madrid, perdeu o primeiro pênalti anunciando o fracasso seguinte, também pudera, recupera-se de grave lesão e talvez nem devesse compor o time. Os demais foram medíocres justificando placares assustadores: Brasil versus Costa Rica 0 X 0 (inacreditável); Brasil versus Paraguai 4 X 1; Brasil versus Colômbia 1 X 1 (também inacreditável). Em relação ao Paraguai há de se dizer alguma coisa, pois além de ser exceção na série, sempre que batemos de goleada, uma espécie de memória dos dias vitoriosos nos ilude como nos velhos tempos e daí para a derrocada é um passo. E não deu outra.

Há três décadas perdemos Ayrton Senna; parece que foi ontem

Mas não é só de seleção que devemos falar. Não mesmo. Como anda o resto? O que sobra é mesmo migalhas amanhecidas. Nossos melhores são negociados para fora e a peso de ouro. É lógico que merecem e se destacam com louvor – é o caso do Vini Jr – mas a relação com o futebol brasileiro fica prejudicada. De certa forma, viramos uma espécie de seleiro para os grandes europeus que, sem dúvida alguma, passam a nos ensinar como jogar modernamente. Sim, admitamos nosso futebol enrugou. Dúvidas? Basta olhar as tabelas dos campeonatos correntes. Sim, é verdade que lá em cima estão alguns clássicos nacionais como o Flamengo, o Palmeiras, o São Paulo e o reabilitado Botafogo, mas na parte inferior, com toda humilhação times gloriosos como o Corinthians, Fluminense, Grêmio. Frente a triste realidade, com medo do futuro, temo também reeditar o sucesso da peça teatral que faz viva a “noite dos campeões”.