Com tanta facilidade para operar, surge um novo e promissor mercado para seus negócios: o Brasil
As milícias nasceram modestas. Eram policiais e bombeiros empenhados em combater por conta própria o tráfico em comunidades da Zona Oeste do Rio. Vendo-se prestigiados pelos cidadãos, dedicaram-se à oferta de “serviços” de combustível, transporte e comunicações. Com a adesão de civis, passaram a vender “proteção” contra violências perpetradas por eles próprios. E, agora, aderiram à venda das drogas que diziam combater. Devido à grande rentabilidade, suas atividades se tornaram de risco, sujeitas a divergências pontuais com milícias concorrentes, traficantes profissionais e até com sua eventual aliada, a polícia.
Tais querelas não são dirimidas ao redor de mesas de mogno, mas em locais ermos e inesperados, ideais para emboscadas, execuções e chacinas. Isso exige a posse de considerável arsenal e, como nos negócios tradicionais, um contato amistoso com o fornecedor, seja quem for. O principal mercado das milícias é o Rio. Mas o Rio não fabrica a matéria-prima que lhes dá sustentação: as armas.
Ao contrário, todos os fabricantes ficam longe. As Forjas Taurus, das maiores do mundo em armas leves e pesadas, têm sede em São Leopoldo (RS). A CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos), que detém o monopólio da produção de munição militar e para segurança pública, em Ribeirão Pires (SP). E a estatal Imbel (Indústria de Material Bélico do Brasil), abastecedora de armas portáteis, munição e explosivos para o Exército, no DF, com sua unidade de produção de grosso calibre em Juiz de Fora (MG).
O Rio, servido por milicianos vindos de todos os estados, é apenas o escoamento disso e sua infeliz vitrine. Mas só por enquanto. Com a facilidade para desviar armas do Exército, tratar as fronteiras estaduais como peneiras e adquirir toda espécie de material bélico sob os narizes oficiais, as milícias descobriram que há um novo e promissor mercado a explorar.
O Brasil.