Ao convocar atos a favor do governo, o bolsonarismo tenta emparedar o Congresso e o STF. Ontem (20) o presidente disse que a classe política é o “grande problema” do país
Jair Bolsonaro quer confronto. Ontem ele afirmou que a classe política é o “grande problema” do país. Seus aliados organizam marchas a favor do governo para o domingo. A julgar pelas convocações, a ideia é incitar as massas contra o Congresso e o Supremo.
A aposta na radicalização está clara. Resta saber se terá os efeitos desejados. A popularidade do presidente não é mais a mesma. Além disso, setores que o apoiaram na campanha têm se distanciado, com medo de uma guinada autoritária.
O presidente da comissão da reforma da Previdência, Marcelo Ramos, diz estar certo de que Bolsonaro arma uma “cilada”. “O problema dele não é com o Congresso nem com o centrão. É com a democracia e com as instituições”, acusa.
“O desapreço do presidente pela democracia não é um fato novo. É marca de toda a trajetória dele”, prossegue o deputado. “Pensei que a grandeza do cargo fosse colocá-lo à altura de ocupá-lo, mas isso não aconteceu”.
Filiado ao PR, Ramos aponta incoerência nas declarações presidenciais. “É surreal que alguém que vive da política há 28 anos, que botou a família inteira na política, agora diga que apolítica não presta ”, critica.
Janaína Paschoal não concorda com a manifestação convocada para domingo
“Parece que ele quer transformar o Brasil numa Venezuela, com protestos todo dia, contra e a favor do governo. O presidente quer dividira sociedade em dois lados, quando a maioria está no meio”, acrescenta.
O deputado lembra que os parlamentares acusados de conspirar contra a vontade das urnas também foram eleitos pelo povo. Nas contas dele, o Planalto está longe de ter os votos necessários para aprovar a reforma. “O governo tem 54 votos do PSL, se eles não estiverem brigando. Com mais oito do Novo, chega a 62. Para mexer na Constituição, vai precisar de 308”, observa.
A radicalização presidencial tem produzido situações inusitadas. A deputada Janaína Paschoal, por exemplo, passou a soar como uma moderada. No fim de semana, a doutora tentou convencer os bolsonaristas a desistir das passeatas. “Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações! Raciocinem! Eu só peço o básico!”, apelou. É possível que tenha pedido demais.