Qual seria a primeira palavra de uma crônica?
Sabe, é difícil a vida de cronista. Primeiro, existem as regras da crônica: textos pequenos, bem humorados, capazes de motivar e comover leitores em lances rápidos. Há segredos inscritos na aparente soltura das crônicas. Muitos. O título, por exemplo, deve ser provocante e a primeira frase tem que sugerir continuidade. A articulação dos argumentos deve se fazer lógica, mas sem arrogância e, além de tudo, caber em síntese clara e sequente. Tem mais, o texto sempre há de promover um resultado leve e de absorção simples, algo que permita o leitor, ao final, dizer “valeu a pena”. E tudo se complica quando o ser metido a cronista (eu) é um prolixo compulsório, apreciador de orações enunciadas na ordem indireta, meio barroco mesmo. Mas, obstinado que sou, sigo a trilha da pretensão e me meto a escrevinhador semanal. Aliás, um dos méritos da crônica é fazer o cronista conhecido pelo estilo. Audácia bem sei, pois em terra de grandes cronistas (Drummond, Rubem Braga, Veríssimo, Sabino…) me aventuro como aprendiz de feitiçaria.
Sei bem que a insistência me obriga exigir alguma resignação dos leitores que teimam em me acompanhar – muito obrigado, não sei o que seria de minha vida de escritor sem essa colaboração. De toda forma, não resisto perpetrar minhas mal traçadas linhas como quem pede a Deus seguidores. Imaginem como sou teimoso: caminho para mil crônicas publicadas e com a mesma timidez de antes patino na faixa de largada.
Carlos Drummond de Andrade, um dos cronistas mas importantes na vida de Mestre Sebe
Devo dizer que há algo mais na busca de resultados positivos: a vontade de me comunicar, de dizer para o mundo que ainda estou tentando e que espero um porvir melhor. Aprendi ao longo do tempo que tem que haver um alento contido nas minhas mensagens, algo de esperança e de testemunha participativa nas transformações do mundo. Isso, pois, implica aproveitar as oportunidades do fim deste ano tão fatal, e para tanto parti para o “Tio Google” e lá achei algumas pérolas que fio no colar do devaneio conveniente ao fechamento deste 2020. E vejam o que tomo emprestado:
Preste atenção em 2021, o que engorda não é o que você come entre o Natal e o Ano Novo… é o que você come entre o Ano Novo e o Natal!…
Que em 2021 minha condição financeira entre em sintonia com minha alma de banqueiro.
Já tenho planos para 2021 e, para realizar tudo, só preciso ganhar na Mega-Sena da virada!
Se eu ganhar na Mega-Sena da virada, com certeza, eu divido com vocês… a alegria!
Querido amigo, se você fica feliz, eu fico feliz. Se você fica triste, eu fico triste. Se chora, choro junto. Então, em 2021, por favor, fique rico!
Este ano cansei de ser chato, em 2021 vou ser insuportável! É uma questão de superação!!
Está chegando o Ano Novo e eu ainda não sei que cor de roupa serve para disfarçar a gordura e ganhar massa em 2021!
Sei que não é fácil começar 2021 desejando boa vacinação a todos, mas recomendo porque ela imuniza contra o vírus e contra o governo.
Em 2022 eu dou um jeito na minha vida, 2021 já está muito em cima e eu ainda estou confinado…
Se eu ganhar na mega sena divido a alegria com vocês
O melhor de 2021 é pensar que 2022 tem eleição.
Que em 2021 ano você encontre felicidade, saúde, amor, dinheiro, paz e tudo mais que precisar. E o que não encontrar… procure no Google!
Meta para 2021: matricular meu cupido em uma escola de arco e flechas!
Minha meta para 2021 é cumprir as metas de 2020 que deveriam ter sido cumpridas em 2019!
Todos falando que vão passar o Ano Novo com tal cor de roupa… E se eu quiser passar pelado, o que significa?
“A vida é feita de escolhas”. Engraçado que em 2020 eu escolhi ser rico e até agora nada.
As festas de fim de ano passam… o peso e as dívidas ficam.
Se chorei ou se sorri… o importante é que em 2020 eu bebi!
Vou comprar um caminhão! Estão todos dizendo que vai ser um ano de mudanças, vou ficar rico fazendo frete.
Se chovesse felicidade, eu te desejaria uma tempestade. Feliz Ano Novo!
Se o papai-noel não vier por conta do confinamento e do risco, que o Queiroz faça suas vezes com a mesma generosidade que atende à família do presidente.
Gotas de sabedoria, não?! Assim me despeço deste ano com uma crônica que quis ser sutil, fluida e bem humorada, desejando que o medo se fantasie de esperança e promova um carnaval de alegrias cotidianas. Desejo a todos uma boa dose de bom-humor e, se Deus, as deusas, os orixás e encantados permitirem comprometo-me a me esforçar para isto, cronicamente.