Um golpe milionário na maior empresa brasileira quase passa batido, apesar de veiculado pelo Jornal Nacional de terça-feira, 02. Em apenas alguns minutos, especialistas do mercado financeiro agiram com informações privilegiadas (insider trading) e levaram um troco de R$ 18 milhões no final da tarde de 18 de fevereiro. A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) detectou que as compras foram realizadas fora dos padrões. Mais detalhes AQUI.
Curiosidade: na sequência, o presidente anunciou em live para seus correligionários que “alguma coisa ia acontecer com a Petrobrás”, a demissão do presidente da empresa devidamente camuflada pelo aumento do preço dos combustíveis que teria provocado o “descontentamento” dos caminhoneiros de sua base eleitoral.
Em minutos, insider trading levam milhões; Bolsonaro sabia?
Mais uma aberração do presidente? Há indícios que Bolsonaro apenas segue as orientações que constam na cartilha que Steve Bannon produziu para a vitoriosa campanha de Donald Trump. Por exemplo, o personagem (candidato ou autoridade) deve dar declarações polêmicas ou agir diariamente, por mais absurdas que sejam. Objetivo: disputar espaço nos noticiários. O tempo/espaço que a imprensa gastar com isso ela deixará de veicular notícias críticas que afetam o desempenho do personagem/autoridade.
As declarações do presidente no Triângulo Mineiro não seriam apenas destemperos. Elas serviram para lançar névoas sobre o noticiário pesado que predomina nos últimos dias: recorde mortes pela covid 19, a situação da Petrobrás, a compra de uma mansão em Brasília (“apenas um negócio de compra e venda”) pelo filho senador e de quebra a “ameaça” dos caminhoneiros.
Os fatos dos últimos 26 meses indicam que se trata de mais um teste sobre os limites das instituições e assim calibrar discursos e manifestações.
Na Petrobrás, os cinco conselheiros não indicados pelo governo não querem ser reconduzidos ao conselho da empresa na próxima Assembleia Geral. Eles tentam escapar do efeito Orloff vivido pela direção da Petrobrás no governo de Dilma Rousseff, descrito pela reportagem de Malu Gaspar no O Globo de hoje (ler AQUI. Malu é jornalista e autora da obra prima “A Organização – A Odebrecht e o Esquema de Corrupção que Chocou o Mundo”. Mais de 700 páginas. Leitura obrigatória.
O dia a dia da política nacional aponta para uma situação imprevisível, por enquanto. Sem partidos políticos e lideranças representativos só restam perguntas. E nenhum indício de respostas razoavelmente consistentes.
Na área sanitária, a falta de coordenação e direção tem deixado a população angustiada e desinformada. Não fosse a tragédia provocada pela pandemia, o papel do governo Bolsonaro já faz parte do anedotário internacional. Tragédia provocada pelo presidente cujo negacionismo o levou a nomear um general como ministro da Saúde e cumprir rigorosamente as ordens do capitão. A população de Manaus, até o momento, foi a mais castigada por essa política anticiência.
No campo político, depois de sofrer derrotas no Congresso Nacional, abandonou a “nova política” pregada durante da campanha eleitoral de 2018 e curvou-se ao centrão e às faturas que lhe são apresentadas diariamente. Apesar de ter sido um membro do centrão, parece que se esqueceu que esse grupo não tem qualquer compromisso ético. Se os equipamentos meteorológicos políticos apontarem qualquer indício de mudança de vento com certeza o centrão estará à sua espera na outra margem.
Caminhoneiros seriam usados como massa de manobra de Bolsonaro?
Os militares são uma incógnita. Nunca essa corporação teve tanta força e poder. General Villas Boas foi um dos principais articuladores e avalista do golpe que destituiu Dilma Rousseff e impediu a libertação de Lula que disputaria a presidência com Lula. Bolsonaro já explicitou em várias ocasiões que Villas Boas é um dos responsáveis pela sua eleição. General Santos Cruz, talvez o mais profissional dessa geração fardada e respeitadíssimo pelos seus pares e pela tropa, transformou-se em crítico mordaz pelo desgoverno do qual fez parte durante o primeiro semestre de 2019.
Na economia também pairam dúvidas no horizonte. Paulo Guedes está literalmente desmoralizado. Sua proposta liberal encalhou quando Bolsonaro assumiu. E o desgaste provocado pela demissão do presidente da Petrobrás ainda não cessou. Seus principais assessores já abandonaram o barco. As prometidas privatizações ainda não passam de promessas. Em todo balanço que apresenta, os verbos são conjugados no futuro.
Semana que vem as faturas deverão ser apresentadas. O mês de março promete.